Introdução: Um clássico escondido que revela as raízes do Brasil
Publicado originalmente em 1946, Água Funda, de Ruth Guimarães,
é um dos maiores tesouros da literatura regionalista brasileira, embora
ainda pouco conhecido do grande público. Ambientado no interior de Minas
Gerais, o romance traz à tona a riqueza da cultura popular, das crenças, dos
causos e da linguagem da roça, tudo isso através de uma narrativa lírica,
profunda e repleta de sabedoria ancestral.
Ruth Guimarães foi a primeira mulher negra a integrar a Academia
Paulista de Letras, e sua escrita é marcada por um olhar afetuoso, mas crítico,
sobre o povo do campo. Em Água Funda, ela nos presenteia com uma obra
que mistura ficção, folclore e poesia, revelando a complexidade da vida no
Brasil rural — com suas belezas, contradições e tragédias.
Ruth Guimarães e o poder da literatura regionalista
Quem foi Ruth Guimarães?
Nascida em Cachoeira Paulista, no interior de São Paulo, Ruth Guimarães
(1920–2014) foi escritora, tradutora, pesquisadora e jornalista. Apaixonada
pela cultura popular, dedicou-se ao estudo do folclore brasileiro e escreveu
livros de contos, ensaios e romances — sendo Água Funda sua obra-prima.
Seu estilo literário é frequentemente comparado ao de Guimarães Rosa e
Mário de Andrade, especialmente por seu uso poético da linguagem oral e sua
valorização do Brasil interiorano.
O que é literatura regionalista?
A literatura regionalista brasileira, especialmente forte nas
décadas de 1930 a 1950, tem como foco retratar os costumes, os conflitos e os
modos de vida das diversas regiões do país. Em Água Funda, essa proposta
se realiza de forma magistral, com uma narrativa que valoriza o modo de falar,
de sentir e de pensar do povo simples do campo — sem reduzi-lo a caricaturas.
Enredo de Água Funda: vida, morte e encantamento
Um povoado cercado de mistérios
A história se passa no fictício povoado de Água Funda, um vilarejo
perdido no tempo, cercado de matas, córregos e lendas. Ali, o sobrenatural e o
cotidiano se misturam, e a morte é apenas mais uma curva no rio da existência.
As personagens transitam entre o real e o mágico, entre o profano e o sagrado,
entre o riso e a dor.
A força da narrativa oral
A estrutura do romance é marcada por uma sucessão de causos,
histórias contadas de forma oral por diversos narradores, cada qual com seu
ponto de vista. É como se o leitor estivesse ouvindo uma roda de prosa à beira
do fogão, onde cada um contribui com uma parte do quebra-cabeça da memória
coletiva.
Dessa forma, não há um único protagonista — o verdadeiro personagem é o
próprio povoado de Água Funda, com seus moradores, suas crenças, seus conflitos
e sua musicalidade própria.
Temas principais de Água Funda
1. A cultura caipira como protagonista
Ruth Guimarães eleva a cultura caipira à condição de
matéria-prima literária. Os saberes populares, as rezas, os benzimentos, as
superstições e até os ditados são incorporados à narrativa com respeito e
lirismo. O livro valoriza o que muitas vezes foi desprezado como “atraso”,
revelando uma sabedoria enraizada no cotidiano e na oralidade.
2. A presença do sagrado e do fantástico
O elemento mágico está presente em Água Funda como parte natural
da vida. Mortos que voltam, premonições, feitiços e encantamentos coexistem com
a colheita do café e os casamentos na igreja. Essa dimensão fantástico-folclórica
aproxima a obra de autores como Gabriel García Márquez, dentro de uma estética
que poderíamos chamar de realismo mágico à brasileira.
3. A crítica social sutil
Mesmo envolta em lirismo, a obra não deixa de abordar temas como desigualdade
social, patriarcado, violência doméstica e abandono
feminino. Muitas das histórias narradas revelam a dureza da vida das
mulheres na roça, presas entre o machismo e a resignação. A crítica, porém, não
vem em tom panfletário, mas como semente plantada na consciência do leitor.
A linguagem em Água Funda: poesia, oralidade e ritmo
O português do povo
A linguagem de Água Funda é um dos seus grandes trunfos. Ruth
Guimarães escreve como quem escuta. Sua prosa imita o ritmo da fala popular,
com suas repetições, pausas e expressões típicas. Esse recurso aproxima o
leitor da realidade do interior, criando uma atmosfera rica e envolvente.
Poética do cotidiano
Mesmo ao tratar de temas duros, Ruth imprime uma beleza poética à
sua narrativa. Há trechos que mais parecem versos, tamanha a musicalidade das
frases. Essa combinação de lirismo com realismo transforma o romance em uma
verdadeira joia da literatura nacional.
Perguntas frequentes sobre Água Funda
Qual é o estilo de Água Funda?
É um romance regionalista com elementos do realismo mágico e da
literatura oral. O estilo é lírico, com forte presença da linguagem popular.
Quem são os personagens principais?
Não há um protagonista único. O livro apresenta várias personagens, cada
uma com sua história, compondo um mosaico humano do povoado de Água Funda.
Por que ler Água Funda hoje?
Porque é uma obra que resgata e valoriza a cultura popular brasileira,
além de oferecer uma crítica social sutil e uma linguagem rica. É leitura
essencial para quem quer conhecer o Brasil profundo.
Conclusão: Água Funda, um Brasil que vive na memória
Água Funda, de Ruth Guimarães, é um romance que vai muito
além da narrativa regional. É um testemunho da alma brasileira, uma
celebração da cultura oral e uma denúncia delicada das dores que persistem em
nossas raízes. Ao mesmo tempo em que encanta com sua linguagem poética e suas
personagens vívidas, a obra também nos convida a refletir sobre o que fomos — e
ainda somos — enquanto povo.
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