Introdução: O Clássico Inacabado de Machado de Assis
A literatura brasileira possui um pilar inquestionável: Machado de Assis. Entre suas obras-primas, Dom Casmurro, publicado em 1899, destaca-se não apenas pela profundidade psicológica de seus personagens, mas também por um dos maiores dilemas da ficção mundial: Capitu traiu ou não Bentinho?
Contado em primeira pessoa pelo próprio Bento Santiago (o Dom Casmurro), o romance é uma narrativa de memória, onde o narrador, já velho e amargurado, tenta "atar as duas pontas da vida", revivendo seu amor de infância e juventude com Capitu e as subsequentes suspeitas de traição.
O que muitos leitores notam é que a história é contada por uma voz altamente parcial e suspeita. Para além do ciúme doentio, há um fator social subjacente que Bentinho utiliza para moldar sua percepção sobre a esposa: a ascensão social de Capitu, uma jovem que, para ele, "subiu na vida" ao se casar com um herdeiro rico. Este artigo otimizado para SEO mergulha na intersecção entre classe, suspeita e o inesquecível enigma de Dom Casmurro.
🎭 O Cenário Social em Dom Casmurro
O romance se passa no Rio de Janeiro do Segundo Reinado, em um ambiente social que valorizava muito as aparências e a manutenção do status quo das famílias tradicionais.
A Divisão de Classes: Bentinho vs. Capitu
A diferença de origem entre os protagonistas é crucial para entender o conflito psicológico e social da obra.
Bentinho (Bento Santiago): Filho único e herdeiro de uma família rica e tradicional. Sua mãe, D. Glória, é uma matriarca devota, e a casa da Rua de Matacavalos representa a solidez e o conforto da elite carioca. Sua vida é de privilégios e expectativas sociais elevadas.
Capitu (Capitolina): Vive na mesma rua, mas sua família tem menos posses. Seu pai, o agregado Pádua, é um funcionário público modesto e vive sob a sombra financeira da família de Bentinho. A diferença de recursos é sutil, mas notória para os padrões da época.
Bentinho, ao longo da narrativa, sempre enxerga a família de Capitu por um filtro de condescendência. Eles são os vizinhos, os agregados, e não iguais. Essa hierarquia social interna, embora Bentinho tentasse negá-la no fervor do amor juvenil, nunca desapareceu por completo.
🪜 Capitu: O Casamento como Ascensão Social
O casamento entre Bentinho e Capitu, embora impulsionado por um amor de infância, carrega um forte componente de mobilidade social para a protagonista.
O Salto de Status
Para Capitu, casar-se com o herdeiro Bento Santiago é mais do que realizar um sonho romântico; é garantir uma vida de conforto, segurança e, acima de tudo, status. A sociedade da época oferecia poucas rotas de ascensão para mulheres de classes menos abastadas, sendo o casamento com um homem rico a via mais eficaz e socialmente aceita.
Segurança Financeira: Ela sai de uma casa de recursos limitados para a opulência da família Santiago.
Reconhecimento Social: O casamento a insere no círculo da elite carioca, elevando sua posição social.
Independência (Relativa): Embora submetida ao marido, ela adquire a independência de não depender do pai.
A Percepção de Bentinho
É aqui que a ascensão social de Capitu se torna uma ferramenta narrativa e psicológica fundamental para Dom Casmurro. Bentinho, em sua mente corroída pelo ciúme, transforma a ambição natural de sua esposa em algo sinistro.
Ele começa a reinterpretar a força de vontade e a inteligência de Capitu—que antes admirava—como sinais de uma natureza calculista e dissimulada.
“A ambição, dizia comigo, pode fazê-la capaz de tudo. Ela subiu na vida casando-se comigo; não hesitaria em usar de meios escusos para manter ou ampliar sua posição.”
A lógica perversa de Bentinho é a seguinte: Se Capitu foi ardilosa e determinada o suficiente para "laçar" um herdeiro como ele (superando a oposição da família), ela seria igualmente capaz de manipular e trair para garantir seu futuro (e o de seu filho, Ezequiel, com o rico Escobar).
Os "Olhos de Ressaca": O Rosto da Ambição
Um dos elementos mais famosos de Dom Casmurro é a descrição dos olhos de Capitu, os famosos "olhos de ressaca".
A Interpretação Dual dos Olhos
Bentinho oferece descrições que são tanto líricas quanto incriminatórias.
| Fase da Relação | Descrição dos Olhos | Implicação na Mente de Bentinho |
| Juventude e Amor | Tão doces e meigos, de cigana, oblíquos. | Encanto, mistério sedutor. |
| Pós-Suspeita | Olhos de ressaca, de água parada, forte, que arrasta tudo para o fundo. | Disfarce, profundidade oculta, perigo, capacidade de traição e manipulação. |
Para o narrador-personagem, a profundidade enigmática dos olhos não é mais apenas um traço de beleza, mas sim o espelho de uma vontade indomável, uma ambição controlada que se manifesta na forma de uma dissimulação. Sua ascensão social não é vista como mérito, mas como um produto dessa "dissimulação congênita".
🤔 Perguntas Comuns Sobre Dom Casmurro e Capitu
1. Capitu realmente traiu Bentinho?
O enigma central de Dom Casmurro é que a verdade é inacessível. Machado de Assis nos apresenta apenas a versão de Bentinho. A obra é uma crítica à parcialidade do narrador e à fragilidade da verdade construída pela suspeita e pelo ciúme. Capitu, a personagem feminina, é silenciada, e o leitor deve decidir se confia ou não no velho e rancoroso Dom Casmurro.
2. Qual é a importância da ascensão social na obra?
A ascensão social de Capitu é vital porque fornece a Bentinho uma motivação racional para sua irracionalidade. Ela transforma o ciúme patológico em uma "suspeita plausível": Capitu é ambiciosa e, portanto, capaz de qualquer coisa. A diferença de classe serve de combustível para a paranoia de classe e de gênero do narrador.
3. Quem é Escobar?
Escobar é o melhor amigo de Bentinho e, de acordo com as suspeitas do narrador, o verdadeiro pai de Ezequiel, o filho de Capitu. Sua morte por afogamento é o evento catalisador que intensifica as suspeitas de Bentinho, levando-o a ver a semelhança entre Escobar e Ezequiel.
💡 Conclusão: A Crítica de Machado ao Narrador Parcial
Dom Casmurro permanece uma obra atemporal não por nos dar uma resposta, mas por nos forçar a questionar o narrador. Machado de Assis usa a figura de Bentinho e a questão da ascensão social de Capitu para fazer uma crítica profunda à sociedade do século XIX.
A obra nos ensina que a perspectiva de classe e o preconceito podem distorcer a realidade, transformando a determinação feminina em malícia e a ambição legítima em cálculo frio. Ao final, o que realmente importa no universo de Dom Casmurro não é a traição de Capitu, mas a incapacidade de Bentinho de amar sem desconfiança, transformando-se em um homem amargo e solitário—o melancólico Dom Casmurro.
🖼️ Descrição da Ilustração: Ascensão Social e Conflito em Dom Casmurro
A ilustração captura o cerne do conflito social e psicológico do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, focando na ascensão social de Capitu.
🧍 Personagens em Destaque
Capitu e Bentinho (D. Casmurro): O casal está em primeiro plano, vestidos com trajes elegantes da elite do século XIX. Capitu, no centro, tem uma postura ereta e segura, com o olhar focado (remetendo aos seus famosos "olhos de ressaca"), segurando sutilmente a mão de Bentinho. Bentinho, à direita, veste-se formalmente (segurando um livro com o título "Dom Casmurro"), mas seu olhar é distante e desconfiado, sugerindo sua postura de narrador amargurado e ciumento.
Pai de Capitu (Pádua): No canto inferior esquerdo, uma figura masculina (que representa o pai de Capitu, Pádua) é vista em uma escala menor, vestindo-se de forma menos luxuosa. Ele está parado junto a uma pequena e humilde casa, simbolizando a origem social mais baixa de Capitu.
🏘️ Elementos de Cenário e Simbolismo
O cenário é dividido entre dois mundos contrastantes, conectados por uma escadaria de mármore:
A Casa Humilde (Origem): No canto inferior, vê-se uma pequena casa, simples e modesta, que representa a residência da família de Capitu (Pádua), contrastando com a opulência da casa de Bentinho.
A Mansão de Elite (Destino): A maior parte da cena é dominada pela fachada imponente de uma grande mansão senhorial, com colunas e escadarias amplas, simbolizando a riqueza e o status da família Santiago (Bentinho).
🔑 Elementos Simbólicos na Escadaria
A longa escadaria de mármore serve como uma metáfora visual da ascensão social de Capitu. Dispostos estrategicamente nos degraus, encontram-se objetos que representam o que Capitu ganha ou busca ao se casar com Bentinho:
Coroa / Brasão de Armas: Simboliza o status social e a honra da família tradicional à qual ela agora pertence.
Cesta de Livros: Representa a educação e o conhecimento que acompanham a ascensão e o acesso à cultura da elite.
Leque e Jóias (Anel de Diamante): Simbolizam a riqueza, o luxo e as convenções sociais da alta sociedade.
Chave Dourada: Representa o acesso e a segurança de ter as chaves da grande casa e da vida confortável.
A ilustração, ao colocar Capitu e Bentinho no topo da escadaria e destacar o contraste entre a casa humilde e a mansão, enfatiza a motivação de ascensão social de Capitu, que é o fator usado por Bentinho para alimentar sua suspeita de que ela é uma mulher calculista e ambiciosa.
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