Se você acha que o País das Maravilhas era um lugar estranho, prepare-se para atravessar o cristal. Publicado originalmente em 1871, Alice no País do Espelho e O Que Ela Encontrou Por Lá (Through the Looking-Glass, and What Alice Found There) é muito mais do que uma simples continuação. É uma exploração profunda sobre lógica, linguagem e a transição da infância para a vida adulta, tudo orquestrado sob as regras rígidas — e ao mesmo tempo absurdas — de um tabuleiro de xadrez gigante.
Neste artigo, vamos desvendar o que Alice encontrou do outro lado do vidro, os personagens icônicos que moldaram sua jornada e por que esta obra de Lewis Carroll continua a fascinar leitores e estudiosos mais de 150 anos depois.
O Despertar da Curiosidade: O que Alice Encontrou por Lá?
A história começa em uma tarde de inverno, onde Alice, curiosa como sempre, questiona como seria o mundo do outro lado do espelho de sua sala. Ao atravessar a superfície vítrea, ela não encontra apenas uma cópia invertida de sua casa, mas um universo onde a lógica é ditada pelo nonsense e pela matemática.
Diferente do primeiro livro, onde o tema central eram as cartas de baralho e o caos, em Alice no País do Espelho, o mundo é organizado como um enorme tabuleiro de xadrez. Alice entra no jogo como um Peão Branco e sua meta é clara: atravessar as oito casas (ou campos divididos por riachos) para se tornar uma Rainha.
A Estrutura do Jogo: O Xadrez como Fio Condutor
Uma das características mais geniais de Lewis Carroll (pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson) foi estruturar a narrativa de acordo com uma partida de xadrez real. Cada movimento de Alice no território corresponde a um movimento técnico no tabuleiro.
A Corrida da Rainha Vermelha
Um dos encontros mais famosos de Alice é com a Rainha Vermelha. É aqui que surge o conceito da "Hipótese da Rainha Vermelha", frequentemente usada na biologia evolutiva. No livro, a Rainha explica que, naquele mundo, "é preciso correr o mais rápido possível apenas para permanecer no mesmo lugar". Isso simboliza a luta constante para manter o status quo em um ambiente em rápida mudança.
De Peão a Rainha
A jornada de Alice é uma metáfora para o crescimento. Ao avançar pelas casas, ela enfrenta desafios que exigem maturidade e o entendimento de regras sociais complexas. Ao final, ao tornar-se Rainha, Alice percebe que o poder traz suas próprias confusões e responsabilidades.
Personagens Icônicos e seus Significados
O que Alice encontrou por lá foram figuras que desafiam a razão. Cada personagem representa um aspecto da linguagem ou da filosofia.
Tweedledum e Tweedledee: Os gêmeos idênticos que nunca concordam e vivem em um ciclo de brigas infantis. Eles apresentam a Alice o conceito de "existência", sugerindo que ela pode ser apenas um objeto no sonho do Rei Vermelho.
Humpty Dumpty: O ovo gigante sentado em um muro é um mestre da semântica. Ele afirma que as palavras significam exatamente o que ele escolhe que elas signifiquem. É um debate fascinante sobre quem detém o poder sobre a linguagem.
O Cavaleiro Branco: Muitas vezes visto como um alter ego do próprio Lewis Carroll, o Cavaleiro é um inventor atrapalhado e gentil que protege Alice em sua última etapa antes da coroação. Sua despedida é um dos momentos mais melancólicos e ternos da obra.
O Jabberwocky (Jaguadarte): Embora seja um monstro mencionado em um poema, sua presença paira sobre a obra. O poema "Jabberwocky" é o maior exemplo de construção de palavras inventadas que, através do som, transmitem significado.
Temas Centrais: Além do Nonsense
O Espelhamento e a Inversão
Tudo no País do Espelho funciona de trás para frente. Para chegar a um lugar, você deve caminhar na direção oposta. Para oferecer um bolo, primeiro você o distribui e depois o corta. Essa inversão desafia a percepção sensorial de Alice e do leitor, sugerindo que a realidade depende do ponto de vista.
O Crescimento e a Perda da Inocência
Enquanto Alice no País das Maravilhas foca na infância lúdica, Alice no País do Espelho lida com a transição. Alice está mais velha, mais assertiva e, por vezes, mais solitária. A partida de xadrez é a estrutura da vida adulta: cheia de regras que parecem arbitrárias para quem está de fora.
Diferenças entre o Livro e as Adaptações Cinematográficas
Muitas pessoas conhecem a história através das lentes da Disney ou de Tim Burton. No entanto, há diferenças cruciais:
O Tom da Narrativa: O livro de Carroll é muito mais focado em jogos de palavras e lógica matemática do que em ação ou vilania épica.
A Rainha Vermelha vs. Rainha de Copas: Frequentemente confundidas, são personagens distintas. A Rainha de Copas (do primeiro livro) é a fúria cega ("Cortem as cabeças!"). A Rainha Vermelha é rígida, formal e segue regras estritas de etiqueta.
A Ausência do Chapeleiro Maluco: No livro original do Espelho, o Chapeleiro aparece brevemente como "Hatta", um mensageiro anglo-saxão, mas o foco é totalmente voltado para os novos personagens do tabuleiro.
Perguntas Comuns sobre Alice no País do Espelho (FAQ)
1. Qual a principal diferença entre o primeiro e o segundo livro de Alice?
O primeiro livro (País das Maravilhas) é baseado em um baralho de cartas e foca no caos e na queda de Alice no desconhecido. O segundo (País do Espelho) é baseado em um jogo de xadrez, focando em regras, inversões e no progresso linear de Alice para se tornar adulta.
2. O que significa o poema Jabberwocky?
O poema é uma peça de "literatura nonsense" que utiliza palavras inventadas para criar uma atmosfera de aventura e perigo. Ele demonstra como a estrutura da linguagem pode transmitir emoção mesmo sem palavras de dicionário.
3. Quem é o Rei Vermelho no livro?
O Rei Vermelho é um personagem que passa a maior parte do tempo dormindo. Tweedledee sugere a Alice que ela é apenas um personagem no sonho dele, levantando a questão existencial: quem está sonhando com quem?
Conclusão: Por que Ler Lewis Carroll Hoje?
Alice no País do Espelho continua relevante porque fala sobre a busca de identidade em um mundo que nem sempre faz sentido. Lewis Carroll conseguiu capturar a essência da curiosidade humana e a estranheza das convenções sociais. Ao fechar o livro, ficamos com a mesma dúvida que Alice: "Afinal de contas, quem foi que sonhou a coisa toda?"
Se você busca uma leitura que desafie seu intelecto e alimente sua imaginação, atravessar o espelho é um passo obrigatório.
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(*) Notas sobre a ilustração de Alice no País do Espelho:
A ilustração recria o universo de Alice no País do Espelho, de Lewis Carroll, destacando o tema central da obra: o mundo invertido, regido por lógica paradoxal, espelhamento e deslocamento da identidade.
No primeiro plano, vemos Alice diante de sua própria imagem refletida, ambas com as mãos tocando-se como se o espelho fosse uma superfície permeável. Esse gesto simboliza a travessia entre realidades e a duplicação do eu: a Alice que observa e a Alice observada, sugerindo que o País do Espelho não é apenas um espaço físico, mas também mental e simbólico, onde as regras do mundo comum deixam de valer.
O chão em padrão de xadrez é um elemento central da composição e faz referência direta à estrutura do livro, concebido como uma grande partida de xadrez. Alice é uma peça em movimento, atravessando casas e enfrentando figuras que obedecem a uma lógica própria, muitas vezes absurda. O tabuleiro reforça a ideia de destino predeterminado, mas também de aprendizado progressivo, já que Alice avança de casa em casa rumo à compreensão daquele mundo.
Ao fundo, surge a imponente figura da Rainha Vermelha, em marcha rígida e autoritária. Sua postura severa e sua presença dominante simbolizam o poder arbitrário, a rigidez das normas e a violência da linguagem no País do Espelho, onde correr é obrigatório para permanecer no mesmo lugar e a obediência é exigida sem explicação racional.
Espalhados pela paisagem aparecem personagens icônicos como Humpty Dumpty e Tweedledum e Tweedledee, além do Cavaleiro Branco, que avança de forma quase onírica. Essas figuras representam diferentes formas de distorção da lógica: o jogo com as palavras, a identidade fragmentada, o nonsense e a inversão de causa e efeito, marcas fundamentais da obra de Carroll.
A moldura ornamental, repleta de flores, ramos e pequenos coelhos, cria um contraste entre delicadeza visual e estranheza conceitual, reforçando o caráter de fábula filosófica da narrativa. A paisagem bucólica e luminosa, apesar de aparentemente harmoniosa, é atravessada por situações ilógicas, revelando que o absurdo se esconde sob uma superfície encantadora.
Assim, a ilustração traduz visualmente o espírito de Alice no País do Espelho: uma jornada de autoconhecimento em um mundo onde tudo é duplicado, invertido e questionado, convidando o leitor a refletir sobre identidade, linguagem, poder e a própria natureza da realidade.









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