Com o advento da comunicação de massa e das inovações tecnológicas do início do século XX, o rock'n'roll se transformou em um grande fenômeno cultural nos anos de 1950. Gravadores magnéticos, desenvolvidos na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, foram desenvolvidos para criar a indústria fonográfica.
As novas
tecnologias de produção e difusão permitiram a cantores e pequenas gravadoras gravarem
composições de um modo muito simples, dinâmico e independente dos grandes conglomerados
econômicos. Por exemplo, na cidade de Memphis, Sam Phillips, com poucos
dólares, montou seu próprio estúdio e gravou nada mais nada menos do que Elvis
Presley!
Neste
contexto, Pat Boone se refere a si mesmo não como o pai e, sim, a parteira do
rock'n'roll. O que ele quer dizer com isso é que suas versões de músicas de
artistas como Little Richard podiam não ser tão boas quanto as originais, mas
que as versões originais não podiam ser tocadas nas principais estações de
rádio dos anos 50 devido ao racismo da sociedade norte-americana. Ou seja, as
versões de Pat, mais palatáveis ao gosto do cidadão médio, ainda não habituado
às questões relacionadas à luta pelos direitos civis, serviram de abre alas
para um fenômeno musical que ainda estava em estado de gestação.
Realmente,
Pat passou a maior parte do início de sua carreira fazendo cover de canções de
rhythm-and-blues como "Tutti Frutti", de Little Richard. As versões
de Boone, no entanto, tinham uma pegada mais pop e, portanto, digeríveis ao
paladar preconceituoso do público branco da época. Por exemplo, Pat “embranqueceu”
"Ain’t That a Shame" de Fats Domino. Chegou até mesmo a “corrigir” a
gramática, vertendo para a “norma culta padrão” do inglês, como se pode notar no
título da música, que ficou "Isn’t That a Shame".
Muito
embora os críticos de música considerem hoje em dia as versões de Pat uma monstruosa
apropriação cultural, o fato é que alguns artistas negros da época apreciavam essas
músicas cover. O mais curioso é que se inicialmente as versões rhythm-and-blues
de Pat e outros artistas brancos vendiam mais que as músicas originais,
posteriormente, a partir de meados da década de 1950, as versões dos artistas
negros começaram a dominar as paradas musicais. Deste modo, o sucesso das
versões de artistas brancos como Pat acabou por aumentar as vendas das canções
originais e tornaram cantores negros conhecidos do grande público como nunca
antes.
Certa
ocasião, o próprio Fats Domino, para brincar com Boone, o apresentou ao público
apontando o dedo no qual portava um anel de diamantes, para em seguida acrescentar
que a versão do colega branco o ajudou a comprar o tão precioso objeto.
Mais
uma vez o rock’n’roll ajudou a quebrar barreiras, antes intransponíveis.
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