Os
fatos prodigiosos acerca do nascimento de Buda – como ter nascido do flanco
direito de sua mãe, a rainha Maya, depois de ela ter sido visitada por um
elefantinho branco descido do céu, e o recém-nascido ter dito: “eu sou o senhor
do mundo” – são incertos. Aliás, toda a vida de Buda está envolta em mistérios
e lendas. Não é à toa, pois constam 577 biografias de Buda referentes às suas
reencarnações anteriores e posteriores ao século VI a.C., período no qual viveu
Sidarta Gautama.
Sidarta
nasceu por volta do ano 556 a.C., em Kapilavastu, capital de um pequeno reino
próximo do Himalaia, território atualmente pertencente ao Nepal. Filho do rei
Suddhodana, rico chefe do clã xátria da tribo Sakya, este foi aconselhado a
manter o jovem Sidarta isolado do mundo, enclausurado no palácio, entre comodidades
e luxo, e recebendo instrução aristocrática para governar. Alheio à vida
exterior, sob o teto da casa paterna, se casou aos 19 anos com uma prima, e
tendo com ela um filho, Rahula, o Desejado.
Desobedecendo
as ordens do pai, Sidarta atravessa os muros do palácio e descobre estarrecido
a pobreza em que os súditos vivem. O mundo estava muito longe do esplendor
palaciano. Assim, pela primeira vez, fora de sua concha, teve contato com a
dor. Mas até mesmo a opulência do palácio era enganadora, rodeado de
bajuladores e, evidentemente, traidores, em que estava. Sidarta passa então a
fazer considerações sobre a miséria humana e medita sobre a dor que acompanha o
ser humano desde o seu nascimento num mundo de aparências. Desgostoso da vida,
abandona a mulher e o filho para errar como um asceta mendigo pelo mundo a
procura da salvação.
Seis
anos depois, tido como santo pelo povo, vive enfurnado numa caverna, meditando
na busca do Atman, o mar interior e eterno. Sidarta buscava atingir o êxtase,
isto é, o estado de espírito em que, num momento de revelação, pode se
contemplar a certeza absoluta, que não necessita de demonstração racional, de que
o tempo, a variedade do mundo, o bem e o mal são ilusões, e que, por detrás das
aparências, existe um mundo imutável e único. Sob orientação dos brâmanes,
vivenciou um longo período de jejum e penitência, tendo a saúde bastante
debilitada. Apesar disto, não conseguiu a desejada revelação sobre os problemas
relativos à dor, pois o grande problema era como escapar do ciclo das
reencarnações.
Entre
532 a 533, renunciou o ascetismo, abandonando o ioga, a penitencia do corpo e adotando
uma dieta conveniente. O mundo religioso se mostrou para ele tão ilusório
quanto o mundano. Diante disso, os cinco discípulos que o acompanhavam,
escandalizados, o abandonaram.
Durante
uma noite, Sidarta enfim obteve a iluminação (revelação), enquanto lutava com
as ilusões que o demônio Mara produzia em seu espírito. Sua compreensão da
natureza das coisas, o seu “despertar”, que o tornou Buda, o Iluminado, no entanto, não se deu através
de um estado de êxtase, e, sim, através de seus próprios esforços filósofos.
Após
meditar debaixo de uma figueira, procurou os cinco discípulos que o abandonaram
e anunciou sua descoberta: é possível quebrar as novas reencarnações e escapar
dos sofrimentos do mundo.
Buda
formulou a sua doutrina, que é um conjunto religioso e filosófico, como um
veículo que transporta os seus seguidores para a santidade e a libertação da
dor. Libertação essa que se obtém eliminando de nós todos os desejos. Os
desejos, de fato, são a fonte principal das preocupações e, portanto, da dor.
Quando
os laços do desejo forem rompidos, será o fim da própria ilusão do eu. Haverá apenas
o Nirvana, o verdadeiro conhecimento. Sidarta nunca explicou, no entanto, o que
é o Nirvana. Dizia que era algo para ser experimentado e não podia ser expresso
em palavras.
Aos
monges que o ouviram, Buda resumiu as ideias em quatro pontos – “Quatro Nobres
Verdades”:
1
– Tudo é dor;
2
– A dor nasce do desejo;
3
– A dor cessa com a extinção do desejo;
4
– Para obter o fim do desejo é preciso seguir o caminho dos Oito Passos.
Primeiro
passo: a compreensão perfeita por meio do estudo da doutrina budista.
Segundo
passo: a aspiração perfeita, que se deve obter na intenção de perseverar o
caminho budista, e assim alcançar a iluminação espiritual.
Terceiro
passo: a fala perfeita, na qual se deve falar de modo verdadeiro, educado,
agradável e sereno.
Quarto
passo: a conduta perfeita, ou seja, seguir os cinco mandamentos budistas: não
matar, não roubar, não cometer adultério, não mentir e não consumir substâncias
tóxicas.
Quinto
passo: o meio perfeito de subsistência, que é uma conduta de vida que não provoque
ofensa à doutrina budista.
Sexto
passo: o esforço perfeito para melhorar a personalidade e comportamento conforme
os ideais budistas.
Sétimo
passo: a atenção perfeita do pensamento procurando verificar erros de conduta.
Oitavo
passo: a contemplação perfeita sobre os ensinamentos do budismo.
Para
chegar à libertação, existem dois caminhos:
O
pequeno veículo liberta só uns poucos,
que se dedicam a vida monástica.
O
grande veículo diz respeito à
salvação universal, em que todas as pessoas podem se tornar um Buda, isto é,
iluminado, sem recorrer à vida monástica.
A
doutrina budista compreende também um decálogo, fundamentado nos Oito Passos,
que os monges devem observar integralmente e que os leigos podem seguir apenas
os cinco primeiros:
1
– Não matar nenhum ser vivo;
2
– Não roubar;
3
– Não cometer adultério;
4
– Não mentir;
5
– Não beber substâncias alcoólicas;
6
– Não tomar qualquer alimento, além da refeição do meio-dia;
7
– Evitar os espetáculos mundanos;
8
– Não ornamentar nem perfumar o corpo;
9
– Evitar os leitos macios ou elevados do chão;
10
– Viver em constante pobreza.
Tal
qual o hinduísmo, o budismo prega a reencarnação das almas de um ser vivo para
outro até a purificação completa quando, depois da última reencarnação, o espírito
passa para o Nirvana.
Inversamente
ao hinduísmo, porém, nega a existência de um Deus Criador, porque, segundo a
doutrina budista, o mundo surge e se desenvolve pela própria vontade (panteísmo),
negando também o valor do culto sacrificial.
Restritos
a apenas uma refeição por dia, os monges são obrigados à castidade total, à
fuga dos prazeres e à pobreza absoluta. Devem apenas a se ocupar do estudo dos
textos antigos e das orações, feitas à base de fórmulas, às vezes, mágicas, e
das ladainhas.