quarta-feira, 9 de abril de 2025

O Cortiço, de Aluísio de Azevedo: Realismo Cru e Crítica Social no Brasil do Século XIX

Imagem ilustrativa de um cortiço no século XIX, retratando uma construção simples e deteriorada, com paredes descascadas e roupas penduradas em varais. Moradores de diferentes origens — homens, mulheres e crianças — convivem em um espaço apertado, expressando cansaço, rotina e sobrevivência. A cena reflete o cotidiano marcado pela pobreza, promiscuidade e intensa interação social, como descrito no romance O Cortiço, de Aluísio de Azevedo.

 Introdução: A força de um clássico do Realismo Naturalista

Publicado em 1890, O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, é uma das obras mais importantes e emblemáticas da literatura brasileira, especialmente no contexto do realismo-naturalismo, corrente que dominava a cena literária da época. Considerado um marco do naturalismo no Brasil, o romance não apenas rompeu com o idealismo romântico que havia predominado até então, mas também introduziu uma visão mais científica e crua da sociedade, influenciada por teorias deterministas e pelas ideias do evolucionismo de Charles Darwin.

A narrativa é marcada por um estilo direto, quase impiedoso, que expõe sem rodeios a degradação moral, física e psicológica dos personagens. Ao longo da obra, Aluísio de Azevedo faz uso de descrições minuciosas para mostrar como o meio — ou seja, o ambiente social e físico — molda o comportamento humano. Elementos como pobreza, promiscuidade, violência e desigualdade são apresentados com um realismo brutal, que incomoda e provoca o leitor.

O pano de fundo da história é o crescimento urbano do Rio de Janeiro no final do século XIX, momento em que a cidade começava a atrair imigrantes e trabalhadores pobres em busca de melhores condições de vida. No entanto, o que encontravam eram cortiços superlotados, insalubres e marcados pela exploração, o que reforça a crítica social presente em cada linha do romance. Aluísio denuncia não só a miséria material, mas também a hipocrisia da sociedade da época, evidenciada nas relações entre patrões e empregados, homens e mulheres, brancos e negros.

Mais do que um simples enredo com início, meio e fim, O Cortiço é uma representação simbólica de uma sociedade em transição — marcada pela ascensão de novos ricos, pela decadência da aristocracia tradicional e pela marginalização das classes populares. Cada personagem do romance funciona como um tipo social, carregando características que ultrapassam o individual e simbolizam estruturas maiores: João Romão representa o oportunismo do capitalismo nascente; Bertoleza, a exploração da mulher negra no pós-abolição; Miranda, a hipocrisia da elite conservadora.

Em termos estéticos, a obra também se destaca pela ousadia. O autor não tem pudores ao retratar temas como sexualidade, alcoolismo, violência doméstica e traição, o que, para a época, era revolucionário. Essa abordagem corajosa confere à narrativa uma força impactante que ainda hoje impressiona leitores contemporâneos.

Por isso, O Cortiço vai muito além de um romance sobre um espaço habitacional degradado. É uma crítica contundente à estrutura social brasileira, que questiona valores morais e denuncia injustiças históricas que continuam reverberando nos dias atuais. Sua leitura é fundamental para compreender não apenas a literatura brasileira, mas também as raízes de muitas das desigualdades que ainda persistem no país.

Neste artigo, você vai conhecer os principais elementos dessa obra-prima, entender por que ela é considerada um marco do naturalismo brasileiro e descobrir respostas para perguntas comuns sobre o livro. Prepare-se para mergulhar em uma literatura sem filtros, onde a miséria, o desejo e o instinto se misturam em um retrato intenso e incômodo da condição humana.

O que é O Cortiço? Entendendo o contexto e a proposta do romance

A origem da obra

Aluísio de Azevedo escreveu O Cortiço em uma fase em que o Brasil passava por grandes transformações: o fim da escravidão, o crescimento urbano, a imigração europeia e o fortalecimento da burguesia. Esses elementos servem de pano de fundo para a construção do enredo e da ambientação do livro.

Um romance naturalista

O romance está inserido no movimento naturalista, vertente do realismo que se caracteriza pela ênfase nos instintos, na hereditariedade e no determinismo. Aluísio de Azevedo foi um dos primeiros escritores brasileiros a adotar essa estética de forma plena, influenciado por autores europeus como Émile Zola.

No naturalismo, o ser humano é retratado como um produto do meio e da biologia. As ações das personagens em O Cortiço não são fruto apenas de suas vontades, mas da influência direta do ambiente em que vivem — o cortiço, espaço de miséria, promiscuidade e conflitos sociais.

Enredo de O Cortiço: um mosaico da sociedade brasileira

A narrativa gira em torno de dois núcleos principais: o cortiço, pertencente a João Romão, e a casa ao lado, de Miranda, representante da elite tradicional.

João Romão: o retrato do novo rico

João Romão é um ex-caixeiro português que enriquece com trabalho árduo, ambição e esperteza. Sua ascensão econômica é acompanhada por atitudes cada vez mais desumanas. Ele explora os moradores do cortiço, reprime desejos pessoais e tenta a todo custo alcançar status social, casando-se com a filha de Miranda.

Bertoleza: símbolo da exploração

A personagem Bertoleza é uma mulher negra, ex-escravizada, que vive com João Romão. Ela representa a exploração da mulher negra no pós-abolição: submissa, trabalhadora, e descartada quando não serve mais aos interesses do protagonista.

O cortiço como protagonista coletivo

Mais do que um espaço físico, o cortiço é um personagem coletivo. Nele vivem tipos variados — trabalhadores, imigrantes, prostitutas, alcoólatras — que expressam as tensões sociais e raciais do período. A massa humana é movida por instintos básicos e reage coletivamente às mudanças no ambiente.

Temas principais de O Cortiço

1. Determinismo e hereditariedade

O naturalismo vê o comportamento humano como condicionado pelo ambiente e pela biologia. Em O Cortiço, os personagens são "vítimas" do meio em que vivem: a degradação moral e física surge da convivência diária com a miséria e o excesso.

2. Desigualdade social

A obra mostra, de forma brutal, a distância entre classes sociais. A convivência entre o cortiço e a casa de Miranda evidencia o abismo entre pobres e ricos, enquanto João Romão representa a figura do burguês emergente que oprime para ascender.

3. Racismo e preconceito

Aluísio não poupa críticas às estruturas racistas da sociedade. Bertoleza, negra e marginalizada, é o exemplo mais evidente disso. Ao final da narrativa, é descartada de forma trágica — uma crítica à sociedade que exalta a branquitude e marginaliza os corpos negros.

4. Sexualidade e repressão

Os desejos sexuais são recorrentes na narrativa, tratados como forças naturais incontroláveis. Em contraponto, personagens como João Romão tentam reprimir seus impulsos em nome da ascensão social, gerando conflitos internos e sociais.

Estilo de escrita e linguagem de Aluísio de Azevedo

A linguagem de O Cortiço é direta, descritiva e crua. O narrador é onisciente e objetivo, frequentemente fazendo comentários críticos ou irônicos. Azevedo constrói cenas vívidas e sensoriais, capazes de provocar reações intensas no leitor.

O detalhismo é uma das marcas do naturalismo, e em O Cortiço isso se revela na descrição minuciosa dos ambientes, dos corpos e das ações. Tudo é exposto sem pudor — das relações sexuais à degradação física e moral dos personagens.

Por que O Cortiço ainda é tão atual?

Apesar de ter sido escrito no século XIX, O Cortiço continua relevante. A crítica à desigualdade, à exploração do trabalhador, ao racismo estrutural e à hipocrisia das elites brasileiras ressoa até os dias de hoje.

Além disso, a obra antecipa discussões contemporâneas sobre a força do ambiente na formação dos indivíduos, o papel da mulher na sociedade e os efeitos da marginalização social.

Perguntas frequentes sobre O Cortiço

Qual é o gênero literário de O Cortiço?

O romance pertence ao naturalismo, uma vertente do realismo, marcada pelo cientificismo, pelo determinismo e pela animalização das personagens.

Qual é a principal crítica social feita por Aluísio de Azevedo?

A obra critica a desigualdade social, a hipocrisia burguesa, o racismo e a exploração do trabalhador, além de abordar a repressão dos desejos humanos.

Quem é o verdadeiro protagonista de O Cortiço?

Apesar de João Romão ter papel central, o verdadeiro protagonista é o cortiço como espaço coletivo, onde se desenrola a trama e onde todos os personagens são afetados e transformados.

Por que O Cortiço é considerado um clássico?

Pela originalidade na abordagem do naturalismo no Brasil, pela crítica social contundente e pela força estética da narrativa, O Cortiço é considerado uma das obras-primas da literatura brasileira.

Conclusão: A atualidade pungente de O Cortiço

O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, não é apenas um retrato do Brasil do século XIX — é um espelho de questões sociais ainda urgentes. Com uma linguagem intensa e personagens marcantes, o romance evidencia a força do ambiente sobre o ser humano, escancara as desigualdades e provoca reflexões profundas sobre a sociedade.

Ler O Cortiço é, portanto, mais do que um exercício literário: é um mergulho corajoso nas contradições e misérias de um país que ainda luta para superar seus fantasmas históricos.

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Títulos:

O Cortiço, por Aluísio de Azevedo. (Link patrocinado).

O Alquimista, por Paulo Coelho. (Link patrocinado).

O morro dos ventos uivantes, por Emily Brontë. (Link patrocinado).

1984, por George Orwell. (Link patrocinado).

A Metamorfose, Franz Kafka. (Link patrocinado).

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