domingo, 25 de março de 2018

Gênero feminino – substantivo

J. P. A. Gonçalves

Gênesis 2:20 – “Assim o homem deu nomes a todos os rebanhos domésticos, às aves do céu e a todos os animais selvagens. Todavia não se encontrou para o homem alguém que o auxiliasse e lhe correspondesse”


O elemento mais fundamental da formação da linguagem é o nome. A linguagem nada mais é do que um conjunto articulado de nomes. Nomeia-se tudo: seres, entidades, objetos, coisas, concretas ou abstratas, lugares, relações, ações, qualidades, quantidades etc.

A palavra, como ensina Saussure, é um signo arbitrário. Portanto, o nome é uma convenção, social, cultural e historicamente engendrada. Nada diz em si mesmo. Por exemplo, “ (nǚ) não significa nada para um falante de língua portuguesa. Na China, todos sabem que é “mulher”.

O nome só ganha sentido quando está referenciado a um conteúdo externo à linguagem e reconhecido por uma comunidade linguística comum.

No princípio, Adão só podia apontar os animais. Deus, no entanto, lhe deu a faculdade de nomeá-los e Adão nomeou todos os animais em um único dia com nomes que lhes correspondiam exatamente; a cada espécie um nome. Estes nomes eram universais e idênticos aos seres indicados – aqui faço uma alusão de passagem à teoria do conhecimento de Walter Benjamin. Mas não havia ninguém que chamasse Adão pelo nome que de fato era.

Foi Eva que lhe deu nome: homem.

Adão não tinha sexo antes de Eva, pois é a condição de mulher que define a condição de homem.

Foi a mulher que inventou o gênero e fez do homem homem. Não o homem enquanto ser genérico, uma ficção – o homem não é o homem nem a mulher é o homem. Mas o fez enquanto ser humano, tão humano e tão igual a ela própria, tão humana.

Adão, que comeu do fruto proibido, culpou Eva por sua fraqueza, não assumindo assim sua responsabilidade. Eva, mais honesta, confessou sua falta. Ambos, iguais em pecado, mas não em dignidade, foram expulsos do jardim do Éden.

Muito mais tarde, a linguagem, que era um espelho da realidade, foi perdida com a construção da Torre de Babel.

O signo passou a ser arbitrário e através da força bruta, o homem dominou a mulher e a fez escrava! Passou então a ditar, e ditar, e ditar, e ditar... fazendo da palavra sua imagem e semelhança.

A mulher, após século de escravidão, se rebelou e fez do gênero feminino sua força e identidade, e a cada dia vem conquistando mais e mais liberdade, inclusive de dar nomes!

No mundo atual, as mulheres nomeiam as coisas como elas de fato são: a poeta, a presidenta, a poderosa etc.

Todavia, a linguagem precisa ser revolucionada, ainda.

As palavras, apesar de serem signos arbitrários, têm sexo. Assim, “panela” é feminino; “carro”, masculino etc.

O gênero na língua é meramente gramatical, estabelecido por convenção, em sociedades patriarcais. Por isso, a primazia do masculino.

Na gramática, o gênero nem sempre se conhece por sua significação ou terminação.

- Quanto à significação, o gênero feminino é dado conforme o sexo do ser referenciado, seres humanos ou animais:

Mulher, Roberta, menina, poeta, santa, meretriz, gata, leoa, presidenta etc.

- Ou o gênero é meramente gramatical:

Mesa, cadeira, televisão, luz etc.

SUBSTANTIVOS FEMININOS

- Todos os substantivos que admitem o artigo “a” pertencem ao gênero feminino.

A mulher, a águia, a grua, a pitonisa etc.

- Quanto à significação, são femininos:

a) Nomes de mulher ou ocupação por elas exercida:

Margarida, Lilian, Beatriz, escritora, presidenta etc.

b) Nome de animais do sexo feminino.

Égua, pata, cadela etc.

c) A maioria das árvores frutíferas e de flores:

Laranjeira, rosa, margarida etc.

d) Nome de cidades e ilhas nas quais a cidade e a ilha estão subtendidas:

Fortaleza, Campinas, Ilha Bela, Ilha das Canárias etc.

- Quanto à terminação em geral, os nomes terminados em -a átonos:

Menina, flauta, águia, cadeira etc.
Exceções: clima, dia, planeta etc.

- Geralmente, são femininos os substantivos abstratos terminados em -ão:

A comunicação, a solução, a opinião etc.

- Os substantivos que designam pessoas e animais se flexionam em gênero e apresentam, em geral, duas formas diferentes.

Mulher – homem
Filha – filho
Rainha – rei
Presidenta – presidente
Leoa – leão
Égua - cavalo

quinta-feira, 15 de março de 2018

A mulher inventou o rock'n'roll - especial 8 de março

Especial: Sister Rosetta Tharpe



Conforme já havíamos anunciado no post “Dia da consciência negra é rock’n’roll”, no mês da mulher, prestaremos uma homenagem a Sister Rosetta Tharpe, a mulher que inventou o rock and roll.


No princípio era Sister Rosetta Tharpe.


De fato, se por um acaso Sister Rosetta Tharpe não brilhasse sua estrela no princípio, isto é, no gênesis do rock’n’roll, tocando freneticamente sua guitarra e se tornando modelo inspirador de toda uma geração posterior, Elvis Presley, Little Richard, Johnny Cash, Jerry Lee Lewis, entre outros, jamais teriam sido astros do rock e, provavelmente, teriam seguido profissões muito diferentes e nunca seriam lembrados.

“Irmã” Rosetta, como ficou conhecida, por causa de sua música gospel, chegou ao estrelato em 1938, com o disco "Rock Me". Mulher, negra, cantando e tocando sua própria guitarra elétrica, numa sociedade segregacionista, repleta de valores conservadores, Sister foi uma pioneira do gênero musical que mudaria o mundo e transformaria para sempre tendências e comportamentos. 

Sua primeira música a romper o círculo fechado do Rhythm and Blues (ou R&B), na época restrito aos “guetos negros”, foi "Strange Things Happening Every Day" (1945), que alcançou a segunda posição nas paradas de sucesso e se tornou um paradigma para o rock’n’roll.

Durante toda a década de 1950, Sister Rosetta chegou a fazer muito sucesso e lotava casas de show por onde passava. Entre as muitas de suas apresentações, Sister convidou para dividir o palco um menino chamado Richard Wayne Penniman de apenas 14 anos! Sim, Sister Rosetta trazia ao mundo aquele que se tornaria mais tarde o grande Little Richard.

Sem dúvida nenhuma, Sister Rosetta Tharpe foi a progenitora de Elvis Presley, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis, e todos os outros. Johnny Cash se referia a Sister como a sua cantora favorita.

No início dos anos sessenta, a revolução musical que ela ajudou a criar relegou-a injustamente ao esquecimento. Então Sister Rosetta mudou-se para a Inglaterra, e nas cidades de Londres e Liverpool se apresentou para muitos jovens fãs de blues.

Sem Sister Rosetta Tharpe, o rock’n’roll não existiria (nem este blog). Ela é a mãe fundadora que deu à luz a sucessivas gerações de roqueiros pelo mundo todo.

Discografia selecionada


“Rock Me,” “That’s All,” “The Lonesome Road” • (1938) “Shout, Sister, Shout!” • (1942) “Strange Things Happening Every Day” (1945) • “Nobody’s Fault But Mine” (1949) • Gospel Train (1956) • Sister On Tour (1961) 

Leia também: Jimi Hendrix, o black power do rock


quinta-feira, 1 de março de 2018

A abelinha sem asas


A abelhinha sem asas - Infantil



Nilza Monti Pires

Num abelheiro, a tristeza era muito grande, a rainha das abelhas ficou tão doente que a pobrezinha não resistiu e morreu.

Todas as abelhinhas dessa colmeia ficaram desesperadas, além de gostarem muito da abelha rainha, elas ficariam totalmente desamparadas, pois todas vivem em comunidade em função da rainha.

Somente a abelha rainha põe os ovos e sem a rainha a colmeia iria desaparecer totalmente.

Acontece que antes de morrer, a abelha rainha deixou milhares de ovinhos que iam nascer em breve.


- Que será de nós?! Disse uma das abelhinhas, chorando.

Outra respondeu:

- Ainda temos uma esperança nesses ovinhos que estão por nascer.

- Estou muito preocupada, se entre esses ovinhos não nascer uma abelha rainha, nossa colmeia vai se extinguir. Indagou outra, aflita.

- Essa ideia me apavora... Sempre fazemos tudo com perfeição, construímos os favos, cuidamos dos ovos, produzimos o mel...

- Pois é, vamos torcer para que nesses milhares de ovinhos nasça a nossa rainha. Concluiu uma das abelhinhas.


E assim passaram alguns dias e numa tarde quente de verão nasceram as novas abelhinhas.

Ficaram todas na maior expectativa. A rainha tinha que nascer!

Quando viram que a abelhinha rainha tinha nascido, a alegria foi geral.

- Eu não falei que a rainha ia nascer!

Mas a abelhinha rainha nem se movia, nasceu sem asas, enquanto os seus irmãozinhos já estavam voando.

Todas ficaram apreensivas. A imensa alegria demorou pouco.


No dia seguinte, todas as abelhinhas operárias que nasceram saíram tristemente voando de cá para lá, dançando, em zigue-zague, pois na linguagem das abelhas elas comunicam umas às outras dessa maneira, indicando onde se encontra o néctar das flores, matéria prima do mel, e também avisando a presença de qualquer perigo.


A abelhinha rainha estava cada vez mais fraquinha, não adiantava nem se alimentar com geleia real, estava entediada e lamentava a triste sorte de não poder voar.

As abelhas operárias e os zangões também lamentavam a triste sorte da abelha rainha e o destino cruel que reservava para toda a colmeia, caso ela viesse a perecer.

As abelhas operárias se multiplicavam em atenções, para preservar sua rainha que estava muito fraca.


Num certo dia chuvoso, surpreenderam a abelhinha rainha numa poça de água, fazendo um zumbido tão alto que as abelhas operárias correram em sua direção, para acudi-la, já que parecia estar se afogando.

- Hoje estou muito feliz, disse a abelhinha rainha.

Todas as abelhinhas não entenderam nada, mais ficaram muito satisfeitas de ver sua rainha pela primeira vez feliz.

Aí uma abelhinha disse para outra:

- Coitada da rainha, ela se sente muito humilhada por não poder voar. Mas gostamos dela assim mesmo, do que jeito que ela é.

- É verdade, eu tenho observado isto. Mas, para deixá-la um pouco mais feliz, até podemos construir uma pequena prensa no corpo dela, duas chapas de madeira perfuradas de zinco e arame de ferro galvanizado e assim ela vai poder voar com asas postiças.


Numa bela manhã, a abelha rainha avisou que subiria no alto de uma montanha.

- Mas como? Dizia uma abelhinha operária indignada. Você não tem asas!

- Vou subir numa montanha muito alta, onde passa um rio, para apreciar a paisagem. Quero ver o mundo lá de cima, como vocês veem. Respondeu a abelha rainha.

- Não faça isso... a montanha é muito alta e além disso você pode cair e se afogar no rio.

E assim a abelhinha rainha começou a subir a montanha, acompanhada por outras abelhas, que voavam à sua volta e tentavam dissuadi-la. Nada, porém, detinha a abelha rainha. O percurso era difícil, levou mais de duas horas para subir. De lá de cima se ouvia o barulho da água do rio.


Outras as abelhas, no entanto, ficaram ao pé da montanha, de olhos fixos, vendo a abelha rainha subir palmo a palmo a montanha.

- Desista! Gritavam as abelhinhas operárias e os zangões.

- Ah! eu não quero nem ver. Se ela cair de tão alto, não vai sobrar nada.

- Já temos tantos problemas!

- Por que ela não muda de ideia?

- Fraca do jeito que ela está é bem capaz de cair mesmo.

- Xiiii.... Ela caiu mesmo! Vem descendo girando que nem um parafuso!


Quando a abelhinha rainha estava quase chegando rente ao chão, perto das outras abelhinhas, com tanta precisão e exatidão abriu suas lindas asas e começou a voar.

- Vejam, a rainha está voando... Como pode?!!!

- E que belas asas! E tão fortes!

E todas foram ao encontro da abelha rainha felizes da vida.


- Como conseguiu voar, abelha rainha, e de onde saíram estas asas?

- Descobri que minhas asas estavam coladas. Naquele dia em que choveu, eu fui sentir a água da chuva e as asas descolaram. Por isso, eu estava tão feliz.

- Agora nós entendemos.

- Mas porque subiu tão alto, se arriscando para mostrar suas belas asas?

- Queria fazer uma surpresa. Queria mostrar que tenho asas e sou igual a vocês.

- Ora, você é a nossa rainha, gostamos da sua perseverança, capacidade e inteligência! Para nós, pouco importa se você tem asas ou não. Gostamos de você de qualquer maneira.

- Vamos brindar, disse a rainha, com a nossa geleia real, essa bebidinha perfeita, poderosa e muito nutritiva, que só nós sabemos fazer!

E a colmeia viveu feliz para sempre.


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Transgredir por transgredir - Fecaloma - Clássicos do punk BR

Fecaloma: 20 Anos de Transgredir por Transgredir


punk rock: Fecaloma

Há vinte anos, era lançado o álbum “Transgredir por transgredir”, da banda paulistana Fecaloma, hoje um clássico do punk rock da geração dos anos 1990. Depois do boom dos anos 80, capitaneado pelas bandas Inocentes, Ratos de Porão, Cólera e Garotos Podres, o movimento punk entrou numa fase de inatividade, pelo menos musicalmente. No início dos anos 90, não havia mais apresentações de bandas punks nos clubes e bares da cidade de São Paulo e parecia mesmo que o referido gênero musical havia se esgotado. Entretanto, as gangues continuaram circulando pelo centro e periferias da metrópole à procura de diversão. Entre uma peripécia aqui, outra ali, muitos dos garotos e garotas punks tinham bandas que ficavam restritas às “garagens” de suas casas, onde rolavam os “shows”. Este fenômeno passou despercebido por um bom tempo. Contudo, já nos vislumbres do novo século, como uma panela de pressão, do nada estourou uma nova onda de bandas punks que se espalhava por todos os cantos da cidade e tomava de assalto outra vez o cenário underground. Apareceram então os Invasores de Cérebros, Deserdados, Execradores, Filhos da Desordem, Hiccups, Colisão Social, Gritando HC, Pé Inchado, Cosmogonia, Phobia, Excluídos, Flicts, Calibre 12 e inúmeras outras que não caberiam nesta breve postagem. O surgimento desta nova geração de bandas punks foi possível graças ao baixo custo de produção do quase extinto, hoje, CD. Os primeiros lançamentos foram as coletâneas SP Punk, que chegariam a quatro volumes. Daí em diante cada banda passou, quando podia, a produzir seus próprios CDs. 


É neste contexto que “Transgredir por transgredir” é gestado. Com um estilo punk rock bem cru e simples, a la Ramones, e apresentando desafinações e erros de gravação, o Fecaloma apostava principalmente em suas letras iconoclastas, que escandalizavam até mesmo os punks mais radicais. Canções como Primeiro da Classe (“Eu vou cabular/E fazer da minha vida um recreio” – refrão), O Dever Me Chama (“Quando o trabalho/O dever me chama/Eu prefiro descansar”), Nada Vai Mudar (“Não se anule/Vote nulo/A cidadania é uma farsa/Não passe em branco/Não seja um número/Senão, nada vai mudar), João Consumo (“João Consumo era tão frio quanto seu freezer/João Consumo fazia sexo com sua televisão”), Transgredir por transgredir (Tudo é tão vazio/Eu quero um sentido pra viver:/ Transgredir por transgredir/Não tenho nada pra fazer/Vou sair e dá porrada”), entre outras, causavam polêmica e, às vezes, detratação de alguns. Algumas músicas foram espantosamente proféticas, pois, em América Latina, a letra dizia em bom portunhol, no trecho final: “Non hay nada mejor neste mundo/Do que uma guerrilha civil/Entre una democracia y ditatura/Entre otra democracia e ditadura/Y assim voy viviendo mi vida/Pois yo soy latino americano.../Hei gringos y traidores!/Façam fila no paredón/Voy mandar usted/Sabrá Dios pra onde..”). Já O que há de errado com os vermes? incorria no nonsense (“Quando os vermes entupirem as privadas/E saírem pelo seu nariz/Quando as crianças comerem lombrigas/Que parecem macarrão/Quando sua filhinha pedir de Natal/Uma tenia solium/Quando sua esposa estiver grávida/De uma minhocoçu”). A canção intitulada simplesmente É também vai por essa linha e o refrão dá bem o seu tom: "O que é? O que é? O que é? É! É! É! É! É!). A Delinquentes ou inocentes engrossa o velho tema do repertório punk em sua crítica virulenta ao establishment ("Mas se o sistema é violento delinquente/Como copo haver inocente?/Quem é que faz a violência/Delinquentes ou inocentes?). Músicas que hoje são inconfundivelmente a marca do Fecaloma.


A banda ainda lançaria mais dois CD, “Rebelião Adolescente” (2001) e “Ocupar e Resistir” (2005), sempre misturando um humor sarcástico com uma contundente crítica político social, pela perspectiva do Anarquismo. (A propósito, todos os discos estão disponíveis no Youtube, aqui, aqui e aqui, respectivamente). Em 2017, a banda retornou depois de quase dez anos parada. Nesse meio tempo, nas redes sociais e internet, sofreu ataques de fascistas e nazis, mas nada que fizesse a banda desistir de seus ideais libertários. Para fechar este texto, transcreveremos a letra mais emblemática do Fecaloma, Sertapunk, que apresenta um arranjo punk rock e hardcore à moda do sertanejo de raiz, numa tentativa paradoxal de unir o humanismo universal da Anarquia às raízes regionais do Brasil.

SERTAPUNK

Meu país começa
Nos meus olhos
E se encerra
No horizonte

Minha bandeira
É minha roupa
E todas as cores
Da terra

O hino que canto
É uma música qualquer
Que me deu vontade
De cantar...

(Hard Core)

(disco completo)

01 - Dança da Chuva
02 - Nada Vai Mudar
03 - É
04 - Delinquentes ou Inocentes?
05 - Violência Sub/City
06 - João Consumo
07 - O Que Há de Errado Com os Vermes?
08 - Transgredir Por Transgredir
09 - Sertapunk
10 - Alguém me Segure
11 - O Dever Me Chama
12 - Primeiro da Classe
13 - Sem Nome
14 - Século XXI
15 - América Latina
16 - Os Últimos Espermatozoides Radioativos
17 - Marchinha de Bach

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Quincas Borba: Schopenhauer Tropical

Considerações sobre o Humanitismo e Schopenhauer


J. Pires de A. Gonçalves

Pode se dizer que a obra de Machado de Assis é marcada por um grande pessimismo em relação à humanidade. Machado traz à luz as pequenas violências do cotidiano que não são passíveis de punição social, senão, no máximo, de reprovação moral. Porém, ainda que reprováveis, no fim das contas, o que vale são os fins, não importando os meios empregados para alcançá-los, e aquilo que era vilania torna-se objeto de mérito. Os fins acabam por purgar as atitudes mais traiçoeiras, desleais, desonestas, dos personagens mais abjetos, movidos apenas por interesses mesquinhos, que acabam por granjear a estima social pelo êxito conquistado, assim como é o caso do casal Sofia e Cristiano Palha, no romance “Quincas Borba”. Através de uma narrativa por vezes cruel, Machado de Assis desenvolve uma trama em que heroísmo e nobreza de caráter pouco valem, mas somente aquilo que é imprescindível para obter o sucesso desejado, e que pode ser resumido na filosofia do Humanitismo. Eis o fundamental: o “filósofo” Quincas Borba imagina uma situação em que duas tribos famintas entram em guerra por uma plantação de batatas, insuficiente para alimentar as duas tribos, que precisam estar bem nutridas, para transpor a montanha e chegar a um campo onde há batatas em abundância. Quem vence a guerra fica com as batatas e sobrevive, já que a paz significa a extinção das duas tribos. No fim vigora o princípio do Humanitas, ao qual não se reduz à máxima do mais forte vence e extermina o mais fraco, e, sim, do triunfo e da conservação da vida. Daí o júbilo da vitória, hinos, aclamações e recompensas públicas, de que fala Quincas Borba. “Ao vencedor, as batatas”, grita Rubião, em um misto de loucura e desespero, depois de perder tudo. Aos vencidos, resta-lhes ódio ou compaixão. Ainda que do ponto de vista ético isto possa parecer chocante, a realidade prova todos os dias a validade do princípio Humanitas. Sem dúvida, tal visão pessimista faria de Quincas Borba um Arthur Schopenhauer dos trópicos. Porém, esta afirmação enseja muitos problemas e merece algumas considerações críticas. Neste sentido, sabendo-se que Machado de Assis era leitor de Schopenhauer, indaga-se qual é o sentido da filosofia schopenhaueriana em Machado de Assis, notadamente o Humanitismo, e qual é a sua real extensão na obra machadiana.

Schopenhauer fora do lugar

Roberto Schwarz em seu livro “Ao vencedor as batatas” sustenta que, ao mesmo tempo em que o Brasil recebia uma forte influência no plano das ideias sob os avanços do capitalismo industrial e de sua superestrutura liberal e iluminista, a sociedade brasileira estava moldada pelo modo de produção escravista e pelo latifúndio agroexportador. Na verdade, os ideais da livre concorrência e dos princípios burgueses de igualdade e liberdade jurídica brotavam justa e contraditoriamente desta realidade social e econômica escravocrata. Assim sendo, foram curiosamente os princípios das revoluções norte-americana e francesa que deram os subsídios dos matizes ideológicos da Independência do Brasil, na qual, socialmente, em nada alterou sua estrutura colonial. De certa forma, Schwarz explica uma certa inevitabilidade deste aparente dualismo, pois o latifúndio era fornecedor de matéria-prima, no caso o café, ao mercado externo, e por isso mantinha relações de dependência ao centro do sistema econômico, o que impossibilitava um isolamento completo ao universo cultural das metrópoles. No fundo, o que ligava o Brasil à Europa, e vice-versa, era o lucro. No velho mundo, a servidão estava extinta, mas sob o aparato ideológico do moderno Estado de direito e das economias liberais, o proletariado branco era submetido a mais vil exploração, para a obtenção da mais-valia pelos industriais, algo que também era repudiado pelos latifundiários brasileiros.

No Brasil, portanto, apesar das contradições evidentes, a sociedade absorvia a atmosfera cultural europeia e as reproduzia. Segundo Schwarz, a chave para entender esta absorção estava numa classe intermediária aparentemente residual. Em suas palavras:

“Para descrevê-la é preciso retomar o país como todo. Esquematizando, pode-se dizer que a colonização produziu, com base no monopólio da terra, três classes de população: o latifundiário, o escravo e o “homem livre”, na verdade dependente. Entre os primeiros dois a relação é clara, é a multidão dos terceiros que nos interessa. Nem proprietários nem proletários, seu acesso à vida social e a seus bens depende materialmente do favor, indireto ou direto, de um grande. O agregado é a sua caricatura. O favor é, portanto, o mecanismo através do qual se reproduz uma das grandes classes da sociedade, envolvendo também outra, a dos que não têm. Nota-se ainda que entre estas duas classes é que irá acontecer a vida ideológica, regida, em consequência por este mesmo mecanismo” (SCHWARZ, 2000a, p. 16).

É num contexto de modernização conservadora que o favor penetrará em todos os setores da sociedade, até mesmo determinando aquelas instituições que deveriam ser pautadas pela isenção e racionalidade, como a burocracia e a justiça, naquilo se convencionou também chamar de clientelismo. Por detrás dos ideais do mérito e da moral do trabalho vigoravam o compadrio, as relações pessoais, de amizade e parentesco, os conchavos políticos etc., e que de certa forma ainda permeiam as instituições brasileiras até os dias atuais. No Brasil, o moderno está intrinsecamente misturado com o arcaico; mas não só isso: justamente as concepções modernas é que legitimam seu fundamento arcaico.

“Adotadas as ideias e razões europeias, elas podiam servir e muitas vezes serviram de justificação, nominalmente “objetiva”, para o momento de arbítrio que é da natureza do favor. Sem prejuízo de existir, o antagonismo se desfaz em fumaça e os incompatíveis saem de mãos dadas. Esta recomposição é capital” (Idem, p. 18).

Evidentemente, a literatura brasileira vai refletir a realidade social do país e, tal como ocorreu com os ideais liberais burgueses, importar modelos literários europeus, muito embora toda a trama narrativa continue a girar em torno do favor. Machado de Assis será mestre em denunciar, sem alarde e muito sutilmente, através da ironia, este descompasso, com narrativas que em si mesmas desmancham o verniz racional forasteiro e que trazem à tona, das recônditas profundezas do cotidiano provinciano, todas as relações sociais movidas pela lógica do favor.

Schopenhauer versus Quincas Borba

Como se sabe, Machado de Assis era leitor, dentre muitos outros filósofos, de Arthur Schopenhauer. O filósofo pessimista é inclusive citado por Machado de Assis numa crônica intitulada “O autor de si mesmo: Numa crônica de jornal, a tese schopenhaueriana da metafísica do amor é ilustrada por um caso policial”, que fora publicada no periódico “Gazeta de Notícias” no ano de 1895. Nesta crônica, o próprio Schopenhauer aparece, hipoteticamente, em pessoa na cidade de Porto Alegre! Segundo Rosa Maria Dias:

“Tal como Schopenhauer, Machado pôs em cena o grande drama da existência humana. Sistematizou no ‘Autor de si mesmo’ sua visão pessimista da vida. Os seres humanos estão condenados à infelicidade, não só porque são títeres de uma força inconsciente e instintiva, mas porque a estrutura inata do afeto impede de maneira inerente a aquisição da felicidade” (DIAS, 2005, p 392).

A filosofia schopenhaueriana nasce da crítica devastadora de Schopenhauer ao seu mestre Immanuel Kant. Em Kant, é bem conhecida a cisão entre coisa-em-si, metafísica não acessível ao conhecimento, e fenômeno, objeto constituído pelo sujeito a partir da experiência e das condições subjetivas do conhecimento. Da filosofia de Kant, Schopenhauer, ao contrário de seus contemporâneos, preservou a coisa-em-si, identificando-a como vontade, princípio uno, eterno e universal. Quanto aos fenômenos, para Schopenhauer, são apenas representações subjetivas e individuais da vontade no tempo e espaço. Ou seja, o que de fato é real, único e imutável é a vontade; enquanto o fenômeno não é mais que aparência da vontade ou, nos termos do filósofo, seu Véu de Maia (véu das ilusões).

A vontade, que não tem nenhum fim determinado, é perceptível em todas as coisas como querer-viver. O querer-viver submete tudo a uma servidão infinita, que, no entanto, aparece como ilusória vontade individual. Todas as coisas na natureza estão em uma luta voraz e perpétua para subsistir e suprir necessidades relativas à existência. Luta-se numa guerra de todos contra todos, por riqueza e honra, comida, paz, em suma, por felicidade. Mas a felicidade é também ilusão, pois um desejo sempre ou traz sofrimento, caso não seja realizado, ou saciedade e tédio, quando alcança seu fim. No fim das contas, todos os caminhos conduzem ao sofrimento, que se intensifica ainda mais com a consciência. Vivemos e sofremos sem saber por quê, e, no entanto, continuamos a querer, a desejar e, consequentemente, sofrer, tal qual uma roda a girar eternamente.

Feitas estas breves considerações sobre a filosofia de Schopenhauer, tracemos algumas comparações entre o Humanitismo de Quincas Borba e alguns fragmentos de “O mundo como vontade e representação”, obra capital de Schopenhauer, à maneira de um diálogo socrático:

QUINCAS BORBA: Bem, irás entendendo aos poucos a minha filosofia; no dia em que a houveres penetrado inteiramente, ah! nesse dia terás o maior prazer da vida, porque não há vinho que embriague como a verdade. Crê-me, o Humanitismo é o remate das coisas; e eu, que o formulei, sou o maior homem do mundo. Olha, vês como o meu bom Quincas Borba está olhando para mim? Não é ele, é Humanitas...

SCHOPENHAUER: Portanto, enquanto reconhecemos neste animal a sua ideia, é totalmente indiferente e sem significado o termos diante de nós agora este animal, ou seus ancestral de um milênio, que o local seja este ou num país distante, que se apresente desta ou daquela maneira, posição ou ação, que finalmente seja este ou aquele indivíduo de sua espécie: isto tudo não existe e refere-se somente ao fenômeno: unicamente a ideia do animal possui verdadeira e é objeto de conhecimento real. (p. 24).

QUINCAS BORBA: Humanitas é o principio. Há nas coisas todas certa substância recôndita e idêntica, um princípio único, universal, eterno, comum, indivisível e indestrutível, — ou, para usar a linguagem do grande Camões:

Uma verdade que nas coisas anda,
Que mora no visíbil e invisíbil.

Pois essa sustância ou verdade, esse princípio indestrutível é que é Humanitas. Assim lhe chamo, porque resume o universo, e o universo é o homem. Vais entendendo?

SCHOPENHAUER: Ele recolhe portanto a natureza em si mesmo, a senti-la somente como um acidente de seu próprio ser. Neste sentido Byron diz:

Are not the mountains, waves and skies, a part
Of me and of my soul, as I of them?[1]

Mas como poderia quem isto sentisse considerar-se a si mesmo, em contraste com a imperecível natureza, como absolutamente perecível? (p. 32)

A vontade é o em-si da ideia, esta objetivando perfeitamente aquela; ela também é o em-si da coisa individual e do indivíduo que conhece esta; estes objetivando imperfeitamente aquela. Como vontade, fora da representação e de todas as suas formas, ela é uma e a mesma, no objeto contemplado, e no indivíduo que, elevando-se por esta contemplação, se torna consciente de si como puro sujeito, estes dois por isto são em si diferenciáveis, pois em si são a vontade que se conheci a si mesma, e é somente do modo pelo qual este conhecimento se lhe constitui, i.e., somente no fenômeno, graças à sua forma, o princípio da razão, multiplicidade e diversidade. Tampouco eu, sem objeto, sem representação, sou sujeito que conhece, mas tão somente simples vontade cega; tampouco sem mim, como sujeito do conhecimento, a coisa conhecida é objeto, mas tão somente simples vontade, ímpeto cego. Esta vontade é em si, i.e., fora da representação, idêntica a minha própria; somente no mundo como representação, cuja forma é sempre pelo sujeito e objeto, nos separamos como individuo conhecido e conhecedor. Suprindo o conhecedor, o mundo como representação, nada resta além de simples vontade, ímpeto cego. (p.32).

QUINCAS BORBA: Não há morte. O encontro de ditas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum.

SCHOPENHAUER: Unicamente a vontade é: ela, a coisa-em-si, ela, a fonte daqueles fenômenos. (p. 33).

QUINCAS BORBA: Não há exterminado. Desaparece o fenômeno; a substância é a mesma. Nunca viste ferver água? Hás de lembrar-te que as bolhas fazem-se e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma água. Os indivíduos são essas bolhas transitórias.

SCHOPENHAUER: Nas variadas formações da vida humana e na incessante transformação dos acontecimentos, ele considerará o durável e essencial somente a ideia, em que o querer-viver possui sua mais perfeita objetividade, e mostra suas diversas faces nas propriedades, paixões, enganos e preferência da espécie humana, no egoísmo, ódio, amor, temor, audácia, leviandade, estupidez, esperteza, humor, gênio etc., que, se reunindo e combinando em configurações mil (indivíduos), apresentam continuadamente a grande e a pequena comédia da história do mundo, sendo indiferente se seu móvel é constituído por nozes ou coroas. (p. 34).

QUINCAS BORBA: Bolha não tem opinião. Aparentemente, há nada mais contristador que uma dessas terríveis pestes que devastam um ponto do globo? E, todavia, esse suposto mal é um benefício, não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistência, como porque dá lugar à observação, à descoberta da droga curativa. A higiene é filha de podridões seculares; devemo-la a milhões de corrompidos e infectos. Nada se perde, tudo é ganho. Repito. as bolhas ficam na água. Vês este livro? É Dom Quixote. Se eu destruir o meu exemplar, não elimino a obra, que continua eterna nos exemplares subsistentes e nas edições posteriores. Eterna e bela, belamente eterna, como este mundo divino e supradivino.

SCHOPENHAUER: Todo querer se origina da necessidade, portanto, da carência, do sofrimento. A satisfação lhe põe um termo, ma para cada desejo satisfeito, dez permanecem irrealizados. Além disso, o desejo é duradouro, as exigências se prolongam ao infinito; a satisfação é curta e de medida escassa. (p. 46)

Contrariamente, por outro lado, todo fenômeno de uma ideia, já que como tal é assumida na forma do princípio da razão, ou do principium individuationis, deve-se apresentar na matéria como qualidade da mesma. Nesta medida, portanto, a matéria é o elo entre a ideia e o principium individuationis, que é forma do conhecimento do indivíduo, ou o princípio de razão. (p. 63)

A designação de diálogo socrático não é por acaso, muito embora a semelhança entre as duas concepções filosóficas sugerisse uma afinidade de princípios. Na verdade, ainda que unidas pela solidariedade de suas teses, Machado de Assis subverte a filosofia da vontade não para provar o contrário, mas para aprofundar sua visão pessimista, numa tensão que só pode ser resolvida pela ironia.

“No delírio de Brás Cubas e na teoria do Humanitismo, fica evidente a visão do processo histórico que norteia a narrativa machadiana: a existência humana presa no imutável fogo do desejo, caos de aflição, dissimuladas atrás de motivos falsamente nobres, mas que nada mais são do que vontade cega, egoísta. No entanto, ao incorporar o pessimismo de Schopenhauer, Machado de Assis se apropria dos conteúdos filosóficos e os retrabalha no interior do universo ficcional: como observou Benedito Nunes [“Machado de Assis e a filosofia”], ri da filosofia, a recondiciona e a submete a um tratamento crivado pelo humor” (FIGUEIREDO, 2008, p. 87).

CONCLUSÃO

Como se pode perceber, há um tom jocoso no Humanitismo de Quincas Borba que não é senão uma paródia da filosofia de Schopenhauer. Para definir o conceito de Humanitas, a “vontade” do Humanitismo, Quincas Borba simplesmente estabelece o princípio de que “Humanitas tem fome e Humanitas (e isto importa, antes de tudo) Humanitas precisa comer” e lá se vai toda metafísica schopenhauriana por água abaixo. Aliás, tal princípio é diretamente extraído do olhar do cão Quincas Borba que é a verdadeira fonte da filosofia propugnada pelo seu dono de mesmo nome. Em seguida, Machado de Assis escreve, nas palavras de Quincas Borba a Rubião, que “Humanitas é o princípio. Mas não, não digo nada, tu não és capaz de entender isto, meu caro Rubião; falemos de outra coisa”, satirizando, com isso, claramente o esforço dos filósofos em criar complexas e obscuras teorias para, no fundo, não dizerem mais do que obviedades ou apenas absurdos. No Humanitismo, de Quincas Borba, a filosofia desce das nuvens dos seus áureos conceitos para as situações mais baixas, estapafúrdias, trágicas ou mesmo ridículas do cotidiano. Para Machado de Assis, a vida é tão sem sentido, tão absurda em si mesma, que não cabe o discurso sério da filosofia para tocar o seu âmago (se é que isto importa), mas o humor corrosivo que não se quer mostrar como humor apesar de estar presente o tempo todo. Neste cenário desolador, Machado de Assis só pode zombar dos filósofos. “Crê-me, o Humanitismo é o remate das coisas; e eu, que o formulei, sou o maior homem do mundo”, poderia ter dito Schopenhauer quando de sua visita imaginária a Porto Alegre. Na verdade, Machado de Assis faz uma piada à qual nem ele próprio pode escapar.

“Não creias nos professores de filosofia, nem na peste de Hegel...”

BIBLIOGRAFIA

DIAS, Rosa Maria. “O autor de si mesmo: Machado de Assis leitor de Schopenhauer”. In: Revista Kriterion. Belo Horizonte: Departamento de Filosofia da UFMG, nº 112, 2005.

FIGUEIREDO, Vera Lúcia Follain. “A morte em Memórias póstumas de Brás Cubas” in: Crônicas da antiga corte: Literatura e memória em Machado de Assis (Org.: Marli Fantini), Belo Horizonte, Editora UFMG, 2008.

SCHOPENHAUER, Arthur. “O mundo como vontade e representação”, in: Os Pensadores, São Paulo: Nova Cultura, 1999.

SCHWARZ, Roberto. “Ao vencedor as batatas”, São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2000a (5ª. edição).

SCHWARZ, Roberto. “Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis”, São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2000b (4ª. edição).




[1] Não são as montanhas, ondas e nuvens, como uma parte/De mim e de minha alma, como eu para eles?

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