terça-feira, 1 de outubro de 2024

Pirâmide hierárquica das necessidades de Maslow - Parte 1

Hierarquia das necessidades

por Edu B.

Antes de entrarmos na discussão propriamente dita, que envolve os dois artigos, convém-nos reportarmos a um brevíssimo preâmbulo, a título de ilustração, dos aspectos mais gerais das ideias que notabilizaram a psicologia de Maslow.

A teoria da motivação humana ou da hierarquia das necessidades se tornou muito conhecida com a clássica figura da pirâmide disposta em cinco níveis coloridos. Partindo-se do pressuposto de que as necessidades humanas tendem a ser satisfeitas por um comportamento motivado, a base da pirâmide representa as necessidades consideradas mais vitais para a sobrevivência de um ser humano, como a alimentação, o sono, a respiração etc., as quais quando satisfeitas ensejam um escalar para o nível mais alto, de maior complexidade, como a necessidade de abrigo, proteção etc., e assim por diante, até chegar ao topo. Deste modo, a pirâmide estabelece cinco níveis hierárquicos de necessidades, a saber, fisiológicas; segurança; afiliação ou de pertença e amor; estima; e, por fim, autorrealização ou autoatualização.

Com base nesse esquema geral, esboçado acima, podemos aprofundar mais os conceitos da teoria, tomando por referência os dois artigos que inspiram o debate de nossa resenha crítica. A princípio, enfoquemos nos aspectos conceituais que os unem, pois seria interessante, a fim de esclarecimento, nos atentarmos aos elos comuns de ambas as proposições, ou seja, os conceitos de motivação e hierarquia das necessidades básicas, para então, munidos deste arcabouço teórico, pontuarmos as diferenças.

Motivação

O primeiro conceito importante na teoria de Maslow que devemos ter em vista é o de motivação, que pode ser definido como um conjunto de fatores que impulsionam o comportamento de um indivíduo para atingir um determinado fim. Sampaio (2009) argumenta que, para Maslow, “o indivíduo é um todo integrado e organizado” e que, por isso, pode desejar inúmeros objetos, a fim de obter alguma gratificação, já que as necessidades inserem-se não apenas no nível do organismo biológico como também na esfera cultural e social. Para corroborar tal concepção, conforme salientam os autores, Cavalcanti, Gouveia, Medeiros, Mariano, Moura e Moizéis (2019), a motivação emerge de necessidades não resolvidas e tem como mola propulsora duas forças: a privação, compreendida como uma “falta” que estimula o indivíduo a supri-la por diferentes meios e a gratificação de uma necessidade, que recompensa e estimula a emergência de um novo tipo de necessidade, geralmente mais sofisticada. Assim sendo, a motivação suscita uma série de necessidades básicas que podem ser hierarquizadas, de acordo com seu nível de complexidade, e classificadas gradativamente por inferiores e superiores.

Hierarquia das necessidades

Maslow (1954) postula que, a despeito da singularidade de cada ser humano, toda pessoa possui necessidades comuns e gerais que precisam ser satisfeitas. Portanto, a necessidade pode ser entendida como um certo desequilíbrio de uma dada situação envolvendo privação e, daí, motivar a supressão do estado de carência por meio de sua resolução. A privação de uma necessidade ativa um processo de compensação, por meio da gratificação, num escalar crescente que pressupõe diferentes níveis de necessidades básicas.

A partir dessa dinâmica, Maslow classificou as necessidades a partir de sua finalidade e desenvolveu um modelo em que as necessidades mais elementares, relacionadas à sobrevivência, dão subsídios, quando recompensadas, à geração de novas necessidades mais complexas, abstratas e de caráter espiritual. O modelo é composto, como já assinalado, por cinco níveis diferentes de necessidades, que são classificadas e hierarquizadas.

Deste modo, a teoria hierárquica das necessidades é frequentemente representada em forma de uma pirâmide dividida em cinco níveis distintos e gradativos, representando as necessidades inferiores na base e as necessidades superiores no topo, o que significa dizer que um indivíduo só pode alcançar de forma progressiva a sua plena realização satisfazendo todos os níveis hierárquicos. Feitas estas considerações, as necessidades são classificadas do seguinte modo:

Necessidades fisiológicas

São as de tipo biológico, compreendendo os impulsos, além da dinâmica de homeostase e de apetite (SAMPAIO, 2009). São as necessidades primordiais, porque são a base da autopreservação de um organismo e sua privação total poderia colocar em risco a sua sobrevivência física. Portanto, a respiração, a fome, a sede, o sono, a temperatura corporal são elencadas nessa categoria formando a base indispensável do modelo de Maslow. Um dado interessante neste quesito, apontado pelos autores Cavalcanti, Gouveia, Medeiros, Mariano, Moura e Moizéis (2019), é que, segundo pesquisas, pessoas que vivem em países pobres apresentam uma pontuação elevada em suas necessidades básicas, evidenciando uma relação estreita entre este nível e o desenvolvimento de uma sociedade. Veremos, mais abaixo, ao analisarmos o artigo de Sampaio, que a não satisfação de uma necessidade básica terá implicações decisivas no desenvolvimento ético e espiritual.

Necessidade de segurança

Se as necessidades fisiológicas forem relativamente satisfeitas, o indivíduo estará em condições de galgar a próxima etapa, a necessidade de segurança. De acordo com Sampaio, esse tipo de necessidade surge da “inexistência de ameaças percebidas no ambiente”. Ou seja, a necessidade de proteção como forma de garantir a sobrevivência diante dos perigos iminentes em um contexto ameaçador e de instabilidade. Evidentemente, a necessidade de abrigo aparece como a mais banal. No entanto, tal necessidade não se restringe apenas à moradia, mas também a estabilidade financeira, os cuidados com a saúde, o corpo, entre outros.

Necessidade de afiliação ou de pertença e amor

É a categoria imediatamente acima da necessidade de segurança e que abrange a troca de afetos, as relações pessoais, o amor, a amizade, proporcionando um sentimento de pertencimento e afiliação. Sampaio adverte, entretanto, que, embora a sexualidade envolva intimidade, esta não pode ser classificada nessa classe, pois o comportamento sexual se enquadra nas necessidades primordiais, de tipo fisiológico.

Necessidade de estima

É a quarta necessidade básica na hierarquia e pode ser definida através da imagem que uma pessoa possui de si mesma e de seu desejo de reconhecimento e receber estima de outras pessoas (SAMPAIO, 2009). Esta necessidade pode ser dividida então em dois subgrupos: o primeiro deles diz respeito à necessidade em que as pessoas individualmente têm de se sentir confiantes, por meio de realizações profissionais, do mérito por seus feitos, pela sua competência etc.; o segundo refere-se ao reconhecimento positivo advindo de terceiros, principalmente no que concerne à consideração, à reputação, ao prestígio, à dominância, ao status, entre outros. Quando relativamente satisfeita, a necessidade de estima promove uma valorização da autoimagem de um indivíduo; se frustrada, um sentimento de inferioridade e de desvalorização tende a prevalecer.

Necessidade de autorrealização ou autoatualização

Maslow estipula o nível mais elevado na hierarquia das necessidades, a autoatualização ou autoatualização, compreendida enquanto vocação ou aspiração para algo, potencializando talentos latentes e suas realizações. Segundo Sampaio, Maslow se alinha a pesquisadores, como Jung, que defendiam que “as pessoas têm um potencial interno que necessita tornar-se ato”. Cavalcanti, Gouveia, Medeiros, Mariano, Moura e Moizéis (2019) listam como características de pessoas autorrealizadas “a espontaneidade, a criatividade, a autonomia e a resistência à doutrinação”, entre outras.

Referências bibliográficas

Cavalcanti, T. M., Gouveia, V. V., Medeiros, E. D., Mariano, T. E., Moura, H. M., Moizéis, H. B. C. (2019). Hierarquia das necessidades de Maslow: Validação de um Instrumento. Psicologia: Ciência e Profissão, 39, 1-13.

Sampaio, J. R. O Maslow desconhecido: uma revisão de seus principais trabalhos sobre motivação,  R.Adm., São Paulo, v.44, n.1, p.5-16, jan./fev./mar. 2009.

Pirâmide hierárquica das necessidades de Maslow - Parte 2

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