segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Excluídos apresenta vídeo clipe do single “Filhos da Desilusão”

Novo single do quarteto paulista de punk rock ganha seu vídeo clipe oficial

Após o lançamento nas plataformas de streaming, o novo single dos Excluídos, “Filhos da Desilusão”, apresenta sua versão em vídeo clipe nesta segunda-feira (14). A canção é o terceiro single do próximo trabalho do grupo e, inclusive, leva o nome do próximo disco full da banda.

Filhos da desilusão

O quarteto, composto por Ronaldo Lopes (vocal e guitarra), André Larcher (guitarra e backing vocals), Caio Klasing (baixo e backing vocals) e Raphael Menuzzo (bateria), apresenta uma de suas composições mais fortes, mantendo a postura da banda de expressar suas opiniões sem medo de julgamentos e com embasamento nas mensagens transmitidas.

Em “Filhos da Desilusão”, os Excluídos conversam com o público, expondo ideias e pontos de vista que mostram os problemas que o neoliberalismo e o sistema capitalista geram nas pessoas, criando questões internas muito complexas.

“Essa música fala da crise do capitalismo, que foi vendido como uma ideia boa, como se todos tivéssemos escolhido isso. Ela expõe que o capitalismo não deixa nossa vida bem e isso traz frustração. Isso está criando uma massa de desiludidos e se não tivermos políticas de reparação isso gerará conflitos”, explica Ronaldo.

Além de um trabalho primoroso na construção da letra, o novo single mostra o cuidado do grupo na questão musical. Com arranjos instrumentais muito bem trabalhados a música possui o peso e a urgência do punk rock, aliado linhas vocais, de guitarra, baixo e bateria extremamente melodiosas e harmônicas.

“Ela é a música mais densa do disco, ela é pesada, é carregada. Não é um tema simples, porque você não está falando do que o neoliberalismo faz com os povos, com o planeta, e sim o que faz comigo, com você, com a sua vida individual”, completa André.

Com a proposta de lançar singles acompanhados de videoclipes, o grupo gravou, produziu e editou todo o trabalho por conta própria.

“Filhos da Desilusão” é o último single que o quarteto lança, antes do disco full, que será estará disponível em março. O show de lançamento do álbum será dia 19 de março, no Hangar 110, em São Paulo.

OS EXCLUÍDOS

Formado em 1998, na cidade de São Paulo, por Ronaldo Lopes, os Excluídos são uma das principais vozes do punk rock nacional do século 21. Parte da chamada “segunda geração” do estilo pelo jornalista e escritor Antonio Bivar, a banda foi incluída com destaque na reedição de 2001 do icônico livro “O Que É Punk” (Editora Brasiliense).

A angústia e a rebeldia, inerentes do espírito adolescente, aliadas ao gosto pela música, foram os principais combustíveis para o nascimento do grupo.

Influenciados por grandes nomes de bandas inglesas e norte americanas do final da década de 1970, como The Clash, Buzzcocks, Ramones, Damned, The Jam, Sex Pistols, entre outros, o grupo agregou uma nova linguagem ao punk brasileiro.

Aliando musicalidade à energia do estilo, os Excluídos trouxeram letras que exploram a individualidade com poesia, sem perder o lado questionador e combativo do punk rock.

A banda também se destaca na questão estética, com um visual mais sóbrio, que vem dessas influências. Assim, seus integrantes sempre se apresentam utilizando ternos, camisas, costeletas, topetes e, até mesmo maquiagem, com as lágrimas que se tornaram uma assinatura do quarteto.

Com apresentações ao vivo cheias de energia e que geram diferentes sensações, o quarteto incendeia o público que acompanha seus shows.

Não à toa, desde seu início a banda conquistou espaço em grandes eventos do rock independente nacional, como os festivais: A Um Passo do Fim do Mundo (2002), Rock em Sampa (2002), Grito das Mulheres no Ipiranga (2004), Rock nos Trilhos (2005), O Fim do Mundo, Enfim (2012), Outubro Independente (2016), Tomada Rock Festival (2017), Festival Oxigênio (2018), entre outros.

Além disso, os Excluídos já passaram por palcos importantes como Hangar 110, Carioca Club, diversas sedes da rede SESC, na capital paulista e no interior do Estado, Centro Cultural São Paulo, Fiesp, casas de cultura espalhadas pelo país e inúmeras casas de shows da cena underground brasileira.

Com essa bagagem o quarteto já dividiu o palco com grandes nomes da música tanto nacionais, como CPM 22, Ratos de Porão, Inocentes, Cólera, Garotos Podres, Lobão, entre muitos outros, quanto internacionais, como Stiff Little Fingers, GBH, Rezillos, The Adicts, Toy Dolls e TSOL.

Focada sempre em apresentar sons autorais, a banda fez seus primeiros lançamentos em coletâneas independentes. Em 2000 lançou o disco “Apostando Tudo”, um split com a também paulista Flicts. O trabalho foi bastante impactante e muito bem recebido pelo público.

Em 2002, lançam seu primeiro trabalho completo, “Antes de Tudo”, com oito canções. Já com um pouco mais de experiência, o trabalho apresenta um disco mais maduro e, provavelmente, um dos mais marcantes dos Excluídos, colocando-os como um dos grandes expoentes da nova geração do punk nacional.

Após um longo período sem lançamentos, mudanças na formação e quatro anos de um intenso processo de produção, em 2014, foi lançado o álbum “Meus Dilemas”. Com 13 faixas, de diversos momentos da carreira da banda, o disco foi totalmente feito pelo quarteto, sem interferências externas. Um trabalho que explorou e ousou em sua construção de melodias, harmonias e temáticas de cada música.

O último lançamento do grupo é o single “Sua Vida Por Um Triz”. No melhor estilo dos antigos singles lançados em vinil, o trabalho, apesar de ter sido lançado digitalmente, possui duas músicas. Além da faixa tema, também está presente o som “Só Mais um Degrau”.

Atualmente, o quarteto se prepara para lançar seu terceiro disco full, “Filhos da Desilusão”, que será disponibilizado nas plataformas digitais em 2022.

Após algumas mudanças de formação, atualmente os Excluídos são, além de Ronaldo (voz e guitarra), os músicos Caio Klasing (baixo e backing vocal), André Larcher (guitarra e backing vocal) e Raphael Menuzzo (bateria).

Contatos:

E-mail: excluídos.excluidos@gmail.com

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

O Quixotesco Miguel de Cervantes

“De feições aquilinas, cabelos castanho, testa lisa e serena, de olhos alegres, nariz torto, mas bem proporcionado, barba prateada – há apenas 20 anos, era cor de ouro – grandes bigodes, boca pequena, restaram apenas seis dentes e esses mesmos em mau estado e pior colocação, pele clara, compleição um tanto pesada e andar um pouco lento”. Assim Miguel de Cervantes Saavedra descrevia a si mesmo, talvez, com bom humor e voz risonha.

Miguel de Cervantes Saavedra

O autor do magistral romance Dom Quixote nasceu numa antiga e bela cidade próxima de Madri, Alcalá de Henares, em 1547. Filho de Rodrigo e de Leonor de Cortinas, seu pai era um boticário cirurgião, profissão que mal proporcionava uns poucos rendimentos para o sustento da família. Em suas memórias, Miguel se lembrava de seu pai juntando quinquilharias domésticas para quitar débitos e, depois, sendo levado preso pela polícia por não pagar as dívidas acumuladas.

Aos 22 anos, Cervantes não possuía nada além de sonhos de glória. Muito pouco se sabe como o jovem obteve instrução e é possível que tenha frequentado a Universidade de Salamanca, trabalhando nas horas vagas como pajem de estudantes ricos. Mas sua formação como romancista se deu nas ruas da cidade, em ambiente rude, repleto de infortúnios e provações. No teatro, Cervantes gastava todo o seu dinheiro, algo que não foi em vão, pois os palcos foram a grande escola onde aprimorou seu espírito artístico e descobriu o poder da fantasia.

No ano de 1569, após um duelo, foge para Itália e se alista no exército espanhol. Pela primeira vez come com regularidade e veste roupas limpas e bonitas: um vistoso uniforme militar.

Em 1571, a poderosa esquadra turca avança para o Ocidente. O Sultão Selim II pretendia arrancar a Cruz da Igreja de São Pedro, em Roma, e erguer, no lugar, o Crescente islâmico. Para deter o avanço turco pelo Mar Mediterrâneo, o rei Filipe II da Espanha, país que figurava como a grande potência europeia da época, envia navios comandados pelo seu meio-irmão Dom João da Áustria para unir forças com os Estados Pontifícios e Veneza. 

Miguel de Cervantes servia na frota e foi para a guerra.

Na Batalha de Lepanto, os aliados enfrentaram a esquadra turca na mais sangrenta batalha naval de que já se teve notícia. Os navios afundam um depois do outro e os soldados se enfrentam em encarniçada luta corpo a corpo. Pelo menos 8.000 cristãos e 25.000 turcos morreram em combate. Durante a escaramuça, Cervantes, que, para piorar, sofria com os males da malária, é atingido por dois tiros que o acertam o peito e um outro que o perfura o braço esquerdo. Ao final da luta, os turcos saem derrotados.

Em 1575, Cervantes vai para a Espanha, portando consigo uma carta de recomendação de Dom João ao rei Filipe II, o que lhe rendia a expectativa de garantir um bom emprego público. Mas os viajantes foram atacados por piratas mouros e levados como escravos para a Argélia. Muito embora a deficiência de sua mão causada pela ferida de guerra o salvasse de uma vida infortunada nas galés, Cervantes não escapou de um destino sombrio, tornando-se escravo de Dali Mami, um cristão renegado. Ao ler a carta de recomendação de Cervantes, Mami imaginou obter um lucro vultoso com um prisioneiro tão valioso e exigiu um bom resgate.

Os meses se passaram e por mais de uma vez Cervantes organizou tentativas de fuga. Capturado todas as vezes, assumiu audaciosamente a responsabilidade pelas conspirações. Foi condenado à morte, mas sua coragem o salvara, pois os muçulmanos nutriam especial admiração pela bravura de um guerreiro.

Após cinco anos de cativeiro, sua família, na Espanha, conseguiu pagar o resgate. Libertado em 1580, passou dois anos em Portugal, antes de retornar à Espanha. No solo da terra natal, descobriu a indiferença com que os ex-combatentes de guerra eram tratados. Então Cervantes se dedica a escrever.

Em 1585, publica uma “pastoral” chamada Galatea, na qual retrata a vida de pastores sobranceiros e pastorinhas ardilosas. O estilo elegante, mas artificial, do livro rendeu apenas o suficiente para o autor comprar um terno de casamento e alguns ducados de dote para a noiva, Catalina de Palácios Salazar y Vozmediano, moça quase duas vezes mais nova.

Casa-se e vive por algum período em Esquivias, povoado de La Mancha. Então, o casal se muda para Madri, onde Cervantes passa a conviver na companhia de atores e escritores boêmios.

Enquanto o casamento vai afundando, Cervantes escreve uma dezena de peças que mal dão o suficiente para sobreviver. Para piorar, surge em cena um jovem escritor, Félix Lope de Vega, que logo se tornaria um aclamado autor de sucesso. Não havia mais lugar para Cervantes na dramaturgia espanhola.

Então, Cervantes guardou a sua pena e foi trabalhar como cobrador de impostos. Além disso, também se tornou responsável por angariar fundos destinados à Invencível Armada, já que a Espanha se preparava para entrar em guerra contra a Inglaterra. A má administração dos recursos e a quebra do banco em que guardava a arrecadação acabaram o levando para trás das grades.

A convivência com os presos, porém, forneceu material de sobra para Cervantes maturar suas ideias numa futura aventura literária. Olhando através das grades da janela da prisão, remontava em pensamento para as estradas da Andaluzia, onde encontrava atores ambulantes, sacerdotes da igreja, mouros andarilhos, donzelas disfarçadas de rapaz, ciganos vendedores de cavalos, camponeses em fuga para cidade, bêbados etc. Os anos passados na vida militar também darão colorido especial ao enredo das páginas escritas mais tarde, quando o velho soldado lembrava deliciosamente das boas tabernas, do vinho italiano e das belas mulheres. Ao sair da prisão, estava pronto para a grande obra de sua vida.

E não havia momento mais apropriado para o pobre escritor de 58 anos retratar, com base nas reminiscências de sua vida, a figura excêntrica que devia condensar perfeitamente a então conjuntura da Espanha. Humilhada pela Inglaterra, sua Invencível Armada jazia no fundo do mar, arrastando com ela a crença romântica do glorioso reino espanhol fadado a dominar o mundo.

Enfim, Cervantes apresentava o remédio que cicatrizaria, através do riso, as feridas da Espanha: Dom Quixote, o Cavaleiro de La Mancha, e seu fiel escudeiro Sancho Pança.

Publicado pela primeira vez em 1605, a fama de Dom Quixote correu a Espanha. Quando começou a escrever, Cervantes pretendia apenas ridicularizar os tolos romances de cavalaria que estavam tão em moda naquela época. Motivado pelo afã das grandes façanhas, o personagem principal, Dom Quixote, sonha em reviver o esplendor das histórias de cavaleiros medievais. Para isso, recruta o pobre campônio Sancho Pança e parte em busca de aventuras fantásticas, como salvar donzelas sequestradas e lutar com terríveis dragões.

Todavia, o tresloucado cavaleiro começou a conquistar a admiração do público, que amava sua nobreza de caráter, além do desajustado companheiro que o acompanha. A princípio, este parece ser mais um bronco interiorano; ledo engano, Sancho Pança, ao longo do romance, revela um extraordinário senso de realidade e passa a contrapor com extremo bom-senso às insanidades de seu amo.

O ponto de partida da história é a região de La Mancha, no centro da Espanha, caracterizada por planícies, onde, ainda hoje, erguem-se, desgastados pelo tempo, os mesmos moinhos de vento descritos no romance. Habitada por poucas aldeias e alguns pastores com seus rebanhos, Dom Quixote é, no entanto, uma narrativa pujante povoada por mais de 600 personagens que atravessam as páginas desse que é considerado, pela crítica literária, o primeiro grande romance já escrito.

Numa das passagens mais notórias da literatura universal, o cavaleiro andante luta contra moinhos de vento, que acredita serem gigantes, e é desafortunadamente lançado para longe, caindo de cabeça para baixo.

“Lutar contra moinhos de vento” ou ser “quixotesco” se tornaram expressões da cultura humana, incorporadas em todas as línguas. Atualmente, o romance se divide em duas partes que aparecem juntas, em volumes que constituem um dos grandes tesouros da cultura ocidental. Muitos artistas, Goya, Picasso, Dalí, Masson, entre outros, reverenciaram o personagem e Dom Quixote ultrapassou as páginas da literatura para também estrear no palco do teatro, na opera e no cinema.

Mas quem nunca lutou com seus moinhos de vento? Eis a força e a magia de Dom Quixote.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

100 mil visitas - Gratidão!!!

 Neste mês de dezembro atingimos a marca de 100.000 visitas!!!


Os editores do blog Verso, Prosa & Rock’n’Roll agradecem a tod@s @s noss@s leitorxs pela inestimável colaboração.

Feliz Natal e um Ótimo Ano Novo!

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Benvenuto Cellini, o gênio aventureiro

Benvenuto Cellini nasceu em Florença no ano de 1500, filho de Giovanni Cellini, fabricante de instrumentos musicais, de quem herdou a habilidade manual, e Maria Lisabetta Granacci. O patriarca Giovanni queria seu filho músico e, por isso, os dedinhos ágeis do menino sobre as notas da flauta arrancavam lágrimas de alegria dos olhos paternos. A depender da vontade do pai, o futuro de Cellini já estava traçado trabalhando ao seu lado na oficina.

Retrato de Benvenuto Cellini

Realmente, Cellini era muito talentoso e, quando adulto, chegou a ser músico do Papa. Mas, desde a infância, Cellini gostava mesmo era do barulho dos martelos nas bigornas, do resfolegar dos foles, das faíscas que os rebolos tiravam das gemas brutas, do flamejar das brasas produzidas pela forja dos artesões nas ourivesarias.

Assim, para escapar das admoestações de seu pai, o rapaz costumava fugir para cidades vizinhas e passar meses fora de casa trabalhando como aprendiz de ourives. Aos 19 anos, partiu a pé para Roma, onde se dizia que o Papa dava dinheiro aos artistas como as fontes da cidade brotavam água.

Em Roma ganhou muito dinheiro e dentro de pouco tempo montou sua própria oficina. Mas um tiro certeiro de pistola daria início a uma sequência de aventuras que marcaram a conturbada vida de Cellini.

Em 1527, Roma estava sitiada. O Imperador Carlos V, da Áustria, ameaçava a cidade. Suas tropas eram comandadas pelo Duque de Bourbon, o Condestável da França.

Cellini montava guarda como sentinela voluntário quando viu os inimigos se aproximarem com uma escada de mão para escalar as muralhas da cidade e invadi-la. Cellini então apontou o arcabuz para o líder do grupo e bummm, atirou! A historiografia narra que naquele dia o Condestável foi morto por um sentinela anônimo. Teria sido Benvenuto Cellini? Se nos fiarmos nas palavras do próprio, sim!

Terminada a guerra, Cellini se tornou gravador da Casa da Moeda do Vaticano. Quando seu irmão foi morto numa briga de rua, o arrojado ourives não só jurou vingança como fez justiça com as próprias mãos.

Em 1537, fui aprisionado por ordem papal, conseguindo fugir pouco tempo depois sem muito sucesso, pois acabou preso novamente. Nesse meio tempo, Francisco I, da França, manifestou o desejo de nomear Cellini como ourives real. Um cardeal influente moveu os cordões junto ao Papa e Cellini foi liberto e transportado para a corte mais luxuosa da Europa. Foi nessa época que Cellini forjou o celebrado saleiro de ouro.

Em 1545, após algumas intrigas palacianas, envolvendo uma amante do rei, Cellini foi obrigado a regressar para Florença. Tornou-se então protegido do Duque Cosimo de Medici, notável patrono das artes. Cosimo sugeriu a Cellini que fizesse uma estátua do herói mitológico grego que matou a Medusa, o lendário Perseu. Empreendimento dos mais difíceis já realizado por um artista em toda a história, Cellini cuidou detalhadamente da tarefa monumental que o colocaria entre os maiores escultores de todos os tempos. A estátua de Perseu foi colocada no centro de Florença, onde ainda hoje se encontra.

Ao longo de sua vida, saíram de suas laboriosas mãos exóticos anéis, camafeus, broches, facas e punhais marchetados, jarros, cintos de prata para noivas, armas etc. Com sua arte, sustentou não apenas seus pais como também uma irmã viúva e seus seis filhos, jovens estudantes de arte e modelos e até uma família necessitada com a qual não tinha parentesco algum.

No século XVII, a descoberta de uma obra prima da literatura renascentista revelaria mais uma faceta do artista genial: Autobiografia, escrita por Cellini. O manuscrito ficou perdido por quase um século mas quando foi publicado contagiou a Europa como uma febre alucinante. Goethe traduziu a obra para o alemão, Berlioz compôs uma ópera chamada Benvenuto Cellini e Alexandre Dumas citou-a em Ascanius, além de se inspirar nas narrativas autobiográficas do ourives aventureiro para criar o personagem D’Artagnan, de Os Três Mosqueteiros.

Cellini, um gênio completo.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Hank Ballard - Pioneiros do Rock'n'Roll

Hank Ballard nasceu em Detroit, no dia 18 de novembro de 1927. Aos 7 anos, foi morar com alguns parentes muito religiosos no Alabama, onde começou a cantar música gospel na igreja. Na adolescência, porém, o blues passou a se tornar uma verdadeira obsessão musical na vida de Ballard. A música country também viria a influenciá-lo, especialmente o famoso artista Gene Autry.

Casal dançando rock and roll

Quando completou 15 anos, retornou novamente a Detroit. Enquanto trabalhava na linha de montagem de uma fábrica de automóvel, Ballard cantarolava algumas notas com seu timbre característico de tenor, impressionando muito um outro operário, Sonny Woods, que na época fazia back vocal num grupo de doo-wop chamado The Royals.

Em 1953, Ballard foi convidado para substituir o vocalista dos Royals. No entanto, as composições de Ballard acabaram por influenciar radicalmente a banda, que, por influência dele, adotou um som mais agressivo, áspero e animado, deixando para trás as canções melosas e sonhadoras que haviam sido até então a marca registrada do grupo.

A primeira gravação de Ballard com The Royals foi “Get It”, de 1953, que alcançou o Top Ten nas paradas de R&B. No ano seguinte, a banda mudou de nome, alterando-o para Midnighters, com o intuito de evitar que fosse confundida com um outro grupo - The Five Royales.

E neste mesmo ano, os Midnighters lançam seu hit de maior sucesso, “Work with Me Annie”, de autoria de Ballard, que atingiu o primeiro lugar nas paradas de R&B, apesar do boicote de muitas estações de rádio, por causa da letra bastante obcena da cançao.

De fato, as canções escritas por Ballard solidificariam a reputação da banda como a mais picante do R&B.

Ironicamente, seu maior sucesso veio com o lançamento de uma de suas músicas – “The Twist” - gravada por outro artista. A partir de 1963, Ballard saiu dos Midnighters e seguiu uma obscura carreira solo.

Embora Hank Ballard seja desconhecido do grande público, sua influência no desenvolvimento do rock’n’roll é inegável e por isso entrou merecidamente no Rock and Roll Hall of Fame em 1990; os Midnighters, em 2012.

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Tragédia: Medeia de Eurípedes (Parte 3)

Há poucos dados biográficos seguros sobre Eurípedes; sua figura transmitida na Antiguidade constituía, sobretudo, a partir de sua representação em Aristófanes, sem se levar em conta o jogo próprio da comédia, como se veria quando da discussão de As Tesmoforiantes. A partir do Romantismo, foi construída uma tese de uma progressiva racionalização que foi de Ésquilo a Eurípedes, e que teve seu auge com Nietzsche: a decadência do gênero trágico. (Ler também: O nascimento da tragédia - Nietzsche). 

Medeia, Eurípedes

Entre 455 e 405, as peças de Eurípedes entraram em competição vinte e duas vezes. Saíram-se vencedoras por quatro vezes (Sófocles ganhou dezoito). Medeia é de 431 e pertence a uma tetralogia que ficou em terceiro lugar. Embora tenha recebido o primeiro prêmio poucas vezes ao longo de sua vida, não há dúvida de que Eurípedes foi um tragediógrafo de grande importância.

Eurípedes passou seus últimos anos na Macedônia na corte do Rei Arcesilau junto com vários artistas atenienses, o que indica não só o prestígio do próprio Eurípides mas também do gênero literário a que este esteve vinculado, cuja popularidade fora de Atenas só aumentou no século IV. Enquanto Ésquilo saía de moda e Sófocles mantinha seu prestígio, Eurípides passou a ser o mais festejado dentre eles. Daí a grande influência de Eurípedes sobre a Comédia Nova, no que diz respeito aos enredos e sabor retórico das falas das personagens.

Medeia: a história

A história da expedição dos Argonautas é no mínimo tão antiga quanto à tradição oral que deu origem à Ilíada e Odisseia. Na tradição oral dos mitos heroicos, as histórias contadas não tinham uma única forma fixa, mas multiformes, ou seja, possuíam uma estrutura que podia ser preenchida por diversas formas narrativas, sendo que a variação era ocasionada por diferentes fatores, sendo o uso pouco difundido da escrita, pelo menos até meados do século V, apenas um deles. As variações, porém, tinham um certo limite: não era possível uma versão da guerra de Tróia ou da viagem de retorno de Odisseu na qual Tróia não fosse conquistada pelos gregos ou o herói da Odisseia perecesse antes de chegar a Ítaca. Quanto ao público, os espectadores esperam que a história que vão ver e ouvir terá diferenças mais ou menos substanciais em relação as outras formas da mesma, via de regra, amplamente difundidas desde sua infância pelas mulheres da cidade - mãe, ama - e também por uma série de práticas sociais cotidianas que podiam representá-las pictoricamente não só nos frisos dos templos mas em uma profusão de objetos de cerâmica usados para os mais diversos fins.

Quanto à história de Jasão e Medeia, ela pode ser resumida da seguinte forma: Jasão, quando criança, foi educado pelo centauro Quíron, enquanto seu tio Pélias era rei de Iolco (nota-se que no período arcaico praticamente não existia mais monarquias na Grécia). Jasão chega à cidade para reclamar sua herança e é enviado até Cólquida (hoje Geórgia, no extremo leste do Mar Negro), terra governada por Aetes, para realizar uma missão impossível: roubar o Velo de Ouro. Jasão constrói um navio chamado Argo e reúne diversos dos melhores heróis de sua geração, entre eles, Peleu, Télamon, Orfeu e Héracles (este viria a abandonar a expedição antes de seu término). Para realizar suas façanhas, recebe ajuda dos deuses e da filha de Aetes, Medeia, que se apaixona por ele. Para convencer a moça, Jasão suplica, persuade e a seduz para obter ajuda, prometendo levá-la embora com ele e depois se casarem. Sem ajuda de Medeia, Jasão não teria conseguido realizar as provas de Aetes: subjugar o touro que cospe fogo, plantar sementes de dragão e derrotar os combatentes nascidos da terra. Medeia ajuda Jasão a conseguir o Velo de Ouro, guardado por uma serpente. Também mata o próprio irmão Apsirto. Em Hesíodo, Medeia é imortal e divina; mas mortal, em Eurípedes.

Ao chegar em Iolco, é com a ajuda de Medeia que o rei Pélias é assassinado; rei esse que depusera do trono o pai de Jasão, Aeson. Na ocasião, Medeia havia falsamente prometido ao rei Pélias torná-lo jovem para que este deixasse um descendente masculino. Morto o rei, o casal muda-se para Corinto, onde ambos são estrangeiros. Jasão, porém, logo abandona Medeia para se casar com a filha do rei de Corinto.

Sobre a trágica morte dos filhos de Medeia e Jasão, conhecemos estas versões:

a) Os coríntios matam os catorze filhos do casal, pois não queriam ser governados por uma feiticeira estrangeira (Jasão havia se tornado rei); como purgação, a cada ano, catorze jovens passavam uma temporada no templo de Hera Akraia;

b) Medeia mata Creonte e se refugia em Atenas, mas deixa os filhos, muito pequenos, em Corinto no templo de Hera. Eles são mortos pelos coríntios que, por sua vez, acusam-na de matá-los;

c) Os filhos morrem através de uma tentativa de torná-los imortais.

Quanto a Teseu, é uma espécie de herói nacional ateniense pelo menos desde o século IV. Seu pai Egeu casa-se com Medeia. O filho volta, incógnito, posteriormente. Medeia o reconhece antes do pai, tem medo, e tenta se livrar dele por duas vezes. Antes da segunda tentativa, o pai o reconhece e bane Medeia.

Fontes:

EASTERLING, P. E. (org.) The Cambridge companion to Greek tragedy. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.

GOLDHILL, S. Amor, sexo & tragédia. Zahar: Rio de Janeiro, 2007.

MASTRONARDE, D. J. Euripedes: Medeia. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.

MEDALHA, D. Tragédia grega: o mito em cena. Ateliê Editorial: São Paulo, 2003.

MOSSMAN, J. Euripedes: Medeia. Oxford: Aris&Philipps, 2011.

ROISMAN, H. M. (org.) The encyclopedia of Greek tragedy. Chichester: Wiley-Blackwell, 2014.

ROMILLY, J. A tragédia grega. Edições 70: Coimbra, 1999.

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quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Ricky Nelson - Pioneiros do Rock'nRoll

Sensação adolescente nos EUA durante os anos 1950 e 1960, Ricky Nelson foi músico, cantor, compositor e ator. Pioneiro do country rock, influenciou artistas como Buffalo Springfield, Linda Ronstadt e The Eagles.

Ricky Nelson

Nasceu Eric Hilliard Nelson, de uma família de músicos, em Teaneck, New Jersey, no dia 8 de maio de 1940. Aos 8 anos de idade, iniciou sua carreira artística estreando o seriado humorístico de rádio e televisão “The Adventures of Ozzie and Harriet”. No episódio “Ricky the Drummer”, realizou uma performance como cantor ao dublar a música I'm Walkin, do astro do rock Fats Domino.

Na adolescência, tocou clarinete, bateria e também aprendeu os primeiros acordes de guitarra, tendo por influencia Carl Perkins e demais artistas de rockabilly.

Para tentar impressionar uma namorada, Ricky decidiu produzir um disco e, com a ajuda do pai, assinou contrato com uma gravadora. Em março de 1957, grava I'm Walkin, A Teenager's Romance e You're My One and Only Love.

Em 1957, lança seu primeiro single Be-Bop Baby e, depois, seu primeiro álbum “Ricky”, que alcançaria o primeiro lugar nas paradas de sucesso.

Entre 1958 e 1959, Ricky superou Elvis Presley, emplacando doze sucessos – um a mais que o rei do rock!

Em 1959, sua fama o levaria a estrear um papel no filme de faroeste “Rio Bravo”, ao lado de John Wayne e Dean Martin.

Em 1987, entrou no Rock and Roll Hall of Fame.