Introdução: A força de um clássico do Realismo Naturalista
Publicado em 1890, O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, é uma das
obras mais importantes e emblemáticas da literatura brasileira, especialmente
no contexto do realismo-naturalismo, corrente que dominava a cena literária da
época. Considerado um marco do naturalismo no Brasil, o romance não apenas
rompeu com o idealismo romântico que havia predominado até então, mas também
introduziu uma visão mais científica e crua da sociedade, influenciada por
teorias deterministas e pelas ideias do evolucionismo de Charles Darwin.
A narrativa é marcada por um estilo direto, quase impiedoso, que expõe
sem rodeios a degradação moral, física e psicológica dos personagens. Ao longo
da obra, Aluísio de Azevedo faz uso de descrições minuciosas para mostrar como
o meio — ou seja, o ambiente social e físico — molda o comportamento humano.
Elementos como pobreza, promiscuidade, violência e desigualdade são
apresentados com um realismo brutal, que incomoda e provoca o leitor.
O pano de fundo da história é o crescimento urbano do Rio de Janeiro no
final do século XIX, momento em que a cidade começava a atrair imigrantes e
trabalhadores pobres em busca de melhores condições de vida. No entanto, o que
encontravam eram cortiços superlotados, insalubres e marcados pela exploração,
o que reforça a crítica social presente em cada linha do romance. Aluísio
denuncia não só a miséria material, mas também a hipocrisia da sociedade da
época, evidenciada nas relações entre patrões e empregados, homens e mulheres,
brancos e negros.
Mais do que um simples enredo com início, meio e fim, O Cortiço é
uma representação simbólica de uma sociedade em transição — marcada pela
ascensão de novos ricos, pela decadência da aristocracia tradicional e pela
marginalização das classes populares. Cada personagem do romance funciona como
um tipo social, carregando características que ultrapassam o individual e
simbolizam estruturas maiores: João Romão representa o oportunismo do
capitalismo nascente; Bertoleza, a exploração da mulher negra no pós-abolição;
Miranda, a hipocrisia da elite conservadora.
Em termos estéticos, a obra também se destaca pela ousadia. O autor não
tem pudores ao retratar temas como sexualidade, alcoolismo, violência doméstica
e traição, o que, para a época, era revolucionário. Essa abordagem corajosa
confere à narrativa uma força impactante que ainda hoje impressiona leitores
contemporâneos.
Por isso, O Cortiço vai muito além de um romance sobre um espaço
habitacional degradado. É uma crítica contundente à estrutura social
brasileira, que questiona valores morais e denuncia injustiças históricas que
continuam reverberando nos dias atuais. Sua leitura é fundamental para
compreender não apenas a literatura brasileira, mas também as raízes de muitas
das desigualdades que ainda persistem no país.
Neste artigo, você vai conhecer os principais elementos dessa
obra-prima, entender por que ela é considerada um marco do naturalismo
brasileiro e descobrir respostas para perguntas comuns sobre o livro.
Prepare-se para mergulhar em uma literatura sem filtros, onde a miséria, o
desejo e o instinto se misturam em um retrato intenso e incômodo da condição
humana.
O que é O Cortiço? Entendendo o contexto e a proposta do romance
A origem da obra
Aluísio de Azevedo escreveu O Cortiço em uma fase em que o Brasil
passava por grandes transformações: o fim da escravidão, o crescimento urbano,
a imigração europeia e o fortalecimento da burguesia. Esses elementos servem de
pano de fundo para a construção do enredo e da ambientação do livro.
Um romance naturalista
O romance está inserido no movimento naturalista, vertente do realismo
que se caracteriza pela ênfase nos instintos, na hereditariedade e no
determinismo. Aluísio de Azevedo foi um dos primeiros escritores brasileiros a
adotar essa estética de forma plena, influenciado por autores europeus como
Émile Zola.
No naturalismo, o ser humano é retratado como um produto do meio e da
biologia. As ações das personagens em O Cortiço não são fruto apenas de
suas vontades, mas da influência direta do ambiente em que vivem — o cortiço,
espaço de miséria, promiscuidade e conflitos sociais.
Enredo de O Cortiço: um mosaico da sociedade brasileira
A narrativa gira em torno de dois núcleos principais: o cortiço,
pertencente a João Romão, e a casa ao lado, de Miranda, representante da elite
tradicional.
João Romão: o retrato do novo rico
João Romão é um ex-caixeiro português que enriquece com trabalho árduo,
ambição e esperteza. Sua ascensão econômica é acompanhada por atitudes cada vez
mais desumanas. Ele explora os moradores do cortiço, reprime desejos pessoais e
tenta a todo custo alcançar status social, casando-se com a filha de Miranda.
Bertoleza: símbolo da exploração
A personagem Bertoleza é uma mulher negra, ex-escravizada, que vive com
João Romão. Ela representa a exploração da mulher negra no pós-abolição:
submissa, trabalhadora, e descartada quando não serve mais aos interesses do
protagonista.
O cortiço como protagonista coletivo
Mais do que um espaço físico, o cortiço é um personagem coletivo. Nele
vivem tipos variados — trabalhadores, imigrantes, prostitutas, alcoólatras —
que expressam as tensões sociais e raciais do período. A massa humana é movida
por instintos básicos e reage coletivamente às mudanças no ambiente.
Temas principais de O Cortiço
1. Determinismo e hereditariedade
O naturalismo vê o comportamento humano como condicionado pelo ambiente
e pela biologia. Em O Cortiço, os personagens são "vítimas" do
meio em que vivem: a degradação moral e física surge da convivência diária com
a miséria e o excesso.
2. Desigualdade social
A obra mostra, de forma brutal, a distância entre classes sociais. A
convivência entre o cortiço e a casa de Miranda evidencia o abismo entre pobres
e ricos, enquanto João Romão representa a figura do burguês emergente que
oprime para ascender.
3. Racismo e preconceito
Aluísio não poupa críticas às estruturas racistas da sociedade.
Bertoleza, negra e marginalizada, é o exemplo mais evidente disso. Ao final da
narrativa, é descartada de forma trágica — uma crítica à sociedade que exalta a
branquitude e marginaliza os corpos negros.
4. Sexualidade e repressão
Os desejos sexuais são recorrentes na narrativa, tratados como forças
naturais incontroláveis. Em contraponto, personagens como João Romão tentam
reprimir seus impulsos em nome da ascensão social, gerando conflitos internos e
sociais.
Estilo de escrita e linguagem de Aluísio de Azevedo
A linguagem de O Cortiço é direta, descritiva e crua. O narrador
é onisciente e objetivo, frequentemente fazendo comentários críticos ou
irônicos. Azevedo constrói cenas vívidas e sensoriais, capazes de provocar
reações intensas no leitor.
O detalhismo é uma das marcas do naturalismo, e em O Cortiço isso
se revela na descrição minuciosa dos ambientes, dos corpos e das ações. Tudo é
exposto sem pudor — das relações sexuais à degradação física e moral dos
personagens.
Por que O Cortiço ainda é tão atual?
Apesar de ter sido escrito no século XIX, O Cortiço continua
relevante. A crítica à desigualdade, à exploração do trabalhador, ao racismo
estrutural e à hipocrisia das elites brasileiras ressoa até os dias de hoje.
Além disso, a obra antecipa discussões contemporâneas sobre a força do
ambiente na formação dos indivíduos, o papel da mulher na sociedade e os
efeitos da marginalização social.
Perguntas frequentes sobre O Cortiço
Qual é o gênero literário de O Cortiço?
O romance pertence ao naturalismo, uma vertente do realismo,
marcada pelo cientificismo, pelo determinismo e pela animalização das
personagens.
Qual é a principal crítica social feita por Aluísio
de Azevedo?
A obra critica a desigualdade social, a hipocrisia burguesa,
o racismo e a exploração do trabalhador, além de abordar a
repressão dos desejos humanos.
Quem é o verdadeiro protagonista de O Cortiço?
Apesar de João Romão ter papel central, o verdadeiro protagonista é o cortiço
como espaço coletivo, onde se desenrola a trama e onde todos os personagens
são afetados e transformados.
Por que O Cortiço é considerado um clássico?
Pela originalidade na abordagem do naturalismo no Brasil, pela crítica
social contundente e pela força estética da narrativa, O Cortiço é
considerado uma das obras-primas da literatura brasileira.
Conclusão: A atualidade pungente de O Cortiço
O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, não é apenas um retrato do
Brasil do século XIX — é um espelho de questões sociais ainda urgentes. Com uma
linguagem intensa e personagens marcantes, o romance evidencia a força do
ambiente sobre o ser humano, escancara as desigualdades e provoca reflexões
profundas sobre a sociedade.
Ler O Cortiço é, portanto, mais do que um exercício literário: é
um mergulho corajoso nas contradições e misérias de um país que ainda luta para
superar seus fantasmas históricos.
*****
Contribua para a
continuidade deste projeto de divulgação literária. Ao comprar qualquer produto
acessando nosso link de Associado Amazon ou adquirir um desses títulos na
Amazon através de um dos links listados, você não apenas enriquece sua vida com
o tesouro mais valioso da humanidade, a cultura, mas também nos ajuda a seguir
em frente. Recebemos sem que o preço do produto seja alterado uma pequena
comissão por cada compra, que é fundamental para mantermos nosso trabalho
constante e ativo.
Associado Amazon (link patrocinado).
Títulos:
O Cortiço, por
Aluísio de Azevedo. (Link patrocinado).
O Alquimista, por Paulo Coelho. (Link patrocinado).
O morro dos ventos uivantes, por Emily Brontë. (Link patrocinado).
1984, por George Orwell. (Link patrocinado).
![]() |
Patrocinado |
Nenhum comentário:
Postar um comentário