quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Tragédia: Grande Dyonisia ou Urbana (Parte 2)

O festival era propriamente internacional, atraindo milhares de habitantes para a cidade durante uma semana, o que movimentava a economia da cidade. As despesas para um só dia das dionisíacas poderia ser estimado, atualmente, em vultosos milhões de dólares ou equivalente a 3% das receitas públicas anuais da cidade. Isso não mudou radicalmente no século IV, quando Atenas perdera seu império.

Quem financia é o khorêgos ("líder do coro"), através de um tipo de imposto (litourgeia) por meio da taxação sobre os mais ricos da cidade. Ele poderia oferecer sua casa ou alugar um ginásio para os ensaios do coro: a elite gastava muito para a sua própria honra.

Em agosto, o arconte epônimo (mandato de um ano) escolhia três khorêgoi para as tragédias, sendo o único critério sua riqueza (o 1 % da população); e também cinco khorêgoi para as comédias. Aos 23 anos, Péricles foi khorêgos da produção da tetralogia que inclui Persas de Ésquilo. Os três dramaturgos que competiriam durante seis meses eram atribuídos aos khorêgoi posto sorteio, assim como os auletas, o que indica seu prestígio e importância na performance.

Atores: no início apenas um (o próprio dramaturgo). Lembremos que o mesmo ator, por conta do uso de máscaras e figurinos, normalmente representava mais de um papel. Ésquilo introduziu o uso do segundo ator e Sófocles, do terceiro. Os protagonistas eram bem pagos.

Figurantes: os atores e o coro provavelmente não recebiam um script.

Coro: composto apenas por atenienses, geralmente homens jovens, que, durante o tempo dos ensaios, eram dispensados das atividades militares.

A cidade forneceu, em certas épocas, um "auxilio-teatro" (theorikôn) para auxiliar aqueles com menos recursos com as despesas relacionadas aos custos do ingresso. Alguns tinham assento livre por determinação de decreto. Para nós, do mundo contemporâneo, a cobrança de ingresso parece normal, mas, como se tratava de um evento religioso, o pagamento foi uma novidade no mundo grego.

Aspectos da performance:

Orkhêstra, "lugar da dança": espaço onde se representavam o coro e os atores. Duas entradas longas, laterais (paradoi - eisodoi) encontram-se nos lados esquerdo e direito. Atrás, uma construção que compõe um cenário (skênê) com uma grande porta que também podia ser usada para entrada e saída. No século V, é provável que a orquestra tenha sido quadrangular.

Aquilo que sabemos da tragédia grega vem, sobretudo, de dramas de tragediógrafos, dos quais temos mais ou menos 10% do que foi provavelmente composto. Houve muitas dezenas de outros em Atenas.

Semelhança entre tragédias/dramas satíricos e comédias estavam no uso de fantasias e máscaras, do coro, que dança, canta e é acompanhado por um auleta. Semelhanças são superficiais, na tragédia:

- cenário: geralmente um palácio (às vezes, templo, cabana, caverna);

- figurino: "rico";

- máscaras: mais naturais (diferença principal, gênero e idade);

- coro: doze membros, depois quinze (Sófocles);

- conteúdo: o passado heróico, a idade dos heróis, uma época em que homens e deuses estavam mais próximos e os homens eram mais poderosos que os do presente. Tempo passado e, geralmente, lugares distantes.

Pode se defender que a escala e o sucesso do investimento ateniense na tragédia teve um enorme impacto na diversidade genérica da cultura poética grega, colaborando para o declínio de muitas outras formas de gêneros.

Teatro, mito e democracia: segundo Vernant, o teatro olha para o passado mítico com olhos de cidadão. As instituições políticas não são exatamente as mesmas do público contemporâneo, mas a homólogas. O mundo do drama não é totalmente estranho. Os próprios espectadores podem fazer a conexão com o presente (alguns anacronismos; etiologias religiosas).

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