Quando João Guimarães Rosa lançou Grande Sertão: Veredas em 1956, ele não entregou apenas um romance regionalista, mas um tratado universal sobre a alma. Através do monólogo de Riobaldo, o jagunço-filósofo, a obra mergulha nas profundezas da condição humana e na inevitável angústia metafísica que acompanha o ato de existir. Para o protagonista, o sertão não é apenas uma coordenada geográfica em Minas Gerais, mas um estado de espírito: "o sertão está em toda parte".
Neste artigo, analisamos como a obra questiona o destino, a dualidade entre o bem e o mal, e a coragem necessária para enfrentar o "perigo de viver". Se você busca compreender as camadas filosóficas de Grande Sertão: Veredas, este guia é o seu ponto de partida.
O Perigo de Estar Vivo: A Condição Humana para Riobaldo
A frase mais icônica do livro, "Viver é muito perigoso", resume a visão de Guimarães Rosa sobre a existência. Para Riobaldo, o perigo não reside apenas nas emboscadas dos bandos rivais ou na natureza hostil, mas na incerteza inerente às escolhas humanas.
A condição humana em Grande Sertão: Veredas é marcada por:
A Inconstância do Real: "O real não está no início nem no fim, ele se mostra pra gente é no meio da travessia."
A Necessidade de Escolha: Viver exige decidir, e decidir implica em renunciar e enfrentar o desconhecido.
O Desamparo Existencial: O homem está só diante de suas dúvidas, e o silêncio de Deus (ou do Diabo) acentua sua angústia.
Angústia Metafísica: O Diabo, o Acaso e o Destino
A grande obsessão de Riobaldo ao longo da narrativa é a existência do Diabo. No entanto, essa dúvida é uma metáfora para a angústia metafísica: se o mal existe fora de nós (o Diabo), somos vítimas; se o mal está dentro de nós (nossas escolhas), somos responsáveis.
O Dilema do Pacto e o Mal Interior
Riobaldo narra sua possível pactuação nas Lajes do Rio de Janeiro não como um evento sobrenatural claro, mas como uma incerteza torturante. Ele quer saber se o mal que ele praticou como chefe de bando veio de uma força externa ou de sua própria vontade. Essa dúvida reflete a luta humana para encontrar sentido no caos moral do mundo.
O Acaso versus a Providência
O protagonista oscila entre acreditar que tudo é "tiro que o destino acerta" ou que o mundo é movido pelo puro acaso. Essa tensão é o motor da sua angústia. Em Grande Sertão: Veredas, o personagem tenta, através da memória, ler os sinais do passado para entender se sua vida teve um propósito ou se foi apenas uma sucessão de eventos fortuitos.
O Sertão como Espelho da Existência
O sertão de Rosa é metafísico. Ele é vasto, sem fronteiras e imprevisível, funcionando como um espelho da própria mente humana.
A Solidão e a "Travessia"
A "travessia" é o conceito central da obra. Ela representa a jornada da vida. No sertão/vida, as veredas (os caminhos de água e vida) são raras e difíceis de encontrar em meio à aridez. A solidão de Riobaldo é a solidão do homem moderno que, apesar de estar rodeado de companheiros (os jagunços), precisa enfrentar seus próprios demônios internos sozinho.
Coragem e Medo: A Dualidade do Jagunço
Para Rosa, a coragem não é a ausência de medo. "O que a vida quer da gente é coragem", diz Riobaldo. A coragem é a capacidade de agir apesar da angústia metafísica. O medo é o reconhecimento da fragilidade humana; a coragem é a afirmação da vontade de ser, mesmo diante do "perigoso" ato de viver.
A Travessia Final: O Amor por Diadorim
Não se pode falar da condição humana nesta obra sem mencionar Diadorim. O amor de Riobaldo por Diadorim é o ponto máximo de sua angústia. É um amor que desafia as leis do sertão e a própria identidade do protagonista.
O Desejo Proibido: Riobaldo sofre por amar alguém que ele acredita ser um homem, questionando sua própria natureza.
A Revelação e a Perda: A descoberta da verdadeira identidade de Diadorim (Maria Deodorina) ocorre apenas na morte. Isso simboliza a tragédia da condição humana: o entendimento muitas vezes chega tarde demais, e a beleza é inseparável da dor.
FAQ: Perguntas Comuns sobre Grande Sertão: Veredas
O que significa a frase "Viver é muito perigoso" em Grande Sertão: Veredas?
Significa que a vida é imprevisível e que cada escolha carrega um risco existencial. O perigo não é apenas físico, mas a incerteza moral e a responsabilidade pelas próprias ações.
O Diabo realmente aparece para Riobaldo?
A obra mantém a ambiguidade. Nunca há uma confirmação visual ou física clara. Para Riobaldo, o Diabo "existe e não existe"; ele é mais uma representação da dúvida e do mal potencial do ser humano do que uma entidade concreta.
Por que o livro é considerado existencialista?
Porque foca na liberdade de escolha, na angústia diante do vazio, na construção da essência através da ação e na busca de sentido em um mundo que parece absurdo ou caótico.
Qual a importância da linguagem para a obra?
Guimarães Rosa reinventa o português para expressar o inefável. A linguagem complexa obriga o leitor a fazer sua própria "travessia", sentindo a dificuldade e a beleza da existência através das palavras.
Conclusão: A Atualidade de Guimarães Rosa
A angústia metafísica de Riobaldo é a mesma do homem contemporâneo, perdido em um mar de informações e incertezas. Grande Sertão: Veredas permanece como um guia espiritual e literário porque não oferece respostas fáceis. Pelo contrário, ele nos ensina que o importante não é chegar a um destino, mas a forma como atravessamos o nosso próprio sertão.
A obra de João Guimarães Rosa é um convite para olhar para dentro e reconhecer que, embora viver seja perigoso, é na travessia que encontramos nossa humanidade.
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