Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, é uma obra que se estabelece no limiar entre o regionalismo e a metafísica, entre a aventura de jagunços e a profunda investigação filosófica. O cerne da crise moral e existencial de seu narrador, Riobaldo, reside na crença de que ele teria firmado um pacto faustiano com o diabo, um evento que, real ou imaginário, desencadeia sua ascensão ao poder e define a trajetória de sua vida.
A Encruzilhada da Alma: Introdução ao Pacto Faustiano
O tema do Pacto Faustiano – a venda da alma em troca de poder, conhecimento ou sucesso – é um dos grandes arquétipos da literatura ocidental. Em Grande Sertão: Veredas, este tema é reinterpretado sob a luz do sertão e da alma brasileira. Riobaldo narra sua vida ao “Doutor” com o objetivo principal de confirmar ou negar a existência desse pacto, que ele crê ter selado com o diabo, possivelmente manifestado na figura de Compadre Quelemém, para garantir a vitória na guerra contra o temível jagunço Hermógenes.
A questão do pacto não é uma mera superstição; é a chave para a exploração de temas universais:
Livre-Arbítrio: As ações de Riobaldo são fruto de sua ambição ou de uma influência demoníaca?
A Natureza do Mal: Onde reside o mal? No poder externo (o Diabo) ou no interior do próprio coração humano?
Culpa e Redenção: A busca de Riobaldo é, em última análise, por absolvição e entendimento de suas culpas.
😈 O Diabo no Sertão: Medo, Mito e Realidade
Para Riobaldo, o diabo não é uma figura abstrata; ele é uma força potente e presente, moldando o medo e a moralidade no sertão.
A Necessidade do Pacto para a Luta Contra Hermógenes
A decisão de Riobaldo de buscar o pacto surge em um momento de desespero e fraqueza estratégica. A luta contra Hermógenes – o jagunço traiçoeiro e violento – parece impossível de vencer pelas vias normais.
A Ambição e o Medo: Riobaldo deseja a liderança e a vitória, mas teme a derrota. O pacto surge como o atalho místico para o poder necessário.
O Local da Transação: O suposto pacto é buscado na Vereda do Fundo, um local carregado de simbolismo, na calada da noite e sob intensa turbulência emocional. Ele espera que a força do mal se manifeste e lhe conceda o poder de transformar-se de Tatarana (lagarta fraca) em Urutu-Branco (serpente temida).
A Figura de Compadre Quelemém
Embora a manifestação do diabo seja ambígua, a figura de Compadre Quelemém é frequentemente associada à encarnação da maldade ou da traição, uma possível máscara do demônio no sertão.
Ele é um jagunço que surge em momentos cruciais, semeando a discórdia e o medo.
Sua ambiguidade moral e seu conhecimento das "coisas ruins" o colocam no imaginário de Riobaldo como um intermediário ou mesmo como o próprio Diabo.
❓ Destino vs. Livre-Arbítrio: O Grande Questionamento de Riobaldo
A crise do pacto leva Riobaldo a uma interminável investigação sobre a sua liberdade de escolha. Se o pacto foi real, suas ações foram predestinadas pelo mal; se foi imaginário, ele é o único responsável pela violência e pelas perdas.
O Efeito Imediato do Pacto
Após a noite na vereda, Riobaldo sente-se inabalável. Ele vence Hermógenes e assume o comando do bando. O sucesso é tão completo e imediato que ele se convence da realidade da intervenção diabólica.
A Busca por Sinais: Riobaldo passa o resto do livro procurando "sinais" de sua alma perdida, tentando medir a extensão da influência do Diabo em seus pensamentos e atos.
O Diabo Não-Existente: A grande ironia do romance, sugerida pela frase final, é que o Diabo é uma desculpa, uma projeção. O mal não está fora, mas inerente às escolhas humanas. “O Diabo não existe. O que existe é o homem, com suas ambições e maldades.” (Esta é a conclusão implícita que Riobaldo se esforça para alcançar).
A Culpa e a Necessidade de Confissão
A narrativa é, em essência, a confissão de Riobaldo. Ele usa a figura do "Doutor" (o interlocutor urbano e letrado) como um padre ou psicanalista, esperando que a organização dos fatos o leve à absolvição.
Narrativa como Terapia: O ato de contar é um ritual de purificação. Ao reviver os momentos de violência e a incerteza do pacto, ele tenta desatar os nós de sua consciência.
A Reconstrução da Moralidade: Para Riobaldo, a verdade não é um fato, mas uma construção alcançada através da linguagem e da memória.
💖 O Pacto e o Amor: A Conexão com Diadorim
O pacto faustiano não é apenas sobre poder; ele se entrelaça inseparavelmente com o mistério do amor de Riobaldo por Diadorim, a outra grande interrogação da sua vida.
O Desejo Proibido: Riobaldo sente que seu amor "torto" por Diadorim (que ele acredita ser um homem) é mais uma evidência da sua alma corrompida pelo Diabo. O pacto seria a causa de seus desejos "desviados".
O Triunfo sobre o Mal: O amor por Diadorim, com sua pureza e lealdade, é o contraponto à escuridão do pacto. A morte de Diadorim e a revelação de sua identidade feminina são o evento que finaliza o pacto (e a vida jagunça), permitindo a Riobaldo retornar à ordem e à vida de fazendeiro.
Conclusão: A Grande Vereda Interior
O Pacto Faustiano em Grande Sertão: Veredas é, em última instância, uma metáfora para a crise da modernidade e a responsabilidade individual. Guimarães Rosa nos força a ver que a luta contra o Diabo é a luta contra o mal que reside em nossas próprias escolhas. Riobaldo, ao final, não descobre se o Diabo existe, mas sim que a verdadeira vereda é a da consciência. A conclusão do seu monólogo é a sua redenção: o reconhecimento de que a vida é feita de mistérios, mas as ações, de responsabilidade.
Perguntas Comuns sobre Grande Sertão: Veredas e o Diabo
Riobaldo realmente fez um pacto com o Diabo?
O romance é intencionalmente ambíguo. A genialidade de Rosa reside em não confirmar o pacto. O sucesso de Riobaldo pode ser atribuído à sua própria astúcia e ambição, e não a uma força sobrenatural. O pacto é mais um estado mental do que um evento factual.
Quem é Hermógenes no livro?
Hermógenes é o jagunço que trai e mata Joca Ramiro. Ele representa a maldade pura, a anarquia e o inimigo jurado que Riobaldo se propõe a destruir. Sua morte é o objetivo imediato que leva Riobaldo a buscar o pacto.
Qual o significado da frase "O Diabo não há. É o que se diz..."?
Esta é uma das frases mais citadas e resume a dúvida central do romance. A frase sugere que, embora o Diabo seja uma poderosa força no imaginário do sertanejo, sua existência pode ser apenas uma crença conveniente para explicar o mal que o próprio homem pratica.
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A ilustração apresenta uma interpretação simbólica de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, centrada no tema do pacto faustiano, da ambição e do conflito entre bem e mal que atravessa toda a narrativa.
No plano central, duas figuras masculinas ajoelhadas se enfrentam diante de uma árvore monumental, cujas raízes e galhos se expandem como um eixo do mundo. À esquerda, vê-se uma figura sombria, de traços duros e quase demoníacos, empunhando uma lâmina: ela sugere a personificação do diabo, do mal metafísico ou da tentação — não como entidade plenamente definida, mas como presença ambígua, exatamente como no romance. À direita, está o jagunço que remete a Riobaldo, em gesto de hesitação e entrega, com a mão estendida, como se estivesse selando um acordo invisível. O contato entre ambos ocorre no nível do coração, reforçando a ideia de que o pacto é interior, moral e existencial, não apenas sobrenatural.
A árvore ao centro funciona como símbolo da encruzilhada, lugar clássico do pacto demoníaco, mas também como metáfora do sertão: espaço infinito, labiríntico, onde as escolhas humanas se entrelaçam. No tronco, um símbolo circular lembra um olho ou mandala, evocando consciência, destino e julgamento.
Nos planos superiores, surgem figuras em nuvens, como visões ou lembranças: de um lado, um rosto masculino severo, associado à autoridade, à culpa ou ao julgamento; de outro, uma figura feminina envolta em suavidade, ligada à memória afetiva e espiritual — evocação clara de Diadorim, cuja imagem paira sobre a trajetória de Riobaldo como amor, mistério e redenção possível.
Ao fundo, o sertão se estende em paisagem árida, com palmeiras, caminhos sinuosos e pequenos grupos armados, remetendo às guerras de jagunços. Essas figuras reforçam que o pacto não ocorre isoladamente, mas em meio à violência histórica, à luta pelo poder e à sobrevivência.
Na parte inferior, serpentes e ornamentos reforçam o clima bíblico e demoníaco, enquanto o título — “Grande Sertão: Veredas – O pacto faustiano: alma e ambição” — orienta a leitura da imagem como uma síntese visual do dilema central do romance: a dúvida sobre a existência do diabo e, sobretudo, sobre a responsabilidade humana pelo mal praticado.
Assim, a ilustração não busca narrar uma cena literal, mas traduzir visualmente a questão fundamental da obra: o sertão está fora ou dentro do homem? E o pacto, afinal, é com o demônio — ou consigo mesmo?









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