sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Filósofos naturalistas jônicos - parte 1 - Nonas Filosóficas

Pré-Socráticos: Período Cosmológico


A filosofia da Natureza dos Jônios


Consiste o filosofar em cada indivíduo humano intentar por reflexão e meditação próprias formar uma concepção do mundo e da vida, cuja validez possa justificar, e não seja credulamente aceita como evidente por uma espécie de tradicional intuição religiosa. E, é eternamente instrutivo, na filosofia grega, o ver como nela se vão apresentando, com grandiosa simplicidade e sucessão lógica, e encontram a mais profunda resposta, os problemas mais graves que sobre o mundo e a vida surgem ante a meditação humana.



O primeiro problema em volta do qual se moveu a filosofia grega foi a questão da única substância primordial (“arché”) que se encontra na base dos mais diversos aspectos da Natureza e que se conserva no mudar dos acontecimentos. Foi pensado como ser que verdadeiramente é, como eterno, e ao mesmo tempo como fundamento de toda evolução, pois se admitia instintivamente que, do nada, nada podia nascer. Além disso, na admissão de tal substância única, mostrava-se a necessidade da unidade do pensamento humano, que ainda hoje constitui a raiz da chamada concepção monista do mundo; quer dizer, aquela concepção que intenta derivar todo o real de um princípio único.

Chamavam-se “filósofos naturalistas jônicos” aqueles que pretenderam resolver o problema da matéria primordial. Todos procedem de Mileto, a mais importante cidade da Jônia, na Ásia Menor.


Tales de Mileto
O mais antigo de todos, Tales (entre 624 e 545), encontrou na água a matéria primordial; com isso não se referia à água propriamente dita, mas ao estado físico de fluidez ou umidade em geral. Parece que se fundava no fato de ser úmida a alimentação das plantas e dos animais, o calor vital proceder da umidade, e úmido ser também o sêmen das plantas e dos animais. Imaginava a terra como um disco flutuante sobre as águas, por cujos movimentos explicava os terremotos.

Anaximandro
Segundo Anaximandro (I) (610-547), nenhuma das coisas que encontramos na experiência é a substância primordial. Opina que a arché é, ou uma mistura de todas as substâncias, ou então (e é o mais provável) uma substância qualitativamente indeterminada, quer dizer, sem determinada natureza e, por conseguinte, absolutamente indiferenciada. Chama-lhe, do ponto de vista quantitativo, ápeiron (infinito); pois, segundo a sua opinião, uma matéria finita acabaria por esgotar-se na indefinida sucessão de produções. Da substância primordial nascem, por separação, em primeiro lugar, o quente e o frio; com eles se forma o fluido, e depois todas as outras substâncias. Submetidas estas a um movimento de torvelinho, dispõem-se por ordem de peso: o núcleo é constituído pela terra; a sua superfície encontrava-se coberta de água; mas o calor solar acabou por evaporar. A Terra encontra-se rodeada por uma camada de ar e de fogo, da qual se formaram as estrelas, o Sol e a Lua, que giram em torno da Terra. Esta última, que tem a figura de um pequeno cilindro, move-se livremente no centro, para se encontrar equidistante de todos os pontos da esfera celeste. É digno de nota, contudo, uma certa presunção da ideia de evolucionismo: os primeiros animais nasceram do lodo do mar, e deles procederam todos os outros animais, inclusive o ser humano.

(August MESSER, “História da Filosofia”, Editorial Inquérito: Lisboa, 1946. Obra em domínio público).


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