terça-feira, 15 de abril de 2025

Resumo: A Cidade e as Serras: o clássico de Eça de Queirós que confronta progresso e simplicidade

A ilustração apresenta uma forte dicotomia visual, dividida em duas metades distintas que representam os dois polos do romance "A Cidade e as Serras" de Eça de Queirós.  Do lado esquerdo, vemos a representação de uma cidade cosmopolita do século XIX. Caracteriza-se por edifícios altos e imponentes, com uma arquitetura que remete à época, possivelmente com detalhes clássicos e janelas iluminadas pela luz artificial. As ruas são movimentadas, sugerindo a agitação da vida urbana, com carruagens ou outros veículos da época visíveis. A atmosfera geral é de sofisticação, progresso e talvez um certo grau de artificialidade. As cores podem ser mais escuras e vibrantes devido à iluminação noturna ou ao contraste com o céu da cidade.  Do lado direito, contrasta uma paisagem serena e bucólica das serras de Portugal. Aqui, predominam os tons de verde das colinas e da vegetação exuberante. As serras ondulantes se estendem até o horizonte, transmitindo uma sensação de vastidão e tranquilidade. Pode haver elementos como casas rurais pitorescas, caminhos sinuosos e a presença da natureza intocada, como árvores, riachos ou campos cultivados de forma tradicional. A luz natural do dia ilumina a paisagem, criando uma atmosfera de paz, simplicidade e conexão com a terra.  A junção das duas imagens em uma única ilustração enfatiza o contraste fundamental entre a vida urbana moderna e o refúgio natural, tema central da obra de Eça de Queirós. Sugere a jornada do protagonista, Jacinto, entre esses dois mundos e a sua eventual redescoberta de um modo de vida mais autêntico e feliz nas serras. A ilustração convida o espectador a refletir sobre os valores associados a cada um desses ambientes e a busca por um equilíbrio.

 Introdução

Publicado postumamente em 1901, A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, é um dos romances mais simbólicos da virada do século XIX para o XX. Conhecido por sua crítica mordaz à sociedade portuguesa e europeia, Eça utiliza nesta obra um tom mais leve e irônico para confrontar dois mundos distintos: o da civilização urbana moderna, marcada pelo excesso e artificialidade, e o da vida simples no campo, associada à natureza, ao equilíbrio e à saúde física e emocional.

Neste artigo, vamos explorar a estrutura, os principais personagens, os temas centrais, o estilo do autor e as críticas implícitas nessa narrativa tão atual quanto há mais de um século.

Contexto histórico e literário

Um romance entre o realismo e o simbolismo

A Cidade e as Serras foi escrita no fim da vida de Eça de Queirós, já distante do realismo corrosivo de obras anteriores, como O Primo Basílio ou Os Maias. Aqui, o autor suaviza a crítica e aposta num tom quase nostálgico, embora sem abandonar o olhar irônico e perspicaz que o consagrou.

A obra dialoga com a modernização acelerada da Europa e os efeitos da Revolução Industrial, contrastando o progresso técnico com a decadência moral e espiritual da sociedade urbana.

Enredo de A Cidade e as Serras

A jornada de Jacinto: do luxo à simplicidade

O protagonista, Jacinto, é um rico aristocrata português que vive em Paris, cercado de todo tipo de modernidade e conforto. No entanto, mesmo com acesso ilimitado ao progresso — livros, máquinas, arte, festas — ele se sente entediado, deprimido e vazio.

Certo dia, decide visitar sua propriedade rural em Portugal, nas Serras da Estrela, e é lá, no campo, que encontra saúde, alegria e paz. Ao longo da narrativa, ele passa por uma transformação pessoal profunda, abandonando os excessos urbanos e abraçando a simplicidade da vida rural.

Personagens principais

Jacinto

Homem culto, sofisticado e moderno, representa o ideal urbano do progresso. No entanto, sua infelicidade em Paris revela a crítica do autor à alienação gerada pelo excesso de tecnologia e conforto.

Zé Fernandes

Narrador e amigo de Jacinto, é um português simples, irônico e observador. Atua como contraponto ao protagonista e guia o leitor pela narrativa, oferecendo comentários espirituosos sobre os dois mundos contrastantes.

Temas centrais em A Cidade e as Serras

1. Progresso vs. natureza

O grande eixo do romance é o contraste entre a cidade (Paris) e o campo (Portugal). A cidade representa o progresso artificial, que aliena e adoece. Já o campo simboliza a simplicidade natural, que cura e reconecta o ser humano com o essencial.

Cenas simbólicas:

  • As máquinas parisienses que quebram ou servem para tarefas inúteis.
  • A primeira refeição campestre de Jacinto, que devolve sua alegria e apetite.

2. Crítica ao materialismo moderno

Eça ironiza a ideia de que o acúmulo de bens e tecnologias gera felicidade. O protagonista possui tudo o que o dinheiro pode comprar, mas vive angustiado e insatisfeito, mostrando que o bem-estar não depende de posses, mas de experiências autênticas.

3. Transformação pessoal e reconexão com as raízes

O retorno de Jacinto a Portugal é também um retorno simbólico às raízes culturais, afetivas e espirituais. A obra sugere que, para viver bem, é preciso desacelerar, desapegar e cultivar laços humanos e com a natureza.

Estilo e estrutura da narrativa

Narrador observador e irônico

Zé Fernandes, o narrador, é um personagem envolvido na história, mas seu tom é sempre leve, irônico e afetivo. Ele oferece descrições detalhadas da Paris moderna e do ambiente rural português, sempre com toques de humor e crítica sutil.

Linguagem sofisticada, mas acessível

Mesmo com um vocabulário refinado, típico do século XIX, Eça usa frases bem construídas e um ritmo agradável, que torna a leitura fluida. O uso da ironia e da sátira ajuda a manter o texto interessante e envolvente.

A Cidade e as Serras: principais mensagens

Uma crítica que ainda ecoa hoje

Mais de um século depois de sua publicação, A Cidade e as Serras continua incrivelmente atual. Em um mundo hiperconectado, cheio de tecnologias, consumo excessivo e esgotamento físico e emocional, a proposta do romance é quase terapêutica: desacelerar, buscar o essencial, reconectar-se com a natureza e com os afetos.

Eça de Queirós e sua visão humanista

Mesmo abandonando o tom ácido de outras obras, Eça mantém sua visão crítica da modernidade, questionando os valores de uma sociedade que confunde desenvolvimento com bem-estar.

Perguntas frequentes sobre A Cidade e as Serras

Qual o gênero do livro?

Trata-se de um romance de crítica social, com forte componente simbólico e filosófico. Embora traga elementos realistas, flerta com o simbolismo e até com o romance de formação.

Qual a principal crítica feita por Eça de Queirós?

A obra critica a fé cega no progresso e na tecnologia, e defende uma vida mais equilibrada, próxima da natureza e das relações humanas genuínas.

Jacinto é um herói tradicional?

Não. Ele é um personagem reflexivo, que passa por uma transformação interior, mas sem grandes feitos heroicos. Sua evolução está no plano ético e existencial.

Conclusão: Por que ler A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós

Ler A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, é embarcar numa crítica refinada e divertida ao estilo de vida moderno, guiada por uma narrativa leve, personagens carismáticos e reflexões profundas sobre o que realmente importa na vida.

Mais do que um clássico da literatura portuguesa, o romance é um convite atemporal a repensar nossos valores, hábitos e prioridades. Em tempos de excesso, ansiedade e hiperconectividade, a simplicidade pode, sim, ser a resposta — e essa é a grande lição que Eça nos deixou, com elegância e bom humor.

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Títulos:

A Cidade e As Serras, por Eça de Queirós. (Link patrocinado).

Capitães de Areia, por Jorge Amado. (Link patrocinado).

O Guarani, José de Alencar. (Link patrocinado).

O Mulato, por Aluísio de Azevedo. (Link patrocinado).

O Ateneu, por Raul Pompéia. (Link patrocinado).

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