quarta-feira, 25 de março de 2020

Budismo - Série Religiões

Os fatos prodigiosos acerca do nascimento de Buda – como ter nascido do flanco direito de sua mãe, a rainha Maya, depois de ela ter sido visitada por um elefantinho branco descido do céu, e o recém-nascido ter dito: “eu sou o senhor do mundo” – são incertos. Aliás, toda a vida de Buda está envolta em mistérios e lendas. Não é à toa, pois constam 577 biografias de Buda referentes às suas reencarnações anteriores e posteriores ao século VI a.C., período no qual viveu Sidarta Gautama.


Sidarta nasceu por volta do ano 556 a.C., em Kapilavastu, capital de um pequeno reino próximo do Himalaia, território atualmente pertencente ao Nepal. Filho do rei Suddhodana, rico chefe do clã xátria da tribo Sakya, este foi aconselhado a manter o jovem Sidarta isolado do mundo, enclausurado no palácio, entre comodidades e luxo, e recebendo instrução aristocrática para governar. Alheio à vida exterior, sob o teto da casa paterna, se casou aos 19 anos com uma prima, e tendo com ela um filho, Rahula, o Desejado.

Desobedecendo as ordens do pai, Sidarta atravessa os muros do palácio e descobre estarrecido a pobreza em que os súditos vivem. O mundo estava muito longe do esplendor palaciano. Assim, pela primeira vez, fora de sua concha, teve contato com a dor. Mas até mesmo a opulência do palácio era enganadora, rodeado de bajuladores e, evidentemente, traidores, em que estava. Sidarta passa então a fazer considerações sobre a miséria humana e medita sobre a dor que acompanha o ser humano desde o seu nascimento num mundo de aparências. Desgostoso da vida, abandona a mulher e o filho para errar como um asceta mendigo pelo mundo a procura da salvação.

Seis anos depois, tido como santo pelo povo, vive enfurnado numa caverna, meditando na busca do Atman, o mar interior e eterno. Sidarta buscava atingir o êxtase, isto é, o estado de espírito em que, num momento de revelação, pode se contemplar a certeza absoluta, que não necessita de demonstração racional, de que o tempo, a variedade do mundo, o bem e o mal são ilusões, e que, por detrás das aparências, existe um mundo imutável e único. Sob orientação dos brâmanes, vivenciou um longo período de jejum e penitência, tendo a saúde bastante debilitada. Apesar disto, não conseguiu a desejada revelação sobre os problemas relativos à dor, pois o grande problema era como escapar do ciclo das reencarnações.

Entre 532 a 533, renunciou o ascetismo, abandonando o ioga, a penitencia do corpo e adotando uma dieta conveniente. O mundo religioso se mostrou para ele tão ilusório quanto o mundano. Diante disso, os cinco discípulos que o acompanhavam, escandalizados, o abandonaram.

Durante uma noite, Sidarta enfim obteve a iluminação (revelação), enquanto lutava com as ilusões que o demônio Mara produzia em seu espírito. Sua compreensão da natureza das coisas, o seu “despertar”, que o tornou Buda, o Iluminado, no entanto, não se deu através de um estado de êxtase, e, sim, através de seus próprios esforços filósofos.

Após meditar debaixo de uma figueira, procurou os cinco discípulos que o abandonaram e anunciou sua descoberta: é possível quebrar as novas reencarnações e escapar dos sofrimentos do mundo.

Buda formulou a sua doutrina, que é um conjunto religioso e filosófico, como um veículo que transporta os seus seguidores para a santidade e a libertação da dor. Libertação essa que se obtém eliminando de nós todos os desejos. Os desejos, de fato, são a fonte principal das preocupações e, portanto, da dor.

Quando os laços do desejo forem rompidos, será o fim da própria ilusão do eu. Haverá apenas o Nirvana, o verdadeiro conhecimento. Sidarta nunca explicou, no entanto, o que é o Nirvana. Dizia que era algo para ser experimentado e não podia ser expresso em palavras.

Aos monges que o ouviram, Buda resumiu as ideias em quatro pontos – “Quatro Nobres Verdades”:

1 – Tudo é dor;

2 – A dor nasce do desejo;

3 – A dor cessa com a extinção do desejo;

4 – Para obter o fim do desejo é preciso seguir o caminho dos Oito Passos.

Primeiro passo: a compreensão perfeita por meio do estudo da doutrina budista.

Segundo passo: a aspiração perfeita, que se deve obter na intenção de perseverar o caminho budista, e assim alcançar a iluminação espiritual.

Terceiro passo: a fala perfeita, na qual se deve falar de modo verdadeiro, educado, agradável e sereno.

Quarto passo: a conduta perfeita, ou seja, seguir os cinco mandamentos budistas: não matar, não roubar, não cometer adultério, não mentir e não consumir substâncias tóxicas.

Quinto passo: o meio perfeito de subsistência, que é uma conduta de vida que não provoque ofensa à doutrina budista.

Sexto passo: o esforço perfeito para melhorar a personalidade e comportamento conforme os ideais budistas.

Sétimo passo: a atenção perfeita do pensamento procurando verificar erros de conduta.

Oitavo passo: a contemplação perfeita sobre os ensinamentos do budismo.

Para chegar à libertação, existem dois caminhos:

O pequeno veículo liberta só uns poucos, que se dedicam a vida monástica.

O grande veículo diz respeito à salvação universal, em que todas as pessoas podem se tornar um Buda, isto é, iluminado, sem recorrer à vida monástica.

A doutrina budista compreende também um decálogo, fundamentado nos Oito Passos, que os monges devem observar integralmente e que os leigos podem seguir apenas os cinco primeiros:

1 – Não matar nenhum ser vivo;

2 – Não roubar;

3 – Não cometer adultério;

4 – Não mentir;

5 – Não beber substâncias alcoólicas;

6 – Não tomar qualquer alimento, além da refeição do meio-dia;

7 – Evitar os espetáculos mundanos;

8 – Não ornamentar nem perfumar o corpo;

9 – Evitar os leitos macios ou elevados do chão;

10 – Viver em constante pobreza.

Tal qual o hinduísmo, o budismo prega a reencarnação das almas de um ser vivo para outro até a purificação completa quando, depois da última reencarnação, o espírito passa para o Nirvana.

Inversamente ao hinduísmo, porém, nega a existência de um Deus Criador, porque, segundo a doutrina budista, o mundo surge e se desenvolve pela própria vontade (panteísmo), negando também o valor do culto sacrificial.

Restritos a apenas uma refeição por dia, os monges são obrigados à castidade total, à fuga dos prazeres e à pobreza absoluta. Devem apenas a se ocupar do estudo dos textos antigos e das orações, feitas à base de fórmulas, às vezes, mágicas, e das ladainhas.

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