sexta-feira, 1 de junho de 2018

Schopenhauer por Thomas Mann - parte (3)

(conclusão) A bondade é positiva. Faz obra de amor. Age, assim, por uma razão que sente profundamente: se não o fizesse, julgar-se-ia semelhante a um homem que jejuasse hoje a fim de ter amanhã mais do que pode consumir. É exatamente assim que pensaria o "homem de bem", se deixasse os outros na indigência, enquanto ele próprio vivesse na abastança. Para ele, o véu de Maia tornou-se transparente; desapareceu a grande ilusão que dá à vontade dispersa nos fenômenos a aparência de gozar aqui e sofrer ali, quando é sempre a mesma vontade e o mesmo tormento que ela causa e sofre ao mesmo tempo. O amor e a bondade são compaixão, nascida do conhecimento do "Tat twan asi", do "Isto, és tu", do gesto que levanta o véu de Maia. Já o dissera Spinoza: "Benevolentia nihil aliud est, quam cupiditas ex commiseratio orta", "a bondade não é mais que o amor nascido da compaixão". Mas daí resulta claramente que, se a justiça se ergue até à vontade, pode esta por sua vez se alçar ainda, não somente até ao amor mais desinteressado e ao mais generoso sacrifício, mas na verdade, até à santidade. Porque, quando um homem chegou a tal conhecimento do amor, considera o sofrimento de tudo que vive como o seu e se apropria da dor do mundo inteiro. Vê o Todo a vida, contradição interna da vontade e sofrimento que não cessa a humanidade sofredora, a animalidade sofredora, e o conhecimento da coisa em si torna-se para ele um alívio do querer. Nele, a vontade se desviara da vida, porque, já que a sua compaixão refletida o obriga a negá-la, como poderia aprovar ainda compreendendo aí a si próprio, o querer viver, de que a vida é a obra, a expressão e o espelho? A resolução que chegado a tal compreensão, toma um homem é a da renúncia, da resignação, da suprema impassibilidade. Nele se realiza a passagem da virtude para o nobre paradoxo da ascese, um grande paradoxo, na verdade; porque acontece então que uma individuação da vontade renega o ser que nela aparece e que se exprime por seu corpo, que seus atos desmentem sua aparência e entram em luta aberta com ela. O asceta recusa-se a satisfazer a libido: sua castidade é o signo de que, com a vida desse corpo, a vontade, de que ele é a manifestação, igualmente se anula.  Como definir o santo? Aquele que não faz nada de tudo que deseja e faz tudo que não deseja. Ora, a castidade ascética, tornada regra geral, acarretaria o fim da espécie humana. Mas, dada a estreita ligação de todas as manifestações da vontade, a mais alta de todas, o homem, em sua queda, arrastará também seu débil reflexo, a animalidade, e, como assim todo conhecimento se suprimiria, o mundo inteiro - pois sem sujeito não há objeto - por si mesmo cairia no Nada. O homem é, em potência, o salvador da natureza. É por isso que Angelus Silesius, o místico, exclama Homem! Todas as coisas te amam e correm para ti: Tudo corre para ti para chegar a Deus.

Por paradoxal que possa parecer, malgrado toda a sua misantropia e todas as suas palavras e queixas sobre o estado de corrupção da vida em geral, como sobre o caráter grotesco do gênio humano em particular, apesar do desespero que o acabrunha quando vê a miserável companhia em que caímos pelo fato de termos nascido homens, Schopenhauer tem, no entanto, e culto do homem, tal como o concebe. Enche-se de altiva veneração humana em presença deste "coroamento da criação" que, para ele, como para o autor da Gênese, significa o homem, a mais alta e a mais adiantada objetivação da vontade. Esta mais importante forma de seu humanismo caminha inteiramente a par com seu ceticismo político, sua oposição à Revolução, e tacitamente concorda com eles. Para ele, o homem é venerável, porque é o ser capaz de conhecer. Certo, todo conhecimento, em princípio, se submete à vontade, pois dela emerge, como a cabeça do tronco. Nos animais jamais se pode suprimir esta sujeição da inteligência. Veja-se, porém, somente a diferença entre o homem e o animal, no que respeita à situação da cabeça em relação ao tronco. Nos animais inferiores, ambos se fundem e, em tortos, a cabeça se volta para a terra, onde se encontrará os objetos do querer; nos próprios animais superiores, a cabeça e o tronco são ainda muito mais unidos que no homem, em quem a cabaça (aqui Schopenhauer diz o "chefe" e não a cabeça aparece superposta livremente a ele e trazida por ele, sem estar a seu serviço. “‘O Apelo’ de Belvedere representa no mais alto grau esta superioridade do homem: a cabeça do Deus das Musas, cujo olhar vai longe, ergue-se tão livremente sobre os ombros que parece ter-se escapado do corpo e ter-se libertado do cuidado de servi-lo".

Podem-se fazer mais humanas associações de ideias? Não é em vão que Schopenhauer vê a dignidade do homem na estátua do Deus das Musas. É uma visão profunda e particular, unindo a arte, o conhecimento e a “dignidade do sofrimento” humano, que se revela nesta imagem; é um “humanismo pessimista” que, pois o humanismo tem essencialmente a colaboração de um otimismo de retórica, representa qualquer coisa inteiramente nova e, ouso afirmá-lo, uma visão de futuro fecunda no domínio das convicções. No homem, suprema objetivação da vontade, este humanismo é iluminado pelo conhecimento; mas, à medida que o conhecimento atinge maior nitidez, que a consciência se eleva, também o sofrimento cresce e este, por sua vez, em graus diferentes segundo os indivíduos; é no homem de gênio que se eleva mais alto. "O que determina a hierarquia é a aptidão para sofrer profundamente" - escreveu Nietzsche, seguindo sem reserva e até o fim o aristocratismo do sofrimento de Schopenhauer, doutrina segundo a qual a vocação do homem e do gênio, sua mais alta distinção e seu enobrecimento, é o sofrimento. Resultam desta vocação as duas grandes possibilidades que o humanismo de Schopenhauer consigna ao homem; chamam-se arte e santidade. Puramente humana é a possibilidade do estado estético, contemplação das Ideias libertada da vontade; humana e unicamente humana é a possibilidade de uma redenção definitiva, quando a vontade de viver se nega a si mesma para se elevar mais alto que o artista, até à santidade ascética. Ao homem é outorgada a possibilidade da correção, que anula o grande erro e engano do ser: intuição suprema, que lhe ocorre quando chama a si todo o sofrimento do mundo e quando pode conduzi-lo à resignação é à inversão da vontade. Assim, o homem é a esperança secreta do mundo e de todas as criaturas; é para ele que, por assim dizer, todos os seres correm, cheio, de confiança; é para ele que todos levam os olhares, como para o seu possível redentor e salvador.

Concepção de grande beleza mística, em que se exprime um respeito humano pela, missão do homem, prevalece sobre a misantropia de Schopenhauer, sobre todo o seu desgosto dos homens, e os retifica. É o que me importa: a união do pessimismo e do humanismo, a experiência espiritual, que revela a Schopenhauer que se pode admitir a um sem excluir ao outro e que se pode ser pessimista sem necessidade de ser bem falante ou um lisonjeador da humanidade.

O que nos põe em guarda, quando tentados a tomar ao pé da letra o humanismo de Schopenhauer é sua concepção apolínea e clássica da vontade; o que, antes, no seu caso, como em tantos outros, nos força a estabelecer distinção entre a opinião e o ser, a não confundir o homem com seus juízos, é seu "extremismo", a grotesca dualidade, a contradição interna de sua natureza, que se deve chamar romântica, no sentido mais pitoresco da palavra, e que da esfera de Goethe o afasta muito mais do que podaria ele ter consciência disso.

Raramente haverá título mais expressivo, mais exaustivo que o de sua obra-prima, sua obra única no fundo, pois desenvolve seu único pensamento: porque tudo o mais, tudo o que ele escreveu durante os setenta e dois anos de sua vida, não foram mais que peças de confirmação obstinadamente reunidas, arrimos de reforço. "O mundo como vontade e representação": não é somente este pensamento, condensado na fórmula mais curta; é também o homem, o ser humano, a pessoa, a vida, o sofrimento. Nele, os impulsos da vontade, sobretudo     os     da     voluptuosidade, devem       ter         sido  particularmente  fortes         e perigosos, torturantes como as imagens mitológicas de que se serve para pintar a escravidão da vontade; sem dúvida, corresponderam elas à sua violenta necessidade de conhecimento, à sua espiritualidade clara e poderosa, mas opondo-se-lhes de maneira tal que o resultado, caricatural em alto grau, foram a dualidade radical e terrível e o despedaçamento da experiência, o mais profundo desejo de salvação, a negação espiritual da própria vida, a acusação contra seu Eu, mau, errado e culpado. Para Schopenhauer, a libido é o "foco da vontade'", em sua objetivação corporal o polo oposto ao cérebro, que representa o conhecimento. Se, visivelmente, tivessem as duas esferas um poder que de muito ultrapassasse o médio, os únicos beneficiados seriam a plenitude e a força de sua natureza considerada no totalidade; o que precisamente faz dele um pessimista e um negador do mundo são unicamente as relações entre as duas esferas, sua total oposição, que vai até à hostilidade, que tende à exclusão de uma delas e traz o sofrimento; essa relações, além disso, não impedem que se chame ao seu pessimismo o produto espiritual da plenitude e da força, mal compreendida. A dualidade de sua natureza, sensível aos antagonismos e aos conflitos, atormentada e violenta, fá-lo sentir o mundo a um tempo como instinto e espírito, paixão e conhecimento, "vontade" e "representação". Como não descobriu ele em sua arte, em seu gênio, a unidade deste mundo? Por que não compreendeu ele que o gênio não é de maneira alguma o silêncio da sensualidade e a ostentação da vontade, de que a arte seria a objetivação pelo espírito, mas a união e a interpenetração das duas esferas, união que encanta mais que, isoladamente, a cópula ou o espírito? O estado de artista, de criador será, nele mesmo, mais que a sensualidade espiritualizada e o espírito tornado genial da libido? Goethe viu e viveu tudo isso muito diferentemente que o pessimista Schopenhauer: de maneira mais feliz, mais sã, mais serena, "mais clássica", menos patológica - tomada a palavra não no sentido clínico, mas no espiritual - quero dizer, pois, menos romântica. Para ele, volúpia e espírito, "a ideia e o amor" constituíam o mais poderoso e o mais nobre encanto da vida, e escrevia: "Porque a vida é o amor, e a vida da vida, é o espírito". Em Schopenhauer, ao contrário, o crescimento genial de ambas as esferas termina no ascetismo. Para ele, a volúpia perturba diabolicamente a contemplação pura e o conhecimento renega a volúpia, ordenando-lhe: "Se teu olho te escandaliza, arranca-o". Conceber o conhecimento como a "paz de espírito", a arte como o apaziguamento, como o estado de contemplação "pura", que salva o homem, salvando-se pelo aniquilamento da vontade, e o artista como o esboço do santo, que definitivamente se alforriou da vontade, tal é a ideia de Schopenhauer. Repitamo-lo ainda: na medida em que tende para uma objetividade apolínea, esta concepção do espírito e da arte se encontra com a de Goethe, apresenta caráter clássico. Mas seu extremismo e seu ascetismo são nitidamente românticos, tomada esta palavra em sentido oposto ao do gosto de Goethe, que conhecemos melhor por suas atitudes a respeito de Heinrich von Kleist; é com sentimentos semelhantes que ele deve ter lido “O mundo como vontade e representação”: concordando com alguns resultados e reagindo “hipocondriacamente” – e, assim, abanando a cabeça, ele o colocou de lado; sabemos que ele, depois de ímpeto inicial de interesse e curiosidade, não chegou a ler o livro até o final.

O estranhamento de um grande homem em relação a outro, que é egoísmo necessário, não deve nos desorientar. Goethe também unificava em si, de uma maneira mais venturosa, o clássico e o romântico – e essa é até uma das formulas com que se pode exprimir a grandeza. Com Schopenhauer, não é diferente: a unificação dessas duas direções do espírito também deve ser contabilizada mais como saldo do que como prejuízo para sua grandeza – já que, de fato, a grandeza unifica, condensa, resume uma época. Schopenhauer condensa muita coisa, sua doutrina abriga muitos elementos: idealistas, da filosofia da natureza e até do panteísmo; e que sua personalidade seja forte o bastante para amarrar esses elementos, como também o clássico e o romântico, fundindo-os em algo totalmente novo e único, de modo que não se possa falar nem de longe de ecletismo, eis o que é decisivo. 

No fundo, é certo, os termos de uma alternativa como "clássico" e "romântico", não calham a Schopenhauer: nem um nem outro exprime toda sua alma, que não é contemporânea dos homens para os quais esses conceitos opostos representavam ainda um papel. Está muito mais perto de nós que os espíritos que se preocupavam com esta diferença e se classificavam segundo ela; a forma de espírito de Schopenhauer, a sensibilidade e o ardor excessivos de seu gênio, cujo dualismo é caricatural, são menos românticos que modernos; desejaria dizer muito com esta designação, mas relacionando-a totalmente com uma alma moderna, cujo calvário só é bastante visível neste século entre Goethe e Nietzsche. Desse ponto de vista, Schopenhauer toma lugar entre um e outro: mais moderno, mais doloroso, mais complicado que Goethe, mas muito mais "clássicos", mais robusto, mais sadio que Nietzsche, ele operou a transição; pode-se, pois, deduzir daí que o otimismo e o pessimismo, a afirmação ou a negação da vida nada têm a ver com a saúde e a doença. A saúde e a doença, se as considerarmos como juízo de valor, só com muita precaução podem ser aplicadas à espiritualidade humana, porque são conceitos biológicos e a natureza do homem não se reduz ao biológico.

Schopenhauer, psicólogo da vontade, é o pai de toda a psicologia moderna, dele se vai, pelo radicalismo psicológico de Nietzsche, em linha reta a Freud, assim como àqueles que concluíram sua psicologia do inconsciente e a aplicaram às ciências do espírito. O anti-intelectualismo e o antissocratismo de Nietzsche não são mais que a afirmação filosófica e a glorificação do primado da vontade, descoberta por Schopenhauer e da intuição pessimista que o fez designar um lugar secundário à inteligência, serva da vontade. Esta intuição, esta verificação - que não é precisamente humana no sentido clássico - de que a inteligência está simplesmente às ordens da vontade, para provê-la de motivos, frequentemente muito pouco fundados e falaciosos para racionalizar os instintos, contém uma psicologia cética e pessimista, uma ciência da alma impiedosamente lúcida que não somente preparou os caminhos ao que chamamos psicanálise, como já é esta própria psicanálise. No fundo, toda psicologia desmascara; é o olhar penetrante, irônico do naturalista, que penetra as relações enganadoras do espírito e do instinto. Isso corresponde per- feitamente à conivência mística da natureza nas “Afinidades eletivas”, em que Goethe faz Eduardo dizer, já enamorado, após seu primeiro encontro com Odila: "Ela tem muito espírito", e sua mulher lhe responde: "Muito espírito? Mas ela não abriu a boca!" Schopenhauer por certo gostou desta passagem. É uma amável ilustração, ainda classicamente serena, da frase em que declara que a gente não quer uma coisa porque a reconhece boa, mas que se julga boa porque se quer.

Ele mesmo afirma, por exemplo: “No entanto, é preciso notar que, para nos enganarmos a nós mesmos, nós cometemos aparentes precipitações, que na verdade são secretamente ações refletidas. Pois não enganamos e bajulamos ninguém com artimanhas mais finas do que a nós mesmos.” Nessa observação incidental estão contidos “in nuce” capítulos inteiros e até volumes da psicologia analítica do desmascaramento – da mesma maneira que, posteriormente, muitos conhecimentos e descobertas freudianas são com frequência antecipados como relâmpago nos aforismos de Nietzsche. Numa palestra em que fiz sobre Freud em Viena, observei que o reino sombrio da vontade schopenhaueriana é completamente idêntico àquilo que Freud chamou de “inconsciente”, de “isso” – assim como, por um lado, o “intelecto” de Schpenhauer corresponde inteiramente ao “eu” freudiano, a essa parte da psique voltada para o mundo externo.

A verdadeira razão que nos faz hoje retomar Schopenhauer e examinar sua concepção do mundo, o motivo que nos leva a evocar sua fisionomia espiritual, com tudo que ela lembra, diante de uma geração que não sabe grande coisa dele, são as relações do pessimismo e da humanidade. É o desejo de transmitir aos homens do tempo presente, nos quais o sentimento de humanidade atravessa grave crise, a experiência pessoal da união particular contraída pela melancolia e pela altivez do humano nesta filosofia. O pessimismo de Schopenhauer é sua humanidade. Sua explicação do mundo pela vontade, sua intuição da onipotência dos instintos, o rebaixamento da razão outrora divina, do espírito, da inteligência, reduzida a não ser mais que o instrumento da vida que quer afirmar-se, tudo isso é anticlássico e, em essência, inumano. Mas sua humanidade, sua espiritualidade residem precisamente no matiz pessimista de sua doutrina, que o leva a renegar o mundo e a pregar um ideal ascético; no fato de que esse grande escritor, versado em sofrimento, cuja prosa é a da grande época de nossa civilização humanista, tirou o homem do elemento biológico e da natureza, fez de sua alma, que sente e conhece, o teatro da inversão do querer e viu nele o salvador possível de todas as criaturas.

Em seu primeiro terço, o século XIX foi uma reação total contra o racionalismo e o intelectualismo clássicos; comprovou-se numa admiração do inconsciente, numa glorificação de instinto, que julgava dever à "vida" e que somente preparou assaz, para os instintos maus dias felizes... Frequentemente o pessimismo consciente se mudou então em prazer de prejudicar, o reconhecimento de verdades amargas pelo espírita transformou-se em ódio e em desprezo do próprio espírito e, sem a menor generosidade a seu respeito, a gente se pôs do lado da vida, isto é, do lado do mais forte; porque, se uma coisa é certa e provada, é exatamente esse fato de nada ter a vida a temer do espírito, e do conhecimento e que, na terra, o espírito não a vida, tem o míni- mo de força e a maior necessidade de proteção.

Mas a própria anti-humanidade atual é, afinal, uma experiência humana, uma resposta unilateral aos eternos problemas da essência e destino do homem. Visivelmente ela precisa de um corretivo que restabeleça o equilíbrio, e eu creio que a filosofia evocada aqui pode hoje prestar bons serviços. Chamei Schopenhauer de “moderno"; deveria ter dito "futuro". Os elementos que compõem sua personalidade, sua harmonia claro-escura, a mistura de Voltaire e de Jacó Böhme, o paradoxo de sua prosa clássica e clara, que revela o mais profundo, o mais noturno abismo, sua altiva misantropia, que jamais renega seu respeito pela ideia do homem, em suma, o que eu chamei sua humanidade pessimista, aparece-me rico de futuro e promete talvez, à sua construção teórica, que esteve na moda e foi célebre, caindo depois em semiesquecimento, uma ação nova, profunda e fecunda, sobre os homens. Sua sensualidade espiritual, sua doutrina - que era vida - segundo a qual conhecimento, pensamento, filosofia não são apenas ocupação de cabeça, mas do homem inteiro - coração e sentidos, corpo e alma - em uma palavra, o que dele faz um artista, tudo isso pode ajudar a produzir-se uma humanidade que ultrapassa a aridez da razão e deificação do instinto. Porque sempre, companheiro do homem na jornada que penosamente o conduz a si mesmo, a arte atinge primeiro o objetivo.



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