segunda-feira, 15 de abril de 2019

Punk no Brasil - Revista-Poster Som 3 (memória)

Lá pelos idos de 1989, eu mal entrava na adolescência e, fascinado com Surfin’ Bird, na versão dos Ramones (a versão original dos Trashmen também é muito massa), me tornei punk.

Acontece que eu vivia um grande drama, pois não sabia nada sobre punk. As músicas que eu conhecia eram as que tocavam na 89 FM e 97 FM (estação de rádio aliás muito mais bacana que a autointitulada Rádio Rock). O que rolava na programação era o basicão: Ramones, The Clash (Should I stay or should I go), Pistols (God save the queen), Dead Kennedys (Kill the Poor e Holiday in Cambodia), Garotos Podres (Anarquia Oi!), Inocentes (Pânico SP e Ele disse não) e Titãs (várias do disco “punk” Cabeça dinossauro).


Ávido por conhecer mais sobre as bandas punks, a perspectiva não era muito boa. Na época, não existia internet e o material especializado era muito escasso. De vez em quando, o programa Realce (Clip Trip) da TV Gazeta, Clip-tlip da Globo ou Programa Livre da TV Cultura rolava um especial punk. Porém, nada muito variado do arroz com feijão Pistols e Clash.

Tinha que dar sorte de alguém emprestar uma fita cassete com uma coletânea de músicas de bandas que jamais algum dia você saberia qual eram (estou brincando, dez anos depois, com o advento da internet, o nome e as bandas todas foram enfim descobertos). Então você pegava a fita cassete, colocava no seu três-em-um (vitrola, rádio e toca-fitas) e gravava uma cópia para você e outra para passar pra frente. Essa era rede social daqueles tempos: solidariedade.

Certa vez, eu estava andando pela avenida Paulista e vi pendurado num plástico em uma banca de jornal uma revista com uma foto bem grande de um mina moicano. Perguntei quanto custava para o jornaleiro. Sorte, o preço cabia no meu bolso. Voltaria para casa, pegaria minhas economias juntadas com muito esforço (vendendo passe de ônibus que sobrava por “descer por trás”) e no dia seguinte voltaria para comprar.

Mal consegui dormir à noite, tamanha a ansiedade. “E se alguém comprar e amanhã a revista não tiver mais lá?” No dia seguinte, a primeira coisa que fiz foi ir para a banca! Para o meu alívio a revista ainda estava no mesmo lugar do dia de ontem. Nunca paguei algo com tanta justeza. Guardei a revista na mochila como um tesouro precioso e fui pra escola.

Não via a hora de chegar em casa e ler a revista, mas as horas passavam devagar. Bateu o sinal então: hora da saída! Cheguei em casa rapidamente e tirei a revista do invólucro de plástico que a revestia. Para minha surpresa a revista era um pôster. Isso, a princípio, me deixou um pouco frustrado, mas depois eu gostei. Havia muitas ilustrações e fotos de punks da gringa. Puxa, que visual legal eles tinham, moicanos coloridos e roupas rasgadas. Eu mostrava orgulhoso a revista para os meus amigos. Só eu tinha uma revista como aquela e a cambada fazia fila pra ver.


A revista é uma publicação da editora Som 3, mas não consta data (talvez 1982 ou 3). O texto é de autoria de Marília Emília Kubrusly e traz um apanhado do movimento punk no mundo e no Brasil. Como era de consenso nos anos 80, Marília atribui a origem do punk à Inglaterra e não aos Estados Unidos. Se naquela época alguém insinuasse que o punk surgira nos EUA era capaz de apanhar. Sim, algumas bandas ianques foram precursoras do punk, assim como David Bowie também o foi na Inglaterra. O que é muito diferente de inventar o punk. Punk, punk mesmo, punk de verdade, é e sempre foi inglês.

Isso porque para o punk dos anos 80 a música era apenas um acessório. O que era importante, era a “ideologia”. Música punk tinha que ser de protesto e quanto mais tosco mais punk. Marília acerta porque o movimento punk é um conjunto de atributos, constituído por um visual característico – cabelos moicanos e espetados e coloridos, jaquetas, roupas rasgadas e coturnos, por uma posição criticamente apocalíptica em relação à guerra fria e ao futuro, pela música punk e, obviamente, pela ideologia anarquista (ainda que pouca gente conhecia bem a teoria do anarquismo). Enfim, atributo essencial: todos deviam ser contra o sistema e bradar o voto nulo.

Ora, o movimento punk nasce nos bairros operários ingleses, como bem descreve Marília, e não nos bairros de classe média dos playboyzinhos norte-americanos que só queriam saber de cheirar cola. Marília até chega a exclamar com surpresa que a onda punk, depois de contagiar o mundo todo, chega, enfim, com atraso na terra do Tio Sam – tida como o lugar antipunk por excelência.

Não resta a menor dúvida, a Meca do punk é a ilha Britânica e, gostemos ou não, não será uma chinfrim MTV que vai roubar os louros da rainha.

Quando Marília escreve, por sua vez, sobre o punk brasileiro, intitula a seção com o sugestivo Punk Tupiniquim. Abre com uma declaração de Clemente, da banda Os Inocentes: Nós estamos aqui para revolucionar a música popular brasileira. Para pintar de negro a asa da graúna, atrasar o trem das onze, pisar nas flores do Geraldo Vandré e fazer da Amélia uma mulher qualquer.

Do mesmo modo que o punk inglês, Marília se refere a “erupção” do punk brasileiro restrita às “áreas mais pobres das regiões urbanas” da cidade de São Paulo já no final da década de 1970.

São Paulo é pintada como uma cidade industrial poluída, cheia de “contrastes sociais”, sem praia sem mar, ou seja, um terreno propício para o surgimento do punk. Reporta sobre o Tuca, teatro da PUC, que abriu espaço para shows punks, e o SESC Pompeia, que realizou, em 1982, “o 1º. Encontro Punk” (ela não menciona, mas é o festival O Começo do Fim do Mundo), quando do lançamento de O Que É Punk, do escritor Antonio Bivar. Menciona também “a loja e produtora de discos independentes Punk Rock, que ficava no centro da cidade (ponto de concentração da maioria dos punks, que trabalham em escritórios como office-boys ou recepcionistas)”. Como não poderia deixar de se referir, trata do primeiro disco punk do Brasil, o Grito Suburbano, com participação dos grupos Inocentes, Olho Seco e Coléra, e também da bolacha do Lixomania, de mesmo nome. Cita então as bandas daquela época: Cólera, Skisitas, Mercenárias, Ratos de Porão, Estado de Coma, Desequilíbrio, Negligentes, Guerrilha Urbana, Ira, Hino Mortal, Neuróticos, Dose Brutal, Fogo Cruzado, Desertores, Psycose.

A partir disso, descreve como o punk se espalhou a partir de São Paulo para o resto do país. A autora relembra então o 1º. Festival Punk antológico no Circo Voador em 1983 e menciona as bandas cariocas Coquetel Molotov, Eutanásia, Descarga Suburbana, Desespero.


Conclui o texto nos seguintes termos: “O movimento punk está aí, mais vivo que nunca e com força total. Inútil tentar sufocá-lo ou pasteurizá-lo. Não vai ser tão fácil transformar o punk em marca de sabonete, como fizeram com o movimento hippie, porque essa turma não está pra brincadeira e seu lema não é paz e amor. Pelo contrario, estão a fim de enfrentar a batalha das ruas. Afinal, ‘garoto do subúrbio/garoto do subúrbio/você não pode desistir de viver’ (‘Garotos do Subúrbio’, dos Inocentes)”.

Mais de 40 anos depois e o punk continua na ativa, como podemos conferir com esse grande som Camaradas! da banda Fecaloma.


Êira Punk!!!

Trecho do texto publicado na Revista-poster Punk: Rock de Combate, Som Três/Editora 3: São Paulo, não consta ano, provavelmente entre 1983/1985.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

A Bolha do Tempo

Por Nilza Monti Pires

José e Miguel eram dois amiguinhos inseparáveis, moravam na mesma rua, saíam sempre juntos, na escola, nas brincadeiras e nos passeios.

Combinavam em tudo apesar de José ser muito alto com as pernas bem longas, enquanto Miguel, ao contrário, era baixinho com as pernas curtas demais.

Desenho de Annina Ramona

O dia amanheceu ensolarado, o sol da primavera brilhava, no alto um azul limpíssimo e os dois garotos resolveram dar uma volta pelas redondezas.

Ao passar por uma das ruas arborizadas do bairro, viram um lindo gramado e lá havia um grupinho de meninos jogando bola.

José e Miguel tiveram a mesma ideia, um olhou para o outro e um deles falou:

- Vamos, vamos perguntar se podemos jogar com eles?

- Claro!

Chegando perto dos garotos perguntaram:

- Ei, podemos jogar com vocês?

Quando os meninos viram José e Miguel, todos deram uma risadinha.

- O problema - disse um dos garotos, chamado Renato - é que você tem as pernas muito compridas, em dois passos chega no gol, e o seu amigo tem as pernas curtas demais, para chegar no gol vai levar uma eternidade.

José e Miguel ficaram tristes e desanimados. Resolveram ir embora.

De repente a terra tremeu. Uma descarga elétrica na atmosfera, causando um grande estrondo, assustador, instantaneamente abriu no chão um grande buraco, uma enorme abertura pegando José e Miguel e os outros meninos desprevenidos, arremessando todos para o fundo da terra.

Eles rolaram, giraram, rodopiaram, dando várias voltas, e uma chuva repentina formou em torno deles uma grande bolha transparente, levando-os cada vez mais longe, onde caíram numa fenda muito profunda.


Quando a bolha parou, todos estavam assustados e, ao saírem da bolha, ficaram amedrontados.

- Aonde será que a gente foi parar?

- Sei lá, aqui está muito escuro, não estou enxergando nada, acho que vai ser difícil sair daqui - disse André, um dos meninos da turminha.

Enquanto isso José nesse momento estava preocupado com suas longas pernas, pois foi muito sacudido, espremido e esmagado, mas, ao se levantar, percebeu que nada tinha acontecido.

- Ufa! - exclamou aliviado.

- Que bom que todos estão bem, mas como vamos sair daqui, não estou vendo nada - disse Renato aflito.

- Aqui que não podemos ficar – disse com ansiedade Léo, outro dos amiguinhos - tá muito escuro!

- Eu tenho no meu bolso uma lanterninha ultravioleta - disse Miguel. Mas com tantas viravoltas... Vou ver se ainda está no meu bolso. Por sorte a lanterninha não caiu, pessoal - gritou - e ainda acende!

- Que bom!!! - gritaram todos entusiasmados.

- Agora é só coragem - disse José.

Miguel pegou sua pequena lanterna luminosa, acendeu e surpreenderam-se com o que viram:

Era um grande túnel, tão perfeito, colorido, com vários tons de azul, amarelo, verde, branco, vermelho... Era limpíssimo e sem nenhum inseto.


- Nunca pensei encontrar um túnel tão grande e tão bonito.

- Nem eu.

E assim começaram a andar pelo longo túnel colorido por várias horas até que mais adiante viram uma claridade.

- Que sorte, enfim uma saída neste caminho subterrâneo.

Ao chegarem perto da saída, viram que era muito alta.

- Mas que saída alta – lamentou um dos meninos.

José então com suas pernas longas pôde ver afinal aonde tinham saído.

Assim que José colocou a cabeça para fora exclamou:

- Não é possível o que estou vendo, é incrível! - disse espantado.

- O que é?!!! - responderam todos, curiosos.

- Dinossauros!!! Muitos dinossauros!!!


- Está ficando doido? Está vendo demais, quer nos enganar?

- É verdade, juro, não estou brincando.

André começou a rir:

- Essa é boa, os dinossauros existiram há mais de 200 milhões de anos.

- Deve ser uma miragem - disse Miguel - você bateu a cabeça e pirou de vez.

- Estou falando sério, são muito grandes!

- Veja - disse Léo - aqui na parede tem até uma escadinha. Dá para subir!

Todos muito curiosos subiram para certificar se eram mesmo dinossauros.

- Caramba, é verdade! - para surpresa de todos.

A euforia foi grande quando viram os dinossauros.


- Que legal, adoro dinossauros. Vamos até lá? – disse Miguel.

- Está louco, olha só os dentes do dinossauro. Afiadíssimos!

- Quem tem coragem de ir até lá e passar por esses enormes bichos? – interrogou Renato.

- E se a gente chegar um pouco mais perto? – concordou Miguel.

- Pensa que é que nem nos filmes que os dinossauros correm atrás, não pegam ninguém e ainda por cima são bonzinhos?!!! – retrucou André.

- Eu que não vou até lá, não quero ser comida de dinossauro.

- O melhor mesmo é usar o bom senso e voltar de onde viemos, pelo mesmo buraco - disse o sensato Renato.

Todos concordaram e novamente Miguel acendeu sua lanterninha luminosa e lá foram caminhando pelo grande túnel confortável. José com suas pernas longas não tinha nenhuma dificuldade em andar nele.

Depois de andar bastante, sentaram-se um pouco para descansar e viram logo mais adiante outra claridade.

- Vejam, a luz do sol - gritou um dos garotos.

- O que são esses desenhos na parede da caverna? - perguntou Léo.

- Acho que eram dos homens das cavernas - respondeu José.

- Que bom, desta vez a saída é fácil, já dá para sair direto.

- Nossa, quantos macacos, parece o planeta dos macacos! - exclamou Renato.


- Vejam, estão conversando e andando de pé. São mesmo os homens das cavernas, da pré-história!

- Será que são os nossos antepassados? – disse Léo, brincando.

- Os historiadores - argumentou André -, baseados na teoria da evolução, provam que seriam nossos antepassados.

- Vamos ver o que eles estão falando, estou curioso – disse Miguel.

- Que ideia é essa! Estes primatas são selvagens e se nos vissem iriam nos matar. Parecem inteligentes, porém somos estranhos para eles - desse José.

Então resolveram voltar pelo grande túnel esculpido, de parede lustrada e sem nenhum bicho peçonhento. Andaram por alguns quilômetros até encontrarem uma outra saída.

Mas ao saírem do túnel ficaram ainda mais surpresos ao verem as pirâmides do Egito.


- Nossa, as pirâmides do Egito. Então estamos no túnel do tempo!

- Estão construindo a pirâmide de Quéops, conhecida como a grande pirâmide. Ela é uma das sete maravilhas do mundo antigo. Li que a pirâmide de Quéops foi construída no ano 1270 a 1300 antes de Cristo – explicou André.

- Estes homens que estão trabalhando agora não sabem que essa obra genial virou atração turística – confirmou José.


- É verdade, por incrível que pareça, teremos que voltar para o ano 2019 para ver de perto essa grande pirâmide.

- Vamos até lá! - exclamou novamente Miguel.

- Lá só tem múmias - disse Léo - e eu não pretendo encontrar nenhuma delas.

- Agora está deserto, silencioso, vamos até lá admirar de perto as pirâmides?

Estavam distraídos quando ouviram um grito abafado.

- É um grito da Múmia - disse José.

- Eu não falei - respondeu Léo - que era a múmia!

E aí todos correram desesperados para o túnel.

- Que medo, que grito abafado...

No final todos estavam rindo e felizes. Pareciam estar gostando desta aventura.

Miguel teve a seguinte ideia:

- Quem sabe se na próxima saída encontraremos o pico do Everest, para escalar aquelas altíssimas montanhas cobertas de gelo?

- Pelo jeito estão gostando de ficar no túnel - replicou Renato - mas nossa intenção é voltar para casa.

Novamente a pequena lanterna luminosa de Miguel foi útil na escuridão do túnel brilhante, colorido e agradável.

Caminharam por um bom tempo, com a luz difusa da lanterninha.

Num certo momento, começaram a descer uma enorme rampa, que os levava mais para o fundo da terra, encontrando uma rocha por onde saía muita água.

- Nossa, aqui é o fundo do mar!


- Como vamos passar por aqui se está tudo inundado? - questionou André.

- Então, vamos voltar - disse Renato.

- Se retornarmos, voltaremos para o passado – André ponderou.

- Como vamos atravessar esse mar? - indagou José preocupado.

- Vai ser impossível sair daqui - conclui André - tem água para todos os lados e pelo azul escuro do mar, acho que essa região é a mais profunda do oceano. São as fossas Marianas, no abissal oceânico.

- Xiiii, é complicado – indagou Léo.

- Sim, conforme a extensão e a profundidade não vai ter mais jeito de sair daqui – disse José.

- Não vamos esmorecer – falou Renato.

- Mas como vamos sair daqui? – disse Léo.

- Já sei como sair daqui - respondeu Miguel. - Eu trouxe no meu bolso a bolha transparente. É só assoprar e entraremos nela.

- A bolha transparente!!! - exclamaram todos.

- Ela mesmo - disse Miguel.

- Mas será que ela é forte o suficiente - argumentou André - para aguentar a pressão do fundo do mar?

- Temos que arriscar – José retrucou.

- E se a bolha estourar - questionou Léo.

- Ela é forte e vai aguentar - Miguel respondeu com convicção.

Todos sopraram a bolha transparente, entraram um por um nela e lá foram entre as cachoeiras no profundo mar azul.


Contentes, alegres e satisfeitos, com o bom êxito da bolha, que deu ótimos resultados, boiando entre as ondas volumosas, agitadas, no meio do oceano.

Estavam numa euforia só, pois pela bolha transparente era possível avistar todo o fundo do mar, o lindo mundo aquático, com suas cores mágicas e peixes coloridos, corais de luzes e algas flutuantes, nem parecia real, coisas incríveis da natureza.

De repente, da alegria virou um pesadelo. Um enorme tubarão passou bem na frente da bolha, parou, observou. 


Por sorte, o tubarão passou de raspão e foi embora.

- Puxa, escapamos por um fio. Num piscar de olhos e todos nós seríamos devorados – falou José muito aliviado.

Depois de várias horas, sendo sacudidos pelas ondas gigantescas, que fazia a bolha balançar e rodar que nem parafuso, os meninos já não aguentavam mais. Finalmente, a bolha flutuante, depois de muitos obstáculos, elevou-se à superfície, atracando na areia da praia.

- A bolha já parou - gritaram - estamos em terra firme!

Assim que saíram da bolha, viram um imenso deserto, com um sol escaldante, e então ficaram perplexos com uma vastidão tão grande.


- Que lugar é este - indagou José - será o deserto do Saara?

- Curioso, parece terra de ninguém – um dos meninos comentou.

- Nossa, o que é aquilo, um vulto? Vem em nossa direção – disse André.

- É um homem - disse Miguel - está vindo com seu cavalo pomposo.


- De onde surgiu essa figura? - rebateu Léo.

- Olá garotos, tudo bem? Vocês apareceram na minha tela.

- Na sua tela? - falou José engasgado. - Da onde você é? Sua pele é verde...

- Sim, sou daqui mesmo, vim atrás de vocês. Sei controlar suas mentes.

José ficou meio desconfiado e perguntou:

- Por que seu cavalo tem muitos os olhos?

- Não são olhos – respondeu o homem esverdeado - são botões magnéticos, que detectam alvos inimigos e também captam sinais com exatidão, que até podem manipular as pessoas. É uma inteligência artificial.

- Então, isso não é um cavalo, é uma máquina?


- Exatamente - disse o estranho homem.

- Mas aqui é um deserto – indagou André - não estou vendo nada. Onde estão as casas?

- Realmente aqui ninguém tem casa. Esta máquina é minha casa. Basta apertar um dos botões e vai aparecer tudo o que eu quiser.

- Essa máquina é um robô? – perguntou Miguel.

- Sim. Aqui era muito poluído, houve uma grande mudança climática, tudo virou um deserto e o sol ainda continua escaldante... Mas o que vocês vieram fazer aqui, meninos?

- A bolha nos trouxe aqui. Precisamos voltar para casa - disse Renato temeroso e olhando furtivamente para os seus amigos.

- Tá certo vou ajudar - disse o esverdeado - mas antes vou pedir um favor. Se me fizerem, deixarei vocês livre, senão largarei vocês à sua sorte.

- O que devemos fazer? – Miguel perguntou.

- Vem comigo. Está vendo aquela árvore cheia de frutos?


- Sim, é uma macieira.

- Aqui só existe essa árvore, é a única neste planeta e eu nunca comi uma fruta. Quero experimentar.

- Credo, só tem uma árvore? Caramba!

- Então, preciso de você que tem as pernas longas e do pequenininho.

- Eu? - disse José.

- Eu? – disse Miguel.

- Você tem as pernas longas e pode erguer o seu amiguinho de pernas curtas. Ele pode andar entre os galhos e alcançar e pegar para mim todas as frutas.

José indagou:

- Você que tem um robô, com uma tecnologia incrível e outras mil coisas, e não consegue alcançar e pegar aquelas frutas?

- É verdade, minha máquina tem raciocínio exato, mas não consegue pegar as frutas porque suas mãos não são flexíveis que nem a de vocês.

Então José e Miguel fizeram um acordo com aquele homem incomum, pegariam as frutas e ficaram livres.

O homem esverdeado aceitou a proposta.

José ficou temeroso de não alcançar o galho e Miguel pegar as maçãs. Mas chegando pertinho ergueu Miguel, que subiu no galho e conseguiu pegar as frutas. Assim José ficou aliviado.

E Miguel foi pegando uma a uma e deu para o homem as tão desejadas maçãs.

Assim que o homem esverdeado pegou uma maçã, deu uma mordida e exclamou:

- Hummm, que delícia! – disse, ao dar uma abocanhada - Que sabor, que fruta suculenta, joia rara!

Todos ficaram admirados, nunca tinham visto alguém que nunca tinha comido uma fruta.

- Nunca comi uma coisa igual - murmurou os esverdeado, com satisfação. - E pensar que neste planeta já teve muitas árvores com saborosas frutas.

- Ainda bem que gostou das maçãs - disse José, olhando para os seus amigos.

E esperaram ele comer até não aguentar mais.

- Obrigado meninos – disse o homem incomum - não sei como agradecer. Mas, como eu prometi, entrem nesta geringonça, a bolha do tempo, que vou mandar vocês para as suas casas.

Todos os meninos se despediram abraçando o homem esverdeado, tão esquisito e misterioso. Então, agradeceram, deram adeus e entraram na bolha transparente.

Ele chegou perto da bolha, deu um adeus emocionado, deu um forte assoprão e a bolha transparente começou a girar dando numerosas voltas, caindo direitinho no buraco do tempo, rodando, rolando, parecia o fim do mundo, até que parou.


- A bolha parou - gritaram todos felizes.

Ao saírem, disseram:

- Vejam, é a nossa pracinha!

- Olha o relógio, continua no mesmo horário!

- Engraçado – disse André - passaram milhões de anos, desde a época dos dinossauros e aqui continua tudo igual!

- Verdade! Aquele homem-máquina seria um ser humano do futuro, do ano 3001, ou um extraterrestre? – indagou Renato.

- Talvez fosse do planeta Marte ou do cosmo? Seria um androide? - Léo questionou.

- Será que fomos abduzidos? – perguntou André, intrigado.

- Sei lá! – falou Miguel.

- Olha, Miguel, o seu cachorro Fernando vem correndo em sua direção abanando o rabo feliz por te ver.



- Que alegria ver meu cachorro! Vou abraçá-lo, que saudades!

- Então estamos de volta à pracinha e ao campinho. Até pareceu um conto de fadas – José concluiu.

- Ei pessoal – gritou André - o dia está claro, a hora continua no mesmo horário e a bola está no mesmo lugar. Vamos jogar!


Nisso, José e Miguel foram saindo de fininho.

Os meninos olharam os dois e chamam:

- Ei, Miguel e José, onde vocês pensam que vão? Venham jogar bola com a gente!

- Legal, vamos jogar bola - gritou José, e com um sorriso travesso, dá uma piscadinha para Miguel.

E foram jogar bola.