Confúcio
nasceu no ano 551 a.C., tempo de trevas para a China, quando nobres movidos por
sentimentos caprichosos eram capazes de cometer atos de extrema crueldade
contra seus servos e a punição mais comum no país era a mutilação dos pés dos
condenados, o que resultava numa legião de aleijados. À época, a China estava
dividida em diversos Estados autônomos, à semelhança de um regime feudal, e em permanente
estado de guerra. Os camponeses também eram superexplorados e sujeitos a todo
tipo de arbítrio e tributação. Ou seja, um cenário de injustiça que certamente
inspiraria as ideias do confucionismo por um mundo melhor.
Descendente
de nobres empobrecidos – a família de Confúcio estava ligada à dinastia que
governou a China de 1588 a 1409 a.C., da cidade de Tsu, Estado de Lu – o verdadeiro
nome de Confúcio era Kung Ch’io. Quando nasceu, seu pai tinha 60 anos e sua
mãe, apenas 15. De estatura elevada, ultrapassava facilmente os dois metros, e
por isso era conhecido por "gigante"; mas, pouco tempo depois, Kung Ch’io
passou a se chamar Confúcio, palavra que significa "o mestre".
Recebeu educação necessária para ocupar a função de funcionário burocrático e,
ambicioso, conseguiu um emprego de contador na administração local, onde
esperava galgar posições de destaque na carreira.
No
entanto, a vaidade pessoal fomentada pelo cargo dá lugar a um desejo de ajudar
a melhorar as condições de vida de seu povo, o que o leva a um estado de
meditação e estudo. Durante esse período, dedica-se a compor uma doutrina
pessoal e, então, inicia o ensino dessas concepções. Abre uma escola a qual
acorriam ao mesmo tempo até três mil alunos provenientes das mais remotas
regiões da China. Como mestre, Confúcio era bastante exigente: "Não ensino
nada a quem não faz esforço para compreender", dizia em tom resoluto. As
suas matérias preferidas eram a escrita, a matemática e a música. Apaixonado pela
antiguidade, procurou estudá-la a fundo e transmiti-la aos seus discípulos. Mas
os alunos também o procuram porque através de seus ensinamentos podiam se
aprofundar em filosofia, história e literatura.
O
objetivo de Confúcio era o de preparar funcionários para um novo estilo de
administração pública. Realmente, sua doutrina visava criar um novo tipo de
aristocracia baseada no mérito, ao invés da tradição hereditária.
Tornou-se
governador numa cidade, superintendente nos trabalhos públicos e, finalmente,
ministro da justiça. Disse a respeito do seu governo: “Tudo corria
maravilhosamente bem; nos homens admirava-se a sinceridade e a fidelidade e,
nas mulheres, a modéstia e a castidade, até os comerciantes se comportavam
honestamente”. Fez prosperar a tal ponto o principado de Lu, do qual era a
chefe, que os principais rivais, para impedir que se tornasse demasiadamente
poderoso, enviaram ao rei oitenta belíssimas dançarinas e quarenta quadrilhas
de cavalo, com o fim de o corromperem. O rei caiu na armadilha e se deixou
arrastar para corrupção. Confúcio tentou atraí-lo ao justo caminho mas, vendo
que os seus esforços eram inúteis, foi para o exílio.
Retornou
após catorze anos e se dedicou exclusivamente aos estudos. Vivia de maneira
simples e frugal: “Sinto-me feliz de me alimentar com alimentos rudes, de beber
água e de me servir do meu braço como cabeceira para dormir. As riquezas e as
honras adquiridas com os meios injustos são para mim como nuvens
flutuantes".
Na
sua doutrina, Tao é o conceito
central que significa “caminho”, ou modo de vida ideal para o indivíduo e para
o Estado. Sob tal princípio, não recomendava sanções nem prometia recompensas,
apenas o cumprimento das virtudes, sinceridade, bondade, respeito e justiça, de
modo que, praticadas, a miséria, a injustiça, o sofrimento e a guerra seriam
suprimidos.
É
bastante ambígua a relação de Confúcio perante a religião. De um modo geral, evita
a se envolver em assuntos religiosos, apreciando apenas seus aspectos
tradicionais, estéticos e valores baseados na solidariedade familiar. Não há um
juízo de ordem transcendental em suas doutrinas ou um triunfo final e redentor
da justiça; apenas a recompensa proporcionada pela paz de espírito diante da
satisfação de uma conduta generosa.
Todavia,
parece que Confúcio admitia a existência de Deus, um ser supremo, partindo das
coisas terrenas, chamado Ti (Dominador), e mais tarde Tien (Céu): "As
quatro estações se sucedem regularmente e as coisas falam como se fossem a voz
de Deus”, escreveu.
Porém,
grande parte da doutrina de Confúcio diz respeito às normas da vida prática: amar
ao próximo, sinceridade, justiça, apreço aos valores morais, coragem, sabedoria,
sentido de humanidade para com o próximo e consciência das vontades dos céus.
"Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam".
Pregava
o amor aos pais, fazendo ofertas em sua honra. Com o fim de continuar a vida paterna
através de muitos filhos, permitia mesmo a poligamia.
O
estado é visto como uma grande família. O rei é mandado por Deus. "Um
príncipe mal nunca será obedecido, um bom consegue tudo mesmo sem dar
ordens". Por tanto, venerava o rei ou o Imperador "representante de
Deus" e as almas dos antepassados.
Para
Confúcio, os homens são todos iguais no momento do nascimento e depois se
diferenciam em quatro categorias: os "santos", que possuem a ciência
e a virtude de forma natural; os "homens superiores", que conquistam
a virtude e a ciência com o seu esforço; os "estúpidos", que não
conseguem atingir a virtude e a ciência, apesar dos seus esforços; e os "loucos",
que não fazem nada para saírem de sua estupidez.
Chama-se
confucionismo o conjunto de doutrinas religiosas e políticas, morais e
filosóficas que Confúcio recolheu da antiguidade e transmitiu a seus discípulos.
Embora não sendo propriamente nenhuma religião tampouco filosofia, o
confucionismo ocupou para os chineses o lugar de uma e de outra.
O
confucionismo interpretado livremente pelo filósofo Chuhsi (1130-1200) nega a
existência de qualquer divindade e, portanto, é ateu.
Os
maiores adeptos de Confúcio foram Mêncio e Chuhsi. O primeiro tentou conservar
íntegro os ensinamento do mestre; o segundo, pelo contrário, deu aos seus
textos sobre Deus uma interpretação materialista.
A
Confúcio foram erigidos templos e monumentos. Parece, porém, que este culto
tinha caráter civil, não religioso; tanto que, para entrar nos templos de
Confúcio, era preciso pagar bilhete, tal como nos museus.
Atualmente,
na China, os jovens depuseram Confúcio de seu trono milenário e consideram-no
como patrono da extinta monarquia.